Gringos gastam até R$ 30 mil e vêm até da Sibéria para trabalhar na Rio-16
Cerca de 10 mil dólares americanos ou 32 mil reais. É isso que o médico filipino Rhoel Dejano está desembolsando para passar 20 dias no Rio de Janeiro e trabalhar como voluntário nas Olimpíadas.
Como os outros 50 mil voluntários, as únicas coisas que ele receberá em troca são a alimentação e o transporte nos dias em que estiver trabalhando.
A viagem desde Cebu, a segunda maior cidade das Filipinas, até o Rio durará dois dias e terá três conexões. “Eu realmente não me importo com os custos e o tempo porque estive me preparando por muito tempo para participar das Olimpíadas”, afirmou o médico de 34 anos, em uma conversa por Skype desde Cebu, que tem 11 horas de diferença de fuso em relação ao Brasil.
Ele trabalha como médico de times de basquete universitário na cidade. Há um ano se inscreveu no programa de voluntário dos Jogos e, em dezembro passado, foi aceito. “Vai ser uma honra para minha família e minha comunidade”, disse o médico, que exercerá seu ofício na Arena Carioca, onde acontecerá o torneio de basquete. “Desde criança eu tinha o sonho de estar numa Olimpíada, mas se não deu para ser como atleta, que seja como voluntário.”
Cerca de 20% dos 50 mil voluntários dos Jogos serão estrangeiros, calcula o comitê organizador. Eles passaram por uma análise de currículo, por uma entrevista por telefone e outra em grupo, para que seja avaliada, entre outras coisas, sua animação.
"Pessoas que não estejam em sintonia com os nossos valores e com o espírito olímpico não são chamadas", diz Flávia Fontes, gerente de voluntários da Rio-16.
Também lhes foi oferecido um curso on-line de português para que aprendam o básico, mas na prática eles trabalharão falando mais suas línguas nativas e inglês.
Tem gente que vem de muito longe. O russo Vladimir Alyabiev, 37 anos, sairá da cidade de Krasnoyarsk, no oeste da Sibéria, um lugar em que costuma fazer frio de até -45ºC no inverno. “Mas agora a temperatura está boa, uns 30º, bem quente”, disse ele, que é corredor no verão e trabalhador autônomo por profissão.
“Eu costumo fazer coisas que as pessoas às vezes não entendem”, disse ele, sobre trabalhar de graça em outro país. “Acho que essa experiência vai me fazer ser uma pessoa mais ‘leve’.”
Para vir da Rússia ao Brasil, Vladimir também precisará de dois dias e três voos: um para Moscou, de lá para Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, dez horas de espera no aeroporto, e finalmente um voo para São Paulo. “Depois, espero pegar um ônibus para o Rio e dormir no ônibus”, planeja ele.
Trabalho gratuito na Olímpiada também pode melhorar currículo
Além da oportunidade de conhecer culturas de diferentes partes do mundo e viver uma experiência internacional, os voluntários veem a chance de acrescentar um item no currículo profissional. A holandesa Wilma Visscher, 47 anos, ficou desempregada depois que a empresa em que trabalhava faliu. Ela espera que a experiência no Rio aumente suas chances no mercado.
“Não sei se vai ‘turbinar’ meu currículo, mas as pessoas obviamente ficam curiosas e interessadas em saber mais sobre por que você se engajou numa atividade como voluntário”, diz ela, natural de uma pequena cidade a 100 km de Amsterdã.
Wilma não é necessariamente uma novata nesse meio já que também foi voluntária em Londres-12, mas no Rio ela espera gastar menos do que gastou na Inglaterra quatro anos atrás. A maioria dos voluntários gringos consegue hospedagem através de serviços como o Airbnb, em que moradores alugam quartos ou mesmo apartamentos inteiros por temporada. “Vou em um grupo com outros seis voluntários holandeses, então agora acredito que será tudo mais barato”, cogita ela.
O comitê olímpico também criou uma plataforma on-line para que voluntários busquem hospedagem em casas de famílias cariocas.
Medo de zika e terrorismo? Não para eles
Diz o médico Rhoel Dejano: “Um monte de gente tem me dito para eu não ir ao Brasil por causa de ameaças de terrorismo, do zika vírus, e da situação do país em geral, porque a CNN sempre mostra que tem armas, tem pessoas más, essas coisas. Mas eu acho que os brasileiros vão se dar as mãos e mostrar que o Brasil é um país pacífico e que recebe bem os estrangeiros. Eu não quero pensar nas coisas ruins que vão estar acontecendo, apenas me focar nas boas.”
Wilma Visscher, a holandesa, também diz não ter medo do que pode acontecer no Rio. Ela conversou com o UOL Esporte no dia em que o Ministério da Justiça anunciou a prisão de um grupo que supostamente planejava um atentado durante os Jogos.
“A gente ouve as histórias”, afirmou ela. “Mas não podemos deixar de fazer nossas coisas, seguir nossas vidas, por causa de ameaças terroristas. Eu confio, tenho que confiar, que as autoridades brasileiras e a polícia vão fazer seu papel e neutralizar qualquer ameaça para que a Olimpíada aconteça sem sustos.”
O comitê organizador afirma que mesmo alguns candidatos a voluntários foram barrados pelo governo brasileiro por terem sido considerados uma ameaça à segurança nacional.
No caso de Rhoel, a principal preocupação nesse momento parece ser outra. “Vocês têm arroz no Brasil?”, perguntou ele ao fim da entrevista.
Ouviu que sim, temos arroz no Brasil.
“Ufa, não consigo viver sem arroz!”