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19/08/2008 - 06h38

"Sem chão", Diego Hypólito diz que não é amarelão

Rodrigo Bertolotto
Em Pequim (China)
Dois dias depois da queda em seu último movimento e de ficar sem palavras com o sexto lugar na final solo das Olimpíadas, Diego Hypólito fez de uma entrevista coletiva nesta terça-feira um monólogo, com longas respostas. Em meio ao discurso, a frase mais marcante foi: "Não sou um amarelão. O que aconteceu foi uma fatalidade".

Rodrigo Bertolotto/UOL
Diego nega ter sido influenciado pela pressão, nervosismo ou desconcentração
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BRASIL SE PREPARA PARA MUDANÇAS
PAÍS SEM MEDALHAS EM PEQUIM
Mas a declaração mais reveladora aconteceu quando tentava achar explicação para o mau resultado, descartando que o problema tenha sido a pressão, o nervosismo ou falta de concentração. Nas entrelinhas, apesar de negar também o excesso de confiança, disse que este tenha sido um fator para o erro.

"Talvez pode ter faltado mais pé no chão, não ter criado tanta expectativa nisso. Muitas famílias pararam para ver uma medalha certa, até eu acreditava. É como se o Brasil todo subisse comigo no solo. O triste é que muita gente contava, não só eu...o treinador, a família, a federação, a torcida e os patrocinadores", listou diante dos microfones na Vila Olímpica.

Ele não chorou, mas ficou com os olhos marejados quando lembrou sua trajetória até ali. "Tive dengue, sofri uma operação, ainda houve um acidente de carro, um assalto. Mas Deus não quis. Usei todas as minhas armas, mas Deus decidiu isso. Ele deve estar reservando alguma coisa para mim." O choro não veio, e o único líquido que escorria de seu rosto era o suor por dar entrevista ao sol em nome de uma boa luz para as câmeras de TV.

O ginasta afirmou que não pensou em abandonar a modalidade em nenhum momento e que vai usar a folga agora para refletir sobre o que aconteceu. Afinal, mostrou que ainda não digeriu a resultado. "O mundo não acabou, tenho 10 ou 12 anos mais de carreira, mais três Olimpíadas para participar"

Diego contou que não dormiu direito, pensando no que aconteceu. "Não vou sair. Não vou enlouquecer. Estou ferido, mas não existe trauma. Se tivesse medo, não poderia dar as acrobacias que dou no ar. A ferida fica, mas o Diego está inteiro, está vivo. Eu não sou um coitado. Não vou desistir. Mas no meu coração falta alguma coisa", confessou o atleta que era apontado como favorito para o ouro e com a nota de 16,20, que faria sem a queda, seria o primeiro, lugar em que ficou na fase inicial.

Quando a pergunta foi o que pensou no momento do erro, ele se abriu. "Na hora pensei: `caramba, eu não acredito´. Ali o mundo caiu. Achei que tinha cravado os pés e coloquei a bunda no chão. No momento mais preciso e decisivo, eu falhei. Senti muita tristeza pela queda", confessou.

Ele afirmou que está "muito fragilizado" e que está "sem chão", mesmo 48 horas depois da decepção olímpica. Diego voltou a pedir desculpas - uma das poucas declarações que conseguiu conceder após seu desempenho de domingo. "Vivia meu melhor momento, sem dores, treinando muito e saltando bem. Agora estou fragilizado, mas sempre dei a cara para bater e estou aqui falando com vocês", sentenciou.

Durante a entrevista de 40 minutos, soltou alguns lugares-comuns como "o mundo dá voltas" e "sou de carne e osso, não sou uma máquina". Mas, quando os assessores encerraram a conversa, Diego deixou a roda de jornalistas com uma interjeição que sintetiza seu estado de ânimo: "Ai que droga."

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