Escoltado por policiais, ex-padre irlandês que atrapalhou brasileiro em 2004 apoia Marilson
Rodrigo Bertolotto
Do UOL, em Londres (Inglaterra)
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Rodrigo Bertolotto/UOL
Ex-padre irlandês Cornelius "Neil Horan" segura cartazes de apoio ao brasileiro Marilson dos Santos
Oito anos depois de ficar na história das Olimpíadas ao atrapalhar o maratonista brasileiro Vanderlei Cordeiro de Lima, o ex-padre irlandês Cornelius “Neil” Horan voltou às proximidades de uma maratona olímpica neste domingo.
Mas dessa vez de forma inofensiva, afinal, foi escoltado de sua casa até o local por dois agentes da Scotland Yard, a polícia metropolitana de Londres.
Chegando em Trafalgar Square, praça por onde passou a maratona londrina, ele teve que negociar com mais policiais e fiscais da prefeitura para poder erguer seus cartazes em homenagem a Marilson Santos (o representante nacional na corrida de 42,195 km) e de crítica à Olimpíada (com inscrição dizendo que a vida eterna é melhor que uma medalha olímpica).
“Do fundo meu coração, espero que Marilson seja bem-sucedido. Isso vai apagar um pouco o que fiz com o Vanderlei”, afirmou Neil Horan, segurando uma bandeira brasileira. O maratonista conseguiu um bom resultado, com a quinta colocação, mas não subiu ao pódio, com o Brasil fechando a prova com três corredores no top 15.
Ele aproveitou a multidão reunida para ver a maratona para apresentar sua dança típica irlandesa, com a qual consegue um dinheiro extra para viver – o ex-padre vive de benefícios dados pelo Estado inglês.
Horan era acompanhado por dois amigos que o ajudam com o amplificador e a música de sua apresentação de rua, o polonês Ricard e o irlandês Patrick.
Durante seu showzinho perto do percurso olímpico, ele foi reconhecido pelo brasileiro Vitor Vasconcelos, que trabalha em Oxford. “Esse é o cara da maratona de Atenas. Logo vi pela roupinha dele”, se assombrou após tirar foto de Horan.
O ex-padre planejava se apresentar também na maratona feminina no domingo passado, mas a insistente chuva que caia sobre Londres o fez mudar de planos.
Horan vive em Nunhead, no sul de Londres, onde foi padre até a década de 1990. Por suas crenças no fim do mundo, ele perdeu sua paróquia. Após agarrar o brasileiro em Atenas quando ele liderava a corrida, Horan foi proibido de vestir roupas religiosas e retirado da Igreja Católica da Inglaterra – atualmente a igreja paga o aluguel e as contas da casa onde vive.
Ele saiu de sua casa às 10h transportado por uma viatura policial até Trafalgar Square, no centro de Londres. O máximo que ele se aproximou dos corredores foi uns 20 metros, com uma parede de público e de cavaletes metálicos. Lá permaneceu até o final da Olimpíada, sempre seguido de perto pelos policiais.
Marílson chegou em quinto na maratona, a duas posições da medalha de bronze que Vanderlei conseguiu em Atenas. Dessa vez, Horan não teve influência no resultado. Terminada a prova, o ex-padre foi escoltado para sua casa, e não para uma delegacia grega como em 2004.