Londres-2012: Contra o Brasil, seleção britânica polêmica 'estreia' maior campeão do futebol inglês

Daniel Gallas

Enviado especial a Middlesbrough

  • REUTERS/Chris Helgren

    Ryan Giggs (esq.) posa com o técnico Stuart Pearce diante da equipe olímpica do Reino Unido

    Ryan Giggs (esq.) posa com o técnico Stuart Pearce diante da equipe olímpica do Reino Unido

A Olimpíada de Londres-2012, que começa na próxima semana, será a oportunidade para o jogador mais premiado da história do futebol inglês defender pela primeira vez as cores de uma seleção em um grande torneio. Ryan Giggs, de 38 anos, estará em campo nesta sexta-feira contra o Brasil para o único teste das duas seleções antes dos Jogos de Londres.

O veterano é um dos maiores ídolos do poderoso Manchester United. Ele já venceu por 12 vezes o Campeonato Inglês, duas vezes a Liga dos Campeões da Europa, dois Mundiais Interclubes e quatro Copas da Inglaterra.

Ele faz parte até mesmo do Hall da Fama do futebol inglês. Se dependesse de muitos torcedores da Inglaterra, ele teria feito história na seleção do país. Mas Giggs nunca jogou pela seleção da Inglaterra. Ele é nascido no País de Gales, que possui uma das mais fracas seleções de futebol das nações que compõem a Grã-Bretanha. Durante sua carreira de quase três décadas, ele só defendeu o País de Gales em torneios menores, como eliminatórias, e em alguns amistosos.

"Minha carreira em minha seleção foi obviamente o total oposto de minha carreira em meu clube", diz o galês, que não participou de muitos amistosos do País de Gales a pedido do Manchester United.

O jogador - que desde 2007 está aposentado da seleção galesa - será o capitão da recém-formada Grã-Bretanha, equipe que foi convocada apenas para disputar as Olimpíadas.

Brigas políticas

Giggs tem a tarefa de liderar uma seleção que não disputa uma Olimpíada há mais de cinquenta anos, e que só foi criada depois de quatro anos de intensas brigas políticas entre as quatro federações de futebol da Grã-Bretanha.

A seleção britânica existiu em um período quando o torneio olímpico de futebol masculino não possuía jogadores profissionais. Mas depois dos anos 80, quando jogadores profissionais foram readmitidos no torneio, as federações nunca mais aceitaram a ideia de uma seleção da Grã-Bretanha.

Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales possuem equipes nacionais distintas e podem competir isoladamente em torneios internacionais da Fifa, apesar de não serem países independentes.

Mas o Comitê Olímpico Internacional (COI) pressiona os países-sede a inscrever atletas e equipes nacionais no maior número de modalidades olímpicas possível, o que levou a Associação Olímpica Britânica (BOA, na sigla em inglês) a tentar um acordo entre as federações para formação da seleção de futebol.

Rivalidades

Até o ano passado, as federações do País de Gales, da Irlanda do Norte e da Escócia ainda resistiam à criação da seleção da Grã-Bretanha. Os dirigentes temiam que a criação de uma seleção britânica levaria ao fim do privilégio das seleções individuais de cada nação. A única federação aberta à ideia era a inglesa FA.

A BOA chegou a anunciar um acordo entre as quatro federações para a criação da seleção britânica, mas foi desmentida por dirigentes galeses, norte-irlandeses e escoceses.

Em 2009, o presidente da federação escocesa disse ter ouvido do presidente da Fifa, Joseph Blatter, que a criação de uma seleção britânica poderia levar no futuro à extinção da seleção escocesa.

Depois de muitas negociações, e uma garantia da Fifa de que nada mudaria após Londres-2012, a seleção da Grã-Bretanha foi finalmente formada, e colocada sob a administração do inglês Stuart Pearce, que é técnico da Inglaterra Sub-21.

Muitos torcedores achavam que Pearce delegaria a outro inglês a tarefa de liderar os jovens jogadores britânicos diante da própria torcida. O inglês David Beckham, um dos maiores ídolos nacionais, era tido como favorito. Mas Beckham sequer foi convocado. Pearce disse ter optado por Giggs por motivos técnicos.

O veterano jogador galês se disse honrado de liderar os britânicos na busca pelo ouro olímpico, mas admitiu que nem ele mesmo sabe qual será o futuro da seleção britânica após Londres-2012.

Muitos torcedores de futebol simplesmente não se identificam com uma seleção britânica, que não joga nenhuma partida desde os anos 1960.

As seleções de cada nação britânica também fazem parte da identidade cultural de cada povo e em muitos casos são rivais entre si. Os escoceses - que querem realizar um referendo em 2014 para decidir uma possível independência em relação à Grã-Bretanha - possuem um rivalidade histórica com os ingleses no futebol. Escócia e Inglaterra jogaram em 1872 a primeira partida entre seleções internacionais.

"Não sei o que vai acontecer depois dos Jogos Olímpicos de Londres. Só o que sei é que a experiência que tive até agora [de estar na seleção britânica] tem sido ótima. Acho que se formos bem-sucedidos, em futuras olimpíadas haverá novamente uma seleção britânica", disse Giggs à BBC.

O técnico inglês também surpreendeu ao anunciar os demais integrantes da sua lista. Ele convocou 13 jogadores ingleses, cinco galeses e nenhum da Escócia ou da Irlanda do Norte. Pearce disse que sua tarefa era buscar os melhores jogadores disponíveis na Grã-Bretanha – sem diferenciar por local de nascimento.

O amistoso contra o Brasil é o último teste da seleção britânica antes dos Jogos. Na próxima semana, a Grã-Bretanha disputará seu primeiro torneio internacional desde 1960. O palco da estreia contra a seleção de Senegal é justamente o estádio de Old Trafford, do Manchester United, onde Ryan Giggs ganhou quase tudo que um jogador de futebol pode conquistar.

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