Primeira Olimpíada das redes sociais comprova: tuitar pode ser perigoso

Do UOL, em São Paulo

  • AP, reprodução Twitter e AFP

    Morganella, Bolt e as loiras, camisinhas australianas e Voula Papachristou

    Morganella, Bolt e as loiras, camisinhas australianas e Voula Papachristou

Tudo bem, o Twitter e o Facebook já existiam em 2008 nos Jogos de Pequim. Mas ninguém vai negar: é a Olimpíada de Londres-2012 a primeira que foi invadida, de verdade, pelas redes sociais. Quase todo atleta tem uma conta nesses sites. Nas arquibancadas, os torcedores também estão conectados.

E qual o resultado disso? Bom, Londres-2012 mostrou, também, que tuitar é perigoso e deve ser feito com muito cuidado. Veja o que aconteceu nos 16 dias de competição:

Tuítem menos, por favor!

Durante as provas de rua do ciclismo em Londres, a organização admitiu problemas para obter as informações de posicionamento dos atletas. Na prova, todos os ciclistas tinham um aparelho de GPS em sua bicicleta, mas as informações não chegavam ao sistema oficial de dados da Olimpíada por sobrecarga nas redes de telefonia. O motivo, segundo os organizadores, foi o uso excessivo de smartphones ligados a redes sociais, principalmente ao Twitter. O problema assustou tanto que um porta-voz da organização chegou a pedir que os expectadores “tuítem apenas quando for muito urgente”.

Banido por críticas

  • Flávio Florido/UOL

Chefe da sucursal de Los Angeles do diário “The Independent”, um dos mais respeitados da Inglaterra, o jornalista Guy Adams teve sua conta no Twitter suspensa, acusado de violar as regras da rede social ao publicar o e-mail corporativo de um diretor da rede NBC. Dona dos direitos de transmissão dos Jogos Olímpicos na TV aberta nos EUA, a NBC tem sido criticada por exibir poucas competições ao vivo. Nem a cerimônia de abertura foi vista ao vivo pelo público americano. Adams publicou uma série de mensagens no Twitter criticando a política da NBC nos Jogos. Numa delas, divulgou o e-mail corporativo de Gary Zenkel, diretor da emissora responsável pela transmissão da Olimpíada. Dias depois, o Twitter admitiu o erro.

Ataques na Inglaterra

  • Reuters

Um adolescente britânico de 17 anos foi detido por escrever posts atacando o saltador Tom Daley, principal estrela dos saltos ornamentais do Reino Unido nos Jogos. O bullying virtyal começou quando Daley terminou a prova no trampolim de 10m no salto ornamental sincronizado, ao lado de Peter Waterfield, na quarta posição. Na mensagem, o jovem disse que o atleta desapontou seu pai ao não conseguir uma medalha olímpica. O pai do saltador morreu no ano passado, vítima de um tumor no cérebro. A polícia de Dorset, ao sudoeste da Inglaterra, informou nesta terça-feira que o rapaz de 17 anos foi preso em um albergue.

Ataques no Brasil

No Brasil, um caso semelhante aconteceu com Rafaela Silva, do judô, e acabou com um pedido de investigação do ministro do Esporte, Aldo Rebello, à Polícia Federal. Favorita a uma medalha, ela foi eliminada após usar um golpe proibido. No mesmo dia, perdeu a linha ao responder a críticas que leu no Twitter: "Vai  se ***, filha da ***, perdi sim, sou humana como todos, errei e sei que tenho capacidade de chegar e conquistar uma vaga pra 2016". O episódio rendeu uma reprimenda à judoca, que pediu desculpas. Dias depois, o motivo da revolta foi revelado. “Chamaram ela de macaca, que tinha de estar na jaula, que ela era uma vergonha e devia voltar rastejando para o Brasil. Não estou justificando, mas explicando. Ela acabou de sair de uma eliminação difícil, em que ela era cotada para a medalha, vai à internet falar com as pessoas que estão torcendo por ela e lê ofensas desse tipo? Quem devia ir para a jaula é quem falou isso. Nem eu estou preparada para lidar com algo nesse nível”, disse Rosicleia Campos, técnica da seleção feminina.

Musa de dedos nervosos

  • Reuters

No futebol, a goleira Hope Solo mostrou que, se em campo é mestre na arte de evitar os gols, com um teclado a sua frente seus dedos podem ser nervosos. Ela criticou muito a comentarista e ainda jogadora Brandi Chastain, que está comentando os Jogos para uma rede de TV dos EUA. “É muito ruim não termos comentaristas que possam representar melhor o time e saibam sobre o jogo @brandichastain”, escreveu a goleira, sobre a veterana de 44 anos. “Abandone os comentários sobre defesa até você ganhar mais educação @brandichastain. O jogo mudou de uma década atrás”. A repercussão dos tweets foi tão grande que a goleira foi repreendida pela técnica da seleção dos EUA, Pia Sundhage: “Nós tivemos uma conversa: falei para ela, ‘se você está em uma seleção, o que você quer que as pessoas vejam?' Nós, jogadores, técnicos e auxiliares temos a escolha de responder certas coisas da maneira certa”.

Os eliminados da Olimpíada

  • AP

Os casos mais graves de problemas no uso das redes sociais envolveram uma saltadora russa e um jogador de futebol suíço. Os dois foram expulsos dos Jogos Olímpicos após posts racistas em seus perfis. A primeira foi a grega Voula Paraskevi Papachristou.

Atleta do salto triplo, ela fez um comentário ofensivo aos africanos no Twitter e foi retirada do elenco grego “por falta de espírito olímpico”. “Com tantos africanos na Grécia... os mosquitos que vêm do oeste do (rio) Nilo pelo menos vão comer comida caseira”, afirmou a saltadora, em referência a mosquitos transmissores de doenças vindos da região. O chefe da delegação olímpica da Grécia, Isidoros Kouvelos, explicou que a atleta foi cortada por não mostrar “nenhum respeito por um valor olímpico básico”.

O segundo foi o zagueiro Michel Morganella, da seleção sub-23 da Suíça de futebol. Que publicou um comentário no Twitter atacando os jogadores da Coreia do Sul. "Acabei com todos os coreanos, vão todos para o inferno. Ahahahhahahaah débeis mentais", postou o suíço. Depois da publicação dos posts em um jornal suíço, a conta @morgastoss foi excluída do microblog. O atleta foi rapidamente expulso dos jogos por discriminação: "Ele discriminou, insultou e violou a dignidade do povo e da seleção de futebol sul-coreanos", afirmou em comunicado à imprensa Gian Gilli, chefe da delegação de futebol masculino da Suíça.

A polêmica das camisinhas

Nem só de casos tensos vivem as polêmicas envolvendo redes sociais nos Jogos de Londres. Uma história engraçada envolveu a campeã mundial de ciclismo australiana Caroline Buchanan. Ao chegar a Londres para disputar a competição de BMX, ela postou na rede social que “os rumores eram verdadeiros”, se referindo a comentários de outros atletas de que o sexo, na Vila Olímpica, era comum entre quem participa das Olimpíadas. À frase, seguia a foto de um balde com camisinhas e uma folha onde se lia “Camisinhas canguru: para a glândula ‘Downunder’”. A inocente brincadeira dos australianos, porém, virou um problema gigante para o Comitê Olímpico Internacional. As camisinhas que estavam no balde eram de uma empresa concorrente da patrocinadora dos Jogos. E, segundo as rígidas regras de proteção a quem paga para atrelar sua marca às Olimpíadas, seria proibido entrar com o produto na vila dos atletas. Após a polêmica, a foto foi removida do perfil da ciclista. Nem mesmo o site da atleta está disponível. Ao entrar, o que aparece é uma mensagem avisando que o site está sob “embargo olímpico” e só volta ao ar no dia 15.

Bolt, as loiras e o recorde

  • Reprodução

Em outro capitulo peculiar do uso de redes sociais, na noite em que conquistou o ouro nos 100 m, repetindo o que já tinha feito em Pequim-2008, Usain Bolt inovou na comemoração: levou para seu quarto três loiras, da seleção de handebol da Suécia. Como não podia deixar de se gabar com o fato, ele ainda publicou a foto em seu Twiter: “Em gaza nós dizemos hmmm mmm”. Com posts como esse, aos poucos o jamaicano vai se tornando uma das figuras mais populares das redes sociais. Ele até mesmo bateu um recorde: quando venceu os 200 m rasos, a rede de microblogs registrou 80.000 tweets por minuto falando sobre o feito.

Phelps e um milhão de novos amigos

A rivalidade entre Bolt e Michael Phelps na Olimpíada de Londres chegou, também, às redes sociais. Se o jamaicano bateu o recorde mundial de tweets por minuto, o norte-americano foi o “maior amigão” dos Jogos. Segundo a Starcount, empresa que trabalha com a valoração de redes sociais, o norte-americano, que chegou a 22 medalhas olímpicas na carreira nas piscinas inglesas, conquistou um milhão de novos “amigos”, chegando a 1,2 milhão seguidores no Twitter e 800 mil no Facebook. Bolt conseguiu 725 novos ‘followers'.

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