Vaidade e vontade de aparecer fazem Ronald Julião se aventurar no atletismo

José Ricardo Leite

Do UOL, em São Paulo

  • Nacho Doce/Reuters

    Ronald Julião realiza treinamento no lançamento de disco

    Ronald Julião realiza treinamento no lançamento de disco

Ele nunca gostou de esportes, sempre foi vaidoso e quis ser famoso e reverenciado. Mas acabou por cair quase que de paraquedas no atletismo e vai representar o Brasil nos Jogos Olímpicos de Londres em uma modalidade em que o país não mandava um atleta há 88 anos.

Ronald Julião, hoje com 27 anos, só foi parar no lançamento de disco depois de estremecer a trave ao tentar um gol em um jogo de handebol na educação física. E esta matéria na escola não era das preferidas, tanto que costumava faltar das aulas e só foi em algumas delas por insistência do irmão, que sempre sonhou ser atleta.

A força no braço para praticar o tiro ao gol chamou a atenção da árbitra da partida, que chamou o Ronald, então com 13 anos, para fazer um teste em uma equipe de atletismo. E lá acabou por permanecer.

TRAVE ESTREMECIDA RENDEU CONVITE

  • Ronald foi convidado a treinar lançamento depois de forte tiro ao gol no handebol


“Foi por acaso. Eu estava na educação física, em um jogo de handebol, e quando lancei uma bola para o gol, a trave estremeceu. Aí o pessoal começou a falar que eu tinha força para fazer arremessos. Até então eu nem conhecia o esporte.  Ela [treinadora que apitava o jogo] disse que eu era alto, magro e tinha muita força. Depois, meu professor falou que eu poderia ser atleta. Pensei ´claro que eu quero´. E também queria morar fora de casa”, contou Julião ao UOL Esporte.

Ronald confessa que para aceitar a chance pesou mais o fato de poder se tornar uma pessoa conhecida do que realmente por interesse no esporte. Desde pequeno sempre quis ser o famoso da escola e chegou até a fazer uma aula de teatro. Depois, teve que deixar de lado esta atividade, já que o atletismo era uma oportunidade mais garantida.

“Isso, aceitei porque eu sempre quis ser famoso, conhecido e ter coisas. Sempre quis ser conhecido. E de repente vi essa chance e pensei ´vou ser importante´, então eu aceitei na hora, e o primeiro objetivo foi esse. E depois fui criando objetivos no atletismo.”

O objetivo foi alcançado em seu núcleo escolar após aceitar o convite para treinar atletismo. Mas durou pouco. “Eu virei o cara diferente. Falavam ´nossa, ele que faz aquilo com a bola pesada´. Eu virei estrela,  era o que eu mais queria. Mas em questão de cinco meses eu não estava mais lá. Fiquei famoso na escola. Foi muito bom.”

O desejo por ser holofote é refletido nos trejeitos para ficar bonito na hora de competir e após as provas. Ronald diz não ser metrossexual, mas admite ser vaidoso. “Eu acredito que eu sou [vaidoso]. Uso brinco, dou um jeitinho no cabelo. Eu acho que sou vaidoso. Aparo os pelos do corpo, sou vaidoso sim. Tem que tentar melhorar um pouco a imagem, já que depois da prova tem que tirar fotos. Eu quero estar bem. O povo vai me entrevistar depois. É bom estar bonitinho”, falou.

Julião diz que seu gosto em ser evidência ajudará na participação de seus primeiros Jogos Olímpicos. Nada de sentir pressão ou ficar intimidado ao competir no estádio olímpico lotado. Pelo contrário. É ali a hora de crescer.

“Estou feliz, contente e empolgado. Muita gente fala que mídia atrapalha. Eu gosto, sempre quis isso. Pra mim não faz nenhum mal. Gosto de torcida. Terá muitas pessoas lá. Não vou tremer. Gosto de plateia, palmas, câmera. Acho que tenho vantagem nessa questão. Não é uma coisa que me assusta. Não tenho vergonha, não me sinto intimidado. Em tudo na vida tem pressão. Estou é animado. Em 2016 vou ter mais experiência [após participar em Londres]. Estou empolgadão”, falou.

Ronald diz não ter dúvidas de que o lançamento de disco foi a escolha certa para ser evidência. Trouxe tudo que ele queria. Diz ter fãs e ser fonte de inspiração.

“Sempre tive personalidade. Nunca fui Maria vai com as outras. Sempre quis fazer a minha história. Nunca quis parecer com ninguém. Agora está sendo isso. Sou quase um pioneiro. Tenho vários fãs que perguntam o que fazer pra ser igual a mim. As pessoas estão querendo me imitar. E eu gosto. É bom”, finalizou.

UOL Cursos Online

Todos os cursos