! Atletas polêmicos preocupam atletismo brasileiro às vésperas da Rio-2016 - 06/06/2016 - UOL Olimpíadas

Olimpíadas 2016

Atualizada em 08.06.2016 12h59

Atletas polêmicos preocupam atletismo brasileiro às vésperas da Rio-2016

Guilherme Costa

Do UOL, no Rio de Janeiro

A preparação de qualquer equipe para disputar os Jogos Olímpicos já é suficientemente trabalhosa. A CBAT (Confederação Brasileira de Atletismo), contudo, está especialmente preocupada com o time que representará o país na modalidade durante a Rio-2016. A pouco mais de 60 dias do início da competição, a entidade vê atletas polêmicos com espaço garantido na delegação brasileira e ainda não encontrou uma fórmula para contornar as possíveis confusões que eles podem causar. 

O evento-teste do atletismo para os Jogos, realizado entre os dias 14 e 16 de maio deste ano, foi um bom parâmetro nesse caso. Rosângela Santos e Keila Costa, dois dos principais nomes do Brasil no atletismo, estavam entre as referências na lista de participantes do evento. Em três dias, ambas protagonizaram episódios polêmicos. As duas foram cobradas posteriormente pela CBAT, mas isso ligou um alerta para a Rio-2016. A entidade admite que esse tipo de comportamento pode se repetir.

“Nós estamos levando cerca de 65 atletas para os Jogos Olímpicos. Eles são orientados, e nós conversamos com eles. Todo mundo está falando. Mas nós não podemos fechar a boca de ninguém”, admitiu Antonio Carlos Gomes, 56, superintendente de alto rendimento da CBAT.

A entidade já realizou treinamentos com os atletas para tentar reduzir atritos e polêmicas em grandes eventos, mas isso não serviu como solução em todos os casos. Houve pelo menos três discussões internas sobre novas sessões apenas com os que têm histórico mais conturbado, mas o plano não foi adiante.

Durante a Rio-2016 não haverá sequer um monitoramento especial de como os atletas se portarão em redes sociais. O tema tem sido assunto recorrente em palestras do COB (Comitê Olímpico do Brasil), que também tem feito um trabalho de orientação para os representantes do país nos Jogos.

“Às vezes falta um pouquinho de paciência, e o atleta sai berrando sem se aprofundar no assunto. Mas a democracia está aí para isso, e a gente sempre orienta depois. Eles recebem informações de todos os lados, incluindo técnicos, confederação e Comitê Olímpico do Brasil”, disse Gomes. "Não sei como é nas outras confederações. Talvez isso apareça mais com a gente por ter um time maior ou mais gente de temperamento explosivo", completou.

Discussão com repórter e post polêmico: os episódios do evento-teste

O caso que mais chamou atenção no evento-teste do atletismo para a Rio-2016 foi um arroubo da velocista Rosângela Santos, 25. Após ter ficado com o oitavo lugar na eliminatória dos 100 m rasos, ela discutiu com um repórter na zona mista e criticou a pista de aquecimento do Engenhão, estádio que será palco da modalidade nos Jogos Olímpicos.

Depois do episódio, jornalistas chegaram a organizar um boicote a Rosângela. A velocista, por sua vez, fez um post na rede social Facebook e pediu desculpas. “Estava de cabeça quente e realmente não tive paciência com as perguntas dos repórteres”, escreveu.

Rosângela, entretanto, não foi a única a causar confusão no evento-teste. A saltadora Keila Costa, 33, também criou celeuma depois de um post cheio de reclamações enfáticas na rede social Instagram.

“Evento-teste? Obrigada, Brasil! O povo me apoia, mas a organização... uma porcaria! Mentiram! Me convocaram para representar o país, eu venci a prova [do salto triplo] e não vou para o pódio. Estragaram toda a minha preparação e me fizeram cancelar provas importantes fora do Brasil com falsas promessas. Estou decepcionada”, criticou a atleta.

O evento-teste era um Ibero-Americano de atletismo, mas admitiu atletas de outros países para oferecer a mais gente a chance de conhecer as dependências do Engenhão. Por isso, o Brasil pôde inscrever nomes que não estavam na equipe A – caso de Keila no salto triplo.

Os atletas que não faziam parte da seleção principal do Brasil podiam competir normalmente, mas não somariam pontos ao país no Ibero-Americano. Por isso, não subiriam ao pódio.  Keila havia conseguido a honraria ao ser vice-campeã do salto em distância.

"Eles estão sendo orientados para ter cuidado, e os próprios treinadores orientam, mas não tem como impedir o cara. Cada um tem de buscar sua forma de conduta", ponderou Gomes.

Preocupação da CBAT com atletas polêmicos vai além do evento-teste

As reclamações ocorridas no evento-teste se somam a alguns episódios que já haviam acontecido Um exemplo claro do quanto um atleta da CBAT pode causar problemas fora das pistas foi o de Vanda Gomes no Mundial de atletismo de 2013, em Moscou (Rússia). Ela deixou o bastão cair no revezamento 4x100 m rasos e justificou, em entrevistas ainda na área de competição, dizendo que o time havia treinado pouco, dormido mal e se alimentado pobremente.

“Estamos priorizando outras coisas, esquecendo de treinar. Com quem treina, isso não vai acontecer.  Eu dei o melhor de mim nesses 40 dias, comendo mal, dormindo mal. Acontece”, lamentou a velocista, na época, em conversa com o canal fechado Sportv.

O episódio serviu como alerta para a CBAT, que tem tomado cuidado específico com atletas que podem render reações polêmicas. Rosângela e Keila estão nesta lista. 

Empresário de Rosângela e Keila rebate declarações de dirigentes

Em contato com a reportagem do UOL Esporte, Adalberto Almeida, empresário de Rosângela e Keila, relatou sua versão sobre alguns pontos levantados pela reportagem. Confira abaixo a nota escrita pelo responsável pela carreira das atletas:

“Como empresário das atletas Rosângela Santos e Keila Costa, gostaria de esclarecer que:

- Ninguém da CBAT foi falar com a Rosângela ou comigo sobre o ocorrido no episódio do evento-teste;

- Ninguém da Adidas e falou com a Rosangela ou comigo por esse ou outro episódio. Três dias depois do ocorrido, um dos diretores da empresa me ligou para saber o que tinha ocorrido;

- Sobre a Keila, houve um erro de organização e comunicação que foi interno da confederação brasileira. A atleta veio ao evento-teste para defender o seu país e por uma ordem dada ao todos os atletas com índice olímpico. Ela tinha duas provas de Diamond League e uma de Word Challenger no mesmo período do evento-teste;

- Se alguém da CBAT tivesse avisado que não iria valer de nada a participação do Brasil B, iríamos avaliar juntamente com clube, patrocinadores e técnico se a participação dela seria o melhor para todos;

- O chefe da delegação brasileira, Mauro Roberto Chekin, foi ao hotel oficial do evento-teste para conversar comigo e pediu desculpas pelo ocorrido com a atleta Keila Costa;

- José Antonio Martins Fernandes, presidente da Confederação Brasileira de Atletismo, foi pessoalmente ao quarto da Keila um dia após o ocorrido para se desculpar pelo ocorrido e entender melhor todos os fatos no evento-teste;

- Sobre a realização de media training, são atividades facultativas e que não são custeadas pela Confederação Brasileira de Atletismo. Rosângela e Keila treinam e moram nos Estados Unidos e não podem bancar viagens constantes para o Brasil;

- Converso com todos os meus atletas antes, durante e depois das competições. Com a Rosângela, falamos muito sobre isso. Por ela ter um temperamento explosivo e todos saberem disso, muita gente se aproveita para criar intrigas. Mas se você pegar as entrevistas dela, em 95% dos casos é possível ver que ela está bem preparada e bem instruída”.

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