Olimpíadas 2016

Nadadora supera depressão e suicídio de prima para chegar à Rio-2016

DAVID GRAY/REUTERS
Allison Schmitt conquistou cinco medalhas nos Jogos Olímpicos de 2012, em Londres imagem: DAVID GRAY/REUTERS

Guilherme Costa

Do UOL, em Omaha (EUA)

Para alguém que já esteve em duas Olimpíadas e subiu seis vezes ao pódio (três ouros, uma prata e um bronze), terminar a seletiva nacional na terceira posição e não obter sequer uma das vagas do país nas disputas individuais da Rio-2016 pode parecer frustrante. Não é o caso de Allison Schmitt, quarta colocada dos 200 m livre na noite da última quarta-feira (29), em Omaha. A despeito de ter sido superada por Katie Ledecky, Missy Franklin e Leah Smith, a nadadora conseguiu um lugar no time dos Estados Unidos para o revezamento 4x200 m livre e ao menos consolidou o nome entre os atletas que viajarão ao Brasil. E depois de lidar com problemas como depressão e o suicídio de uma prima no último quadriênio, isso representa muita coisa.

"Eu vou para o Rio! Foram quatro anos muito complicados, mas agora eu estou muito feliz. Foi incrível", comemorou Schmitt na zona mista do Centurylink Center, em Omaha, logo depois da prova final dos 200 m livre. Os Estados Unidos podem inscrever dois atletas por disputa individual da Rio-2016, e as duas vagas nacionais na distância serão de Ledecky e Franklin. No revezamento 4 x 200 m livre, o time será composto pelas quatro mais bem colocadas na qualificação.

Allison Schmitt começou a despontar em âmbito nacional antes das Olimpíadas de Pequim-2008. Treinada por Bob Bowan, que também é o mentor de Michael Phelps, ela chegou aos Jogos pela primeira vez e conquistou apenas uma medalha (bronze no 4x200 m livre).

A verdadeira explosão da nadadora, contudo, aconteceu na edição seguinte dos Jogos. Em Londres-2012, Allison amealhou cinco pódios (ouro nos 200 m livre, no 4x100 m medley e no 4x200 m livre; prata nos 400 m livre e bronze no 4x100 m livre).

O desempenho em Londres também foi o gatilho para a depressão. Allison começou a sentir os sintomas depois dos Jogos Olímpicos, mas permaneceu calada por dois anos. Concluiu o curso superior na universidade da Georgia, em 2013, e seguiu cultivando traços de personalidade expansiva - sempre foi brincalhona e gostou de contar piadas, por exemplo.

"Por dois anos, tive um período muito difícil. Foi realmente complicado para mim, e eu não conseguia nem falar sobre o que estava acontecendo", relatou a nadadora.

O drama de Allison só veio à tona em maio de 2015, depois de a prima dela, April Bocian, ter cometido suicídio. As circunstâncias que levaram a isso nunca foram explicadas publicamente, mas o episódio serviu para mexer com a cabeça da nadadora.

"Nós somos uma família muito unida. April e eu temos muitas similaridades, e eu sempre lembro das coisas que fizemos juntas. Fomos viajar juntas no último verão", contou a nadadora em 2015, em entrevista publicada pelo site oficial da USA Swimming (equipe de natação dos Estados Unidos).

A morte de April ajudou Allison a perceber que havia algo errado. Sem que a família ou a comissão técnica soubessem, a nadadora começou a frequentar sessões de terapia. Além disso, começou a desenvolver um projeto para ajudar atletas que sofrem de trauma pós-sucesso.

"A jornada da Allison tem sido longa. Ver que ela se tornou hoje [quarta-feira] uma atleta olímpica pela terceira vez, sabendo onde ela estava em 2013, é um pequeno milagre. Eu chorei quando vi o nome dela ali porque em vários dias eu achei que não poderíamos estar aqui e que não teríamos a chance. Ela trabalhou duro e melhorou muito. Ela pode não estar feliz com o tempo, mas eu não podia me importar menos. O que me importa é que ela conseguiu", disse Bowan.

Outro que celebrou a classificação da nadadora foi o próprio Phelps. Os dois se tornaram muito amigos, e o nadador mais vitorioso de todos os tempos acompanhou de perto o processo de queda e recuperação da atleta: "Allison é como uma irmã para mim. Eu a amo demais e estou orgulhoso por tudo que ela conseguiu fazer. Acompanhei os altos e baixos dela, e estar no time pela terceira vez é algo realmente impressionante. Agora ela está feliz, vai para os Jogos e está recuperada. Ela conta piadas em todos os dias, ainda que nem todas sejam engraçadas, mas ela está lá".

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