Gratuita, maratona vira opção de "pães-duros", sem ingresso e famílias com bebês
José Ricardo Leite
Do UOL, em Londres (Inglaterra)
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José Ricardo Leite/UOL
Pais tiram bebê do carrinho e observam pelotão da maratona feminina passar pela avenida
Os 42.195 metros da maratona feminina dos Jogos de Londres, realizada neste domingo, foram uma das oportunidades para o público assistir a uma competição olímpica sem tirar dinheiro do bolso.
Além da tradicional corrida, o triatlo, marcha aquática, maratona aquática e ciclismo são outros esportes que permitem que os “pães-duros” ou azarados que não conseguiram ingresso para ver uma competição oficial possam dizer que já viram uma competição olímpica.
Inovadora, a maratona dos Jogos de Londres não é finalizada no estádio olímpico e é disputada em circuito. Começa e termina no The Mall, no Green Park, que é interligado pelo Palácio de Buckingham e a Trafalgar Square, o principal reduto da aglomeração sem ingresso.
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Com carrinho para bebê, galês vê vantagem da "olimpíada de graça" em relação a arenas
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Poloneses com seu carrinho de bebê se locomovem para ver a maratona em Londres
Ciclistas de fim de semana, famílias, crianças e muitos, muitos carrinhos de bebês conduzidos pelos pais tomavam conta do espaço em que era possível ficar ao lado da grade que separava a avenida por onde passavam as corredoras.
Era possível até atravessar a avenida quando o pelotão de atletas estava longe, em dois corredores de mãos distintas. Era só conduzir o carrinho de bebê e cruzar a pista olímpica.
Lee Mahon, um professor de 32 anos, disse que já esteve em três locais oficiais de competição e presenciou jogos de vôlei, futebol e competições de atletismo no estádio olímpico. Mas nenhum se compara à “Olimpíada de graça” da maratona por ter mais tranquilidade com seu pequeno garoto.
“Como estamos como bebê, pra gente é melhor até estar aqui. Podemos andar com o carrinho, procurar um lugar mais adequado. Nos locais de competição temos que ficar sentados, e quando ele começa a chorar é complicado. Mas somente porque temos que cuidar dele”, falou.
Para quem não conseguiu um lugar na beira da pista, tinha até a opção de improvisar e usar um apoio para ver o pelotão. Esse foi o jeito encontrado pela família Wood para suprir a frustração da pequena Jodie, de 4 anos e que desejava ver uma competição de ginástica.
“Aqui é uma boa chance de ver a Olimpíada para quem não tem ingresso. Nós não conseguimos encontrar bilhetes disponíveis para algumas competições que queríamos, como a ginástica. Então demos um jeito de trazer nossa filha para assistir aqui, andando pelas ruas. Ela pode dizer que já fez parte do espírito olímpico”, disse Chioe Wood, mãe da garota.
O vantagem gastronômica para quem viu uma prova olímpica na Trafalgar Square em relação aos que vão em locais oficias de competição é gigantesca. Basta andar poucos metros para encontrar uma variedade de restaurantes e cafés, em contrapartida com as pizzas, lanches e “fish and chips” das arenas.
BRASILEIRO PEGA LUGAR VIP
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Antonio de Almeida Santos ficou cerca de três horas no local e prefere arenas oficiais
Lá, era possível dar um tempo e caminhar pelas ruas e comprar comida no tempo de intervalo enquanto o pelotão não voltava a passar. E poder sentar em um dos cafés era uma boa chance para descansar, já que a prova durou mais de duas horas.
Mas para quem quer reservar um bom lugar na área “vip” e ver tudo de pertinho sem pausas, o cansaço vai custar caro e a Olimpíada gratuita não é tão maravilhosa assim. Precisa de disposição, pernas firmes e forte psicologia contra o marasmo no momento em que a avenida fica vazia.
Antonio de Almeida Santos, um aposentado de 72 anos que mora em São Paulo, foi a todas Olimpíadas desde a edição de Seul.
Em Londres, já foi até as competições de vôlei, handebol e esgrima. Neste domingo, chegou cerca de meia hora antes do início da maratona, tomou chuva, sol e conseguiu esticar sua bandeira brasileira na grade lateral da rua onde passavam as corredoras. Estava muito perto, a cerca de cinco metros de onde as corredoras passavam.
Mas não saía dali por nada. E disse preferir o conforto das grandes arenas, apesar de admirar a socialização que a maratona permite. “Isso aqui é interessantíssimo. Mas no ginásio pago eles têm um trabalho interessante, é legal que eles motivam as pessoas no intervalo, tem uma interação com o animador, músicas, e a plateia vibra muito. Toca até música de Beatles”. falou
“Estou ensopado, molhadinho, peguei uma baita de uma chuva. Já estou há duas horas e vou esperar até o final. Cansa, mas vou fazer o que? Pena que a nossa brasileira está mal”, finalizou.