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03/07/2008 - 08h56

Bronze em 2004, Guilheiro diz que série de lesões foi auto-sabotagem

Bruno Doro e Rodrigo Farah
Em São Paulo
Leandro Guilheiro poderia ser o grande nome do judô brasileiro atualmente. Quatro anos depois de sua maior conquista nos tatames, porém, uma série de lesões o afastou do topo. Desde o bronze em Atenas-2004, foram três cirurgias, quatro problemas físicos sérios e nenhum título importante fora do país.

Patrícia Stavis/Folha Imagem
Leandro Guilheiro em treino em São Paulo: judoca se divide entre Santos e a capital
AURÉLIO APOSTA EM GUILHEIRO
PERFIL DO MEDALHISTA OLÍMPICO
EQUIPE BRASILEIRA DE JUDÔ
Aos 24 anos, o judoca se prepara para sua segunda participação olímpica carregando nos ombros a culpa pela seqüência ruim. Segundo ele, as lesões foram uma forma de auto-sabotagem, causadas pelo excesso de treino e falta de autoconhecimento.

"Hoje, eu faço treinos mais inteligentes. Antes, eu era o culpado pelas lesões. Não por maldade, mas por não conhecer o meu limite. Eu treinava sempre no máximo, às vezes fazendo mais do que podia. E isso não leva a lugar nenhum", diz o campeão. Em entrevista ao UOL Esporte, ele fala sobre o pesadelo que passou desde Atenas-2004.

UOL Esporte: Desde Atenas, você tem lutado contra lesões. Quantas foram desde a medalha de bronze? Quantas operações teve de fazer?
Leandro Guilheiro: Eu fiz três operações. Em 2004 ainda, após a Olimpíada, operei o pulso e o quadril. Eram lesões antigas, que me incomodavam há tempos e que decidi resolver naquela época. Mas eu tentei acelerar demais a recuperação e acabei contundindo o ombro e tive de operá-lo também. E, no ano passado, tive uma hérnia de disco, que atrapalhou o meu desempenho no Pan e no Mundial.

UOL: Falar sobre lesões te incomoda?
LG: Não incomoda porque é um fato. Eu realmente sofri com isso e sou o culpado pelas lesões. Não por maldade, mas por falta de autoconhecimento. Em todos os treinos eu passava do meu limite, fazia mais do que agüentava. E isso não leva a nada. Muitas vezes, todos com quem eu treinava tinham a mesma dor. Mas, quando eles paravam, eu continuava treinando. Depois de alguns anos, o corpo cobra o preço disso.

UOL: Nesse período de três anos e três cirurgias, você chegou a pensar em abandonar o esporte?
LG: Nunca. Eu tenho objetivos maiores. As lesões foram um lado ruim da minha carreira, mas eu levo muito mais em conta o lado bom. Sou turrão, não desisto fácil. Eu sabia que tinha capacidade para seguir lutando. O que eu precisava era entender melhor como fazer isso.

UOL: Quando você percebeu que tinha de mudar sua abordagem nos treinos?
LG: No ano passado. O ano de 2007 foi um pesadelo para mim. No primeiro momento, eu fiquei deprimido. Era uma temporada muito importante, com o Pan e o Mundial em casa, no Brasil. E eu me machuquei. Mas consegui parar de pensar negativamente e refletir sobre a vida e meus objetivos. Foi um marco na minha carreira.

UOL: O que mudou na sua preparação?
LG: Hoje, meus treinos são mais inteligentes. Eu faço mais, por menos. Eu conheço melhor o meu corpo e não abuso tanto dos meus limites. A relação custo-benefício dos treinos hoje é muito melhor. Estou treinando sem dor pela primeira vez na minha carreira e isso é algo que me deixa extremamente satisfeito.

UOL: Até que ponto essa seqüência de lesões dos últimos anos atrapalham sua preparação final para as Olimpíadas?
LG: Ainda no começo do ano senti um pouco o volume dos treinos, pois não estava na minha melhor forma, algo que mudou de lá para cá. Eu temia que isso pudesse atrapalhar, mas agora estou tranqüilo e satisfeito pelo que estou fazendo antes das Olimpíadas.

UOL: O que você ainda quer conquistar antes de parar de lutar?
LG: Eu tenho só 24 anos. Ainda tenho muita coisa o que fazer. Eu não tenho uma medalha de campeonato mundial, por exemplo. E agora vou disputar minha segunda Olimpíada. Ainda tenho muito tempo de carreira para conquistar títulos.

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