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28/07/2008 - 07h33

Natação do Brasil quebra tabu e tem a primeira técnica olímpica

Rodrigo Bertolotto
Em João Pessoa (PB)
Levou um intervalo de 76 anos entre a primeira nadadora brasileira em uma Olimpíada e a primeira técnica na equipe nacional nos Jogos. A treinadora Rosane Carneiro arrombou as portas desse "Clube do Bolinha" das comissões técnicas nacionais. "Já era tempo. Países de tradição na piscina, como Japão e EUA, têm várias técnicas", justifica a carioca.

Rodrigo Bertolotto/UOL
Kaio Márcio conversa com sua técnica antes do treinamento no clube de J.Pessoa
ESPECIAL SOBRE PARAÍBA OLÍMPICA
ÁLBUM DE FOTOS
Foi justamente a natação que levou a primeira brasileira para uma Olimpíada. Era o ano de 1932. O local era Los Angeles (EUA), e a paulistana Maria Lenk viajou de barco com a delegação nacional para também ser a primeira sul-americana nos Jogos.

Rosane cavou seu espaço no comando graças à teimosia de Kaio Márcio, que contratou a técnica para treiná-lo em João Pessoa, a cidade natal do especialista nos 100 e 200 m borboleta. Ela havia guiado o paraibano em sua passagem pelo Flamengo quando era adolescente,.

"Ele colocou a faca no meu pescoço: dizia que, se não aceitasse, eu seria a culpada pelo final de sua carreira. Não tinha outra opção", conta Rosane sobre a pressão para ela mudar para João Pessoa e assumir o controle a partir de janeiro de 2007. "Ele é preguiçoso e supermimado. Queria voltar aos tempos de adolescência quando eu cuidava de tudo. Sou técnica e secretário, vejo as passagens, as reservas", se queixa, em tom irônico, da dupla função.

Kaio Márcio admite a pressão. "Acho que forcei um pouco a barra", confessa o nadador. "Mas ela tem muito feeling para me treinar. É atenciosa. Combina com meu estilo. Criou um vínculo. Como treino sozinho, ela me motiva."

É frutífera a mistura do introvertido nadador e do técnico bem-humorada. "Fico sacaneando no treino. Tudo tem uma brincadeira. Ele se diverte e se anima. Também faço um programa de treino para não cair na rotina, que ele odeia", conta Rosane. O mesmo tom jocoso ela usa para comentar as constantes brigas entre técnicos da selecionado nacional de natação.

Mas, quando a coisa é séria, ela também entra em ação. No Pan do Rio, ela cuidou de trocar os colchões porque os do alojamento dos atletas na Vila Pan-Americana eram muito finos. Resultado: mobilizou todos para a loja mais perto. "Ele estava se afogando na água de não dormir à noite pelo desconforto. Mas ele não reclamava. Quando ele está na seleção, não gosta de parecer chato, se queixando de tudo", relata a técnica.

De qualquer forma, a dupla se isolou na preparação olímpica em João Pessoa e fez programação diferente da maioria da equipe, passando até pela altitude de La Loma (México) e atrasou a chegada em Macau, lugar da aclimatação para os Jogos.

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