Wlamir diz que Hortência "fala muita besteira" e sugere visita de campeões à equipe de Magnano
Bruno Freitas
Do UOL, em São Paulo
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Folhapress e Divulgação
Wlamir Marques em foto dos tempos de jogador e, em destaque, em imagem mais recente
O fã de basquete que acompanhar a Olimpíada deste ano pela televisão terá a oportunidade de apoiar sua torcida nas observações de Wlamir Marques, que mais uma vez estará nos comentários dos canais ESPN, desde os estúdios do Brasil. Mas, a pouco menos de dois meses dos Jogos de Londres, o dono do currículo mais vistoso deste esporte no país já sustenta convicções sólidas e contundentes sobre a realidade de preparação das seleções masculina e feminina.
Em entrevista ao UOL Esporte, o bicampeão mundial e duas vezes bronze olímpico critica a atuação de Hortência como diretora da equipe das mulheres e ainda anuncia que pretende reunir vencedores do passado para uma visita de apoio ao time dos homens, comandado por Rubén Magnano.
O ídolo do basquete nacional também oferece impressões positivas sobre o trabalho do técnico argentino da seleção masculina, de estilo de trabalho a escolhas estratégicas. Da condição de analista, o ex-atleta de 74 anos ainda dispara contra o basquete individualista dos playoffs da NBA, com aversão particular ao que chama de jogo sem organização do badalado Miami Heat de LeBron James.
"HORTÊNCIA FALA MUITA BESTEIRA"
Na última semana, em entrevista ao programa do ex-jogador Neto nos estúdios do UOL, a diretora da seleção feminina Hortência expôs o desgaste de relacionamento entre a CBB [Confederação Brasileira de Basquete] e a Eletrobras, patrocinadora oficial da entidade. A cartola reclamou publicamente de atraso de repasses financeiros da estatal e protestou contra o que diz interpretar como ingerência da parceira.
Na avaliação de Wlamir Marques, a opção de tornar pública a questão é desnecessária. O ex-jogador ainda critica o que chama de exageros no estilo de gestão da antiga estrela da seleção feminina, também uma campeã mundial nas quadras.
"A declaração da Hortência sobre a Eletrobras foi estapafúrdia", afirma Wlamir.
"Ela não é má, mas fala muito besteira, fala o que não deve, coisas que devem ser tratadas particularmente, somente com a diretoria. Ela é um prato cheio para a imprensa. Quem quer ter uma bomba na mão fala com ela. É só saber explorar".
"Existem alguns ex-jogadores que pensam que ainda estão no pódio, querem se mostrar, aparecer. É aquela coisa: falem mal, mas falem de mim. Ainda estão recebendo medalha, não veem que faz tempo que isso aconteceu. Ela tem que atuar mais e falar menos", conclui o bicampeão mundial.
WLAMIR SUGERE VISITA DE CAMPEÕES A TIME DE MAGNANO
Quase cinco décadas depois de conquistar o bicampeonato mundial pela seleção, Wlamir Marques segue ligado ao esporte que o consagrou como atleta, atuando como professor e comentarista de televisão. Por essas e outras, diz entender que ainda tem o que oferecer à seleção nacional.
WLAMIR PELA SELEÇÃO
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OLIMPÍADAS 6º lugar em Melbourne (1956) Bronze em Roma (1960) Bronze em Tóquio (1964) 4º lugar em Cidade do México (1968) |
MUNDIAL Vice-campeão (Brasil – 1954) Campeão (Chile – 1959) Campeão (Brasil - 1963) Vice-campeão (Iugoslávia – 1970) |
O ex-jogador afirma que, no passado, não encontrou portas abertas de intercâmbio com a geração de Oscar Schmitd, mas anuncia que antes da próxima Olimpíada tentará se comunicar com o time de Nenê, Leandrinho e companhia. A ideia é reunir nomes como Amaury Pasos, Mosquito, Menon e Succar para esta missão.
"Os ex-jogadores não são utilizados, são muito esquecidos", diz Wlamir, que espera uma brecha na conhecida austeridade de trabalho do técnico Rubén Magnano para poder assistir a treinos e conversar com os jogadores.
"Mas eu vou propor isso a CBB, ao Carlinhos Nunes [presidente da entidade]. Vou fazer um pedido para que todos os medalhistas olímpicos e todos os campeões mundiais vivos possam fazer uma visita a eles. Bater um papo, dar força, tirar esse estigma de que uma geração não se dá com a outra. Isso acontecia com a geração do Oscar, que brigava com a minha, existia um mal-estar", emenda.
APOIO À OPÇÃO DE USAR O AMERICANO TAYLOR NA SELEÇÃO
Questionado sobre as chances da seleção masculina em Londres, na volta do time ao ambiente olímpico depois de 16 anos, Wlamir Marques prefere a cautela. O ex-jogador diz que uma análise mais precisa poderá ser feita apenas com a definição das equipes classificadas no Pré-Olímpico mundial e também frisa a interferência do imponderável das lesões [o pivô Rafael Hettsheimeir já foi descartado em razão de problema de joelho].
"Estar na Olimpíada já é sensacional. Mas temos que deixar uma boa repercussão, não basta participar. Temos que mostrar que o basquete brasileiro está vivo", declara.
Wlamir elogia o apego ao basquete europeu no estilo tático de Magnano, com valorização da organização e da posse de bola em detrimento à cultura do "chuta de qualquer jeito". O bicampeão do mundo também apoia a iniciativa de naturalizar o armador Larry Taylor (do Bauru) para reforçar o time olímpico.
"A naturalização do Larry foi ótima. Conheço ele, é uma pessoa maravilhosa, muito mais brasileiro que muitos ali. Ele vem acrescentar. É diferente do [Marcelinho] Huertas, um outro armador. Pode jogar de lateral também, tem qualidades para isso. Não acho que é levar porque é americano. Eles podem jogar juntos [Taylor e Huertas], ou um tempo para cada um, sei lá. Vejo patriotismo exagerado de quem foi contra", opina.
SOBRE A NBA: JOGO DO MIAMI DE LEBRON É UMA VERGONHA
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A imagem de fantasia misturada com o esporte que marca a NBA junto a seus fãs planeta afora não faz exatamente a cabeça do bicampeão mundial Wlamir Marques. O ex-jogador relata que tem visto pouco dos playoffs da liga, atualmente em andamento, mas que tem se impressionado com a falta de organização tática dos finalistas.
"Não vejo com muita atenção, até pelo horário dos jogos. Mas é um jogo diferenciado, principalmente para mim, que sou professor Fiba [Federação Internacional de Basquete], um outro basquete. Vi os últimos dois jogos do Miami Heat e fiquei horrorizado [jogos 4 e 5 contra o Boston]. É uma pelada absoluta. Tem gente que fica criticando o basquete brasileiro pelos mesmos motivos, mas lá é a pelada oficializada. O LeBron tenta resolver sozinho, o Wade também. É um erro absoluto. Só é 'dá a bola para mim', uma vergonha. Não tem nada de coletivo, de jogada treinada. Acho que o técnico de Miami só administra os egos no vestiário e depois senta no banco e pede tempo", dispara Wlamir.
O antigo ala da seleção ainda rebate o fascínio que o "selo NBA" faz pela reputação de alguns atletas dentro das competições da Fiba. O comentário é especificamente dirigido ao aproveitamento de Nenê e Leandrinho na lista brasileira para a Olimpíada.
"O que precisamos entender é que o mundo inteiro tem jogador da NBA. Os nossos não são nenhum de ponta, de destaque em suas equipes. Não é levar por levar só porque são da NBA", afirma o comentarista da ESPN, que mesmo assim diz acreditar que Magnano pode fazer a dupla brasileira ser produtiva à equipe.