A quatro anos para Olimpíada, Rio 2016 ainda não tem orçamento e já acumula dilemas
Do UOL, no Rio de Janeiro
Daqui a exatamente quatro anos começa a Olimpíada do Rio de Janeiro, um evento único para a capital fluminense e todo o Brasil. Até o dia 5 de agosto de 2016, entretanto, uma série de questões ainda têm que ser resolvidas.
O Rio 2016 ainda não tem um orçamento e já acumula alguns dilemas: remoção de famílias, ampliação da capacidade hoteleira, entre outros. O UOL listou cinco desafios que, nesta altura da preparação, mais preocupam os organizadores dos Jogos.
Saiba quais são eles e como governo municipal, estadual e federal, além do Comitê Organizador da Olimpíada, pretendem resolvê-los:
LISTA DE OBRAS E ORÇAMENTO SEM DEFINIÇÃO
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O Rio de Janeiro foi escolhido como sede da Olimpíada de 2016 no dia 2 de outubro de 2009. Desde então, governo e organizadores trabalham na preparação da cidade para o maior evento esportivo do mundo. Apesar disso, ainda não está definido tudo o que será necessário fazer para que o Rio esteja pronto para os Jogos. Prefeitura, governo estadual, governo federal e comitê organizador ainda não concluíram a lista de obras necessárias para a Olimpíada. Todos os envolvidos na realização dos Jogos dizem que sabem o é preciso fazer e que tudo está sendo feito. Ninguém, porém, divulga a relação de todos os projetos olímpicos, muito menos quanto todos eles vão custar. A primeira previsão era que tudo isso fosse conhecido em março. Depois, disseram que a lista sairia em julho. Já estamos em agosto e nada foi divulgado. A presidente da Empresa Olímpica Municipal, Maria Silvia Bastos Marques, disse na sexta-feira que o orçamento completo da Rio 2016 sairá só no meio de 2013.
VELÓDROMO DO PAN DE 2007 SERÁ USADO NA RIO 2016?
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Um impasse sobre o velódromo da Rio 2016 trouxe à tona um debate sobre o legado dos Jogos Pan-Americanos de 2007. Para o Pan, o governo construiu um velódromo no Rio. Gastou R$ 14 milhões e prometeu que, caso a cidade viesse a sediar uma Olimpíada, a pista para corrida de bicicletas voltaria a ser usada nas competições. Dois anos depois do Pan, o Rio foi escolhido sede dos Jogos de 2016. Aí então descobriu-se que o velódromo do Pan não poderia ser usado. Quando o Rio se candidatou para sediar o evento, havia prometido investir cerca de R$ 35 milhões para deixar o velódromo inaugurado em 2007 dentro dos padrões olímpicos. Há um mês, o Comitê Organizador Olímpico e Paralímpico Rio 2016 informou que a reforma era inviável. Seria melhor demolir a pista e construir outra. O prefeito Eduardo Paes reagiu e disse que a demolição é inaceitável. Entretanto, não deu garantias de que o velódromo do Pan será usado na Olimpíada. Estudos estão sendo feitos para reavaliar a possibilidade da pista virar uma estrutura olímpica. Enquanto não há uma conclusão, o destino da pista está indefinido.
AUTÓDROMO DE DEODORO E A OBRA DO PARQUE OLÍMPICO
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Não haverá provas de automobilismo na Olimpíada do Rio. Entretanto, a construção de um autódromo na cidade se tornou um problema para os Jogos de 2016. Isso porque a obra da nova pista é uma das condições para a construção do Parque Olímpico da cidade. O parque será erguido no local onde hoje fica o Autódromo de Jacarepaguá. A pista de automobilismo está sendo desativada para dar lugar a principal estrutura da Olimpíada de 2016. Para liberar a obra, porém, a Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA) exigiu que o governo se comprometesse a construir um novo autódromo na cidade. Um acordo foi feito e o Autódromo de Deodoro se tornou um compromisso da organização da Olimpíada. Acontece que o terreno escolhido para a pista é uma reserva de Mata Atlântica e um campo de treinamento militar. O Ministério Público teme que a construção da pista degrade o meio ambiente. Já o Exército, atualmente, faz uma varredura na área para saber se ela é segura para abrigar um autódromo. Em junho, um aluno da Escola de Sargentos de Logística morreu em uma explosão no local. O acidente ainda não foi esclarecido. Até agora, não há garantias de que o autódromo poderá mesmo ser erguido em Deodoro. Sem a nova pista, a CBA promete barrar o fechamento do Autódromo de Jacarepaguá na Justiça e paralisar, então, a construção do Parque Olímpico da Olimpíada.
REMOÇÃO DA VILA AUTÓDROMO
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Outra questão envolvendo a construção do Parque Olímpico diz respeito à Vila Autódromo. A vila é vizinha ao terreno em que ficará o parque e, segundo a Prefeitura do Rio de Janeiro, terá de ser removida para dar lugar às adequações da área necessárias para a Olimpíada de 2016. Alguns moradores do bairro vivem ali há cerca de 40 anos e não concordam em deixar o local. Segundo eles, a construção do Parque Olímpico é completamente compatível com a existência da Vila Autódromo e o projeto de remoção da prefeitura, na verdade, não passa de uma tentativa de favorecer grandes empresas do mercado imobiliário que pretendem investir ali. Os moradores, inclusive, chegaram a apresentar ao governo municipal um projeto alternativo para a área do Parque Olímpico contemplando a manutenção da vila. O prefeito Eduardo Paes, entretanto, já avisou que a remoção das famílias está decidida e que todos serão levados a um novo bairro que está sendo construído a um quilômetro de distância do local em que eles vivem atualmente. Paes garantiu que todo o processo de remoção será negociado com as famílias, sem que nenhum tipo de violência seja empregado. A presidente da Empresa Olímpica Municipal, Maria Silvia Bastos Marques, avisou na última sexta-feira, porém, que os Jogos Olímpicos de 2016 vão incomodar alguns moradores do Rio. “Nós [do governo] temos que pensar no todo. Quando a gente pensa no bem comum, algumas pessoas podem ser prejudicadas.”
RIO PRECISA DOBRAR SUA CAPACIDADE HOTELEIRA
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Quando o Rio de Janeiro se candidatou para sediar a Olimpíada de 2016, prometeu ao Comitê Olímpico Internacional (COI) que a cidade teria 48 mil leitos em hotéis disponíveis para atender todos os que viriam aos Jogos. A quatro anos do início das competições, entretanto, os hotéis e pousadas da cidade têm capacidade para receber 20 mil pessoas. Ampliar essa capacidade é um dos maiores desafios do Rio de Janeiro para a Olimpíada, segundo a presidente da Empresa Olímpica Municipal, Maria Silvia Bastos Marques. Na sexta-feira ela disse que hotéis já em construção devem aumentar a capacidade hoteleira do Rio em 8 mil vagas. Projetos para novos empreendimentos em análise pelo governo municipal podem criar outros 9 mil leitos até 2016. Se tudo isso se concretizar, a cidade terá 37 mil vagas em hotéis. Outras 10 mil vagas estarão disponível em seis navios que a cidade pretende ter atracado em seu porto durante a Olimpíada. Faltariam assim, mil vagas para o número de leitos prometidos. Isso deve ser suprido com a construção de uma vila para jornalistas e outra para árbitros olímpicos. Nenhuma dessas construções, porém, já foi iniciada. Entretanto, para Maria Silva, “tudo está sob controle.”