Abandono de escola e sonho de faculdade diferenciam adolescentes do país na Olimpíada

Bruno Freitas e Gustavo Franceschini

Do UOL, em São Paulo

  • Iran Schleder/Divulgação e Luis Pires/VIPCOMM

    Ana (esquerda) e Caroline são as menores de idade da delegação olímpica do país até o momento

    Ana (esquerda) e Caroline são as menores de idade da delegação olímpica do país até o momento

Até o momento, apenas duas atletas menores de idade estão asseguradas na delegação brasileira para a Olimpíada. Para elas, o projeto de competição em Londres inclui, por baixo, um mês longe de casa entre treinos e competição, em ausência que impacta sobre a vida escolar de qualquer menina desta faixa etária. No entanto, as adolescentes olímpicas do país tratam os estudos de forma totalmente diferente.

Esperança para o futuro do tênis de mesa nacional, Caroline Kumahara abandonou a escola no ano passado, meses antes de sua participação nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara, em nome do foco no caminho de vida dentro do esporte. Por sua vez, a canoísta Ana Sátila leva lição para as viagens internacionais e espera ingressar em uma universidade assim que completar o ensino médio.

ALHEIAS À NEYMARMANIA

Em comum, Ana Sátila e Caroline Kumahara têm o gosto distinto do adolescente médio. Nada de idolatria exagerada por ídolos juvenis como Luan Santana, Justin Bieber ou os roqueiros do Restart. A menina do tênis de mesa diz até gostar de Bruno Mars, mas sem fanatismo. Já a canoísta elege o rapper americano Eminem como a celebridade que gostaria de conhecer.

Ana diz ser assediada na escola pelo feito como atleta. As meninas cobram autógrafos e fotos com Cesar Cielo. Neymar, outra celebridade adolescente, também desperta alguns pedidos, mas não comove a canoísta.

"Torço para o Santos. Ele é legal. Tem muitas fãs, né? Ele é jovem, ousado e alegre, mas não sou do tipo que idolatra.. Não ficaria pedindo autógrafo", disse a canoísta, lembrando da horda de meninas que costuma cercar o santista onde quer que o atacante vá.

Caroline também não é uma das adeptas da Neymarmania, como outras garotas de sua idade.

"Não gosto muito de falar do Neymar. Já joguei futsal antes, meu pai e meu irmão jogam. Mas depois que comecei a jogar tênis de mesa de forma mais profissional, passei a enxergar as coisas diferentes. Dão muita importância ao futebol. Os outros esportes não têm espaço, tudo é futebol", afirma a mesa-tenista.

A atleta da canoagem vai aos Jogos Olímpicos com 16 anos, enquanto que a novata do tênis de mesa faz aniversário (17) bem na data de abertura do evento, em 27 de julho.

Caroline Kumahara optou por abandonar a escola no ensino médio, depois de ver o ritmo de estudos atrapalhado por viagens sucessivas. Perto do Pan de Guadalajara, no evento mais importante de sua breve carreira até então, a jovem do tênis de mesa tomou a corajosa decisão.

"Parei de estudar ano passado para me preparar nem para o Pan. Ando viajando muito. Passo um mês e meio fora, volto, depois viajo de novo, fico mais dois meses fora. Estava muito complicado. Parei de estudar no meio do ano passado. Precisar estar focada 100% no Pan, dar meu máximo", diz Kumahara.

Residente no ABC paulista, a novata da equipe do tênis de mesa diz que inicialmente não pensa em retomar os estudos. Caroline afirma que seguirá dedicada exclusivamente ao esporte enquanto as coisas continuarem dando certo.

Ana Sátila não vai pela mesma linha da colega de delegação olímpica brasileira. A canoísta nasceu em Primavera do Leste, no Mato Grosso, e hoje vive com a família em Foz do Iguaçu, onde a equipe brasileira costuma treinar. A mudança, no entanto, não a impediu de seguir estudando normalmente.

"Em competições fora, eu levo uma apostila, estudo e respondo. Quando eu chego, faço as provas, simulados. Eu não penso em parar de estudar. Quero faze fisioterapia ou educação física assim que terminar o ensino médio", projeta Sátila, que diz estudar ainda mais quando está no exterior, pela monotonia dos momentos de folga.

Neste momento, Ana Sátila e Caroline Kumahara são as duas únicas menores de 18 anos garantidas em Londres. Até a delegação ser fechada, a equipe feminina de ginástica artística e os saltos ornamentais, com Andressa Mendes, podem engrossar a lista de menores em idade escolar.

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