Apesar de arrebatar fãs e fazer de seus campeões mitos há mais de um século, o universo do boxe ocasionalmente aparece acompanhado por incidentes de tramoias de bastidores, em imagem devidamente explorada pelo cinema norte-americano, por exemplo. Agora, nos Jogos de Londres, a modalidade revê a reputação incômoda e se vê pressionada em debate sobre resultados polêmicos dos pugilistas do Azerbaijão no torneio olímpico.

Em setembro do ano passado, um programa investigativo da rede de britânica BBC denunciou um suposto esquema de corrupção que visava adquirir duas medalhas de ouro para o Azerbaijão na Olimpíada. A trama exposta envolvia diretamente um executivo da Aiba (Associação Internacional de Boxe Amador), Ivan Khodabakhsh, e altos funcionários do governo do país [o programa de TV expôs trocas de e-mails comprometedoras do ministro das Situações Emergenciais].

Na oportunidade, o presidente da entidade Ching-Kuo Wu admitiu o recebimento de US$ 9 milhões, mas afirmou que a cifra era destinada à organização de um torneio, fazendo juras de transparência em sua administração. Advogados da Aiba ainda manifestaram que as alegações da BBC eram totalmente infundadas. 

No entanto, recuperando a sombra do escândalo de 2011, os lutadores do Azerbaijão têm subido ao ringue junto com a desconfiança, revivida após resultados dos atletas do país em circunstâncias obscuras.

Nos últimos dias, o lutador do Azerbaijão, Teymur Mammadov, ganhou um combate que deveria ter perdido, após o árbitro ignorar uma clara infração no terceiro assalto. Revoltado, o adversário bielorrusso se recusou a deixar o ringue após o anúncio de sua derrota. Polêmica à parte, Mammadov está na semifinal da categoria pesado, até 91 kg, e enfrenta o italiano Clemente Russo nesta sexta-feira.

Dias antes deste incidente, outra luta controversa envolvendo um atleta do Azebrijão. Magomed Abdulhamidov ganhou um combate em que foi nocauteado cinco vezes por um adversário japonês no terceiro assalto, provocando uma incompreensão barulhenta da plateia da arena olímpica do boxe. No entanto, a decisão acabou posteriormente revista, e o árbitro do combate (Ishanguly Meretnyyazoz, de Turcomenistão) foi retirado de ação nos Jogos.

"Eu lamento profundamente termos que tomar essas decisões. No entanto, nossa preocupação principal é sempre proteger a integridade e o o jogo limpo das competições. Tomarei os passos possíveis para reforçar isso", manifestou o sul-coreano Ching-Kuo Wu, presidente da Aiba, em nota distribuída à imprensa em Londres.

Além de Mammadov, o segundo pugilista do Azerbaijão que segue com chances de ouro é Magomedrasul Medzhidov, na categoria acima de 91 kg. Ele enfrenta o italiano Roberto Cammarelle na semifinal.

Procurada pela reportagem do UOL Esporte em Londres, a Aiba manifestou que não existe nenhuma preocupação a respeito da conduta de arbitragem nas lutas envolvendo pugilistas do Azerbaijão e que considera o debate sobre a questão levantada pela BBC sem fundamento para a disputa do boxe olímpico.