Medalhista olímpica, Mayra Aguiar foi escoteira e é fã de suco de goiaba e House
Gustavo Franceschini
Do UOL, em Londres (Inglaterra)
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Kim Kyung-Hoon/Reuters
Mayra Aguiar comemora a conquista da medalha de bronze após aplicar ippon em holandesa
O lado lutador de Mayra Aguiar já ficou famoso. Aos 20 anos, um dia antes de completar 21, ela se tornou a nova medalhista olímpica do Brasil nesta quinta-feira. Campeã mundial, medalhista em Pan-Americanos, títulos e mais títulos serão lembrados. E quem continuar interessado, pode descobrir lados bem mais humanos da judoca gaúcha.
Dizem que os pais inscrevem os filhos no judô para eles aprenderem a cair. Eu até hoje não aprendi
Você sabia que ela é fã de suco de goiaba? Pois é. Como para ser atleta de alto rendimento é preciso tomar conta da alimentação, muitos atletas sonham com uma lata de refrigerante (o recordista mundial da natação Felipe França é um desses) ou com um gole de cerveja quando terminam de competir. Mayra, não. “Não sinto falta de refrigerante. Gosto mesmo é de suco de goiaba. Bebida alcóolica, só para uns drinques”, costuma dizer.
Quando é hora de assistir a um pouco de TV, esse gosto mais infantil desaparece. A gauchinha deixa desenhos animados ou comédias de lado e prefere programas mais cabeça. É fã, por exemplo, da série House, de um médico mau humorado que vive à procura de soluções para problemas médicos complexos. “Era viciada. Tinha de assistir todos os dias”, lembra. Outro de seus favoritos é o filme “A Origem”, de Christopher Nolan, um thriller psicológico.
Ser número um do mundo não dá muita vantagem além de ser cabeça-de-chave. Tem muita gente com chance de medalha na Olimpíada
Essas duas características quase conflitantes aparecem lado a lado quando a lutadora lembra da infância como escoteira. “Eu era muito agitada e meus pais tentaram de tudo. Muitos esportes. Fui até escoteira por um tempo. Mas tinha muito medo de bicho. Até hoje, barata é um negócio que... meu Deus do céu”, conta.
Saindo da infância, hoje Mayra é uma das principais atletas do judô brasileiro. Conquistou uma medalha em Mundial júnior aos 14 anos (bronze na República Dominicana em 2006), foi vice-campeã pan-americana aos 15 (no Pan do Rio, em 2007) e estreou em Olimpíadas aos 17 (em Pequim-2008, em que foi eliminada na primeira rodada).
Nos últimos quatro anos, encarou barras pesadas. A maior foram as lesões: no fim de 2008, foi submetida a uma operação delicada no joelho direito. Foi obrigada a ficar dez meses afastada dos tatames. Quando voltou, subiu de categoria (todas as glórias do parágrafo anterior foram nos 70kg), virou uma das maiores do mundo, mas encontrou sua arquirrival.
Ele é uma inspiração para mim, ainda mais tendo ele assim dentro de casa. É ótimo para mim ter essa proximidade
Em 2010, no Mundial do Japão, conquistou a medalha de prata, a primeira na história do judô feminino do país. Na final, foi derrotada por Kayla Harrison. Esse nome iria atormentar os sonhos da gauchinha por dois anos. No Pan de 2011, por exemplo, um encontro com a norte-americana a tirou da disputa do bronze. Como Em Londres-2012, ficou com o bronze.
Mas nem tudo foram derrotas: Mayra ainda não tinha sido derrotada em 2012, vencendo o Masters de Almaty, o Grand Slam de Paris e o Pan de Montreal. Tudo isso a colocou como líder do ranking mundial, à frente, inclusive, de Kayla.