Documentário com imagens falsas relata heroico 1º ouro brasileiro com arma emprestada dos EUA
Bruno Freitas
Do UOL, em São Paulo
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Reprodução
Filme de José Roberto Torero relata a aventura de primeiros medalhistas brasileiros em 1920
O sucesso do Brasil em Olimpíadas começou através de um revólver Colt, emprestado por norte-americanos, no longínquo ano de 1920, em Antuérpia. Apoiado em recursos de ficção e fantasia, um documentário recentemente lançado conta esta história pouco conhecida sobre os primeiros atletas do país que conseguiram medalhas no evento, em façanha que tem símbolo na imagem do tenente-coronel Guilherme Paraense.
UMA PRÉVIA DO FILME
Assinado pelo jornalista e escritor José Roberto Torero, o documentário "Ouro, Prata, Bronze... e Chumbo!" relata passo a passo a aventura dos brasileiros da equipe de tiro na rocambolesca viagem de navio e trem até a Bélgica, pontuada por dificuldades diversas.
Sem dispor de material ilustrativo em abundância, o diretor Torero optou por um roteiro com narrativa de semificção, apresentando a história de Paraense e companhia como se fosse um registro hipoteticamente filmado por um dos integrantes da missão olímpica brasileira.
"É um falso documentário mesmo, fizemos com atores. Fizemos um dos integrantes filmando, como se fosse com uma dessas câmeras de hoje em dia. Decidi dar a câmera na mão do Fernando Soledade, que era o personagem que menos informação eu consegui levantar", relata Torero sobre o filme de 26 minutos.
Para executar o projeto, o cineasta contou com um trabalho de pesquisa em jornais da época e com o contato com familiares dos atletas. "Consegui falar com o Flávio Wolf, neto do Sebastião Wolf. Ele foi meu professor de literatura na USP, uma coincidência absurda", diz o diretor sobre a entrevista com parente de um dos atiradores.
QUEM SÃO OS PRIMEIROS HERÓIS OLÍMPICOS BRASILEIROS
O Brasil viajou para a disputa dos Jogos de Antuérpia em 1920 com delegação de 25 atletas: saltos ornamentais (1), tiro ao alvo (7), remo (5), polo aquático (7) e natação (5).
Além de Paraense, o time de tiro contava com Afrânio Antônio da Costa, Sebastião Wolf, Fernando Soledade, Mário Machado Maurity, Demerval Peixoto e Mário Barbosa.
SOBRE GUILHERME PARAENSE
O primeiro medalhista de ouro do Brasil em Olimpíadas nasceu em Belém em 25 de junho de 1884 e morreu no Rio de Janeiro em abril de 1968. No Exército brasileiro, Guilherme Paraense chegou à patente de tenente-coronel em 1941 e em seguida se reformou. Na condição de tenente, durante a década de 1910, foi campeão brasileiro da modalidade de tiro com revólver. |
"Era uma formação heterogênea, com o Paraense, que era um militar baixinho nascido no Pará, mas morava no Rio. Tinha ainda um médico, Fernando Soledade, o Wolf, que era um alemão de 51 anos, gordão, parecia o Bussunda em fotos, e o Mário Barbosa, um médico do Rio Grande do Sul", afirma o diretor do documentário.
Os brasileiros embarcaram para a Europa em 1º de julho no navio Curvelo, mas acabaram posicionados na terceira classe, apesar de comprarem passagens para a área mais nobre da embarcação.
Durante uma parada em Portugal, o comandante do navio informou que o Curvelo chegaria em Antuérpia apenas no dia 5 de agosto, já posteriormente ao início das competições de tiro, agendadas para 22 de julho. Assim, o chefe da delegação brasileira decidiu que os atletas desembarcariam em Lisboa e seguiriam por terra até a Bélgica, passando por Paris e Bruxelas.
"Foi uma odisseia até chegar em Antuérpia. E mesmo lá foram só peripécias, uma história aventurosa", conta Torero sobre a atração pelo tema.
AMERICANOS EMPRESTAM COLT QUE DARIA 3 MEDALHAS AO BRASIL
Após terem munições e alvos roubados na passagem por Bruxelas, os brasileiros começam a competir com Fernando Soledade, que não consegue um bom resultado com a arma que a delegação havia transportado até a Europa.
Em um tempo em que o decantado espírito olímpico era mais facilmente reconhecido, um representante da delegação dos Estados Unidos ofereceu uma arma melhor para a equipe brasileira competir. Então, com um modelo Colt cedido pelo coronel Snyders, Afrânio Antônio Costa ganha a prata na disputa da pistola a 50 metros. No mesmo dia, o Brasil conquista o bronze na disputa por equipes.
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Escritor e jornalista José Roberto Torero assina a direção do filme "Ouro, Prata, Bronze... e Chumbo!"
Em 3 de agosto, Guilherme Paraense empunhou o revolver 38 emprestado pelos norte-americanos e venceu a disputa de 30 metros em pé, com 274 dos 300 pontos possíveis, derrotando o representante dos Estados Unidos (Raymond C. Bracken) por margem de apenas dois pontos.
PROJETO OLÍMPICO CONTA COM MAIS OITO FILMES
O filme sobre os brasileiros do tiro de 1920 integra a série do programa "Petrobras Esporte & Cidadania", que incentiva cineastas em produção de obras com temática olímpica. A seleção de trabalhos foi pública e contemplou nove documentários com R$ 230 mil cada um (no total foram investidos R$ 2 milhões em recursos).
Nove finalistas foram escolhidos entre 26 apresentações finalistas. Além do projeto de José Roberto Torero, outros oito candidatos enviaram propostas para filmar especificamente a saga de Guilherme Paraense e da turma do tiro.
Os documentários olímpicos do projeto da Petrobras serão exibidos durante três dias no final do mês na Cinemateca Brasileira, em São Paulo. A sessão de "Ouro, Prata, Bronze... e Chumbo!" está prevista para 21 de julho, às 18h30.
Diretor do filme sobre os heróis brasileiros de Antuérpia, Torero foi indicado ao Oscar em 2001 pelo curta-metragem "Uma história de futebol", obra que fala sobre a infância de Pelé em Bauru.