Enquanto filho brilha em Londres-2012, pai de Leandro Damião segue amigos na várzea

Bruno Doro

Do UOL, em São Paulo

  • Milton Flores/UOL Esporte

    Seu Natalino, pai de Leandro Damião, e o amigo Jânio no campo do Nacional

    Seu Natalino, pai de Leandro Damião, e o amigo Jânio no campo do Nacional

No último domingo, o Brasil enfrentou Belarus pela segunda rodada do torneio olímpico de futebol masculino. Com a camisa nove da seleção brasileira, Leandro Damião não entrou em campo na vitória por 3 a 1. Enquanto isso, seu pai acompanhava uma partida bem menos glamourosa.

IRMÃO DE DAMIÃO JOGA NO LUVERDENSE

  • Divulgação/Luverdense

    Se você acha que peladas de fim de ano não servem para nada, deveria conversar com o irmão do centroavante da seleção brasileira, Leandro Damião. Edimar, de 24 anos, foi campeão estadual no Mato Grosso graças a uma partida festiva. “No fim do ano passado, meu irmão fez uma partida de despedida para o Fabiano Souza. Eu joguei no ataque ao lado dele. Marquei um gol. E o técnico do time gostou e me trouxe para cá”, lembra o jogador.

    O técnico em questão é Lisca, o mesmo que descobriu Alexandre Pato. No ano passado, ele comandou o Luverdense, time da cidade de Lucas do Rio Verde. Foi campeão das Copas Pantanal e Mato Grosso, mas deixou o comando da equipe. Mesmo assim, indicou alguns dos reforços para 2012. Um deles era Edimar.

     

Seu Natalino estava no campo do Nacional, na Comendador Souza, acompanhando o jogo do Ajax do Jardim São Jorge pela Copa Kaiser - o time acabou eliminado do torneio. A equipe é formada por amigos da época em que o filho, hoje centroavante da seleção, jogava nos terrões de São Paulo. Como o fato inusitado mostra, a relação da família de Leandro Damião com o futebol amador, principalmente com os times da região do Jardim Ângela, é das mais fortes.

Um dos principais amigos de seu Natalino é Jânio Ferreira dos Santos, companheiro das andanças em busca do futebol na periferia da capital paulista. Os dois se conheceram quando foram roupeiros do Família Tupicty, que já contou com Damião e o irmão mais velho, Edimar. Hoje, os dois não cuidam mais de uniformes, mas, de carro ou de moto, são figurinha fácil nos jogos da Copa Kaiser, por exemplo. “Em 2009, acompanhamos todos os jogos do Pioneer (time da Vila Guacuri, próximo ao Jardim Ângela) que foi campeão. Todo domingo estamos juntos nos campos”, conta Jânio.

Essa devoção de seu Natalino, aliás, é uma de suas marcas registradas. Popular no bairro onde mora, ele é elogiado por todos. “Ele criava os filhos de maneira muito rígida e transformou os dois em garotos do bem. Nunca beberam, nunca chegaram perto das coisas ruins. Ele e os filhos são exemplos para a região”, elogia Jairo Moreira dos Santos, presidente do Nós Travamos, time que foi campeão da Copa Kaiser em 2008.

O segredo para isso foi não descuidar dos filhos, principalmente após a separação. Quando Leandro e Edimar eram crianças, os pais se separaram. Os dois ficaram com seu Natalino no Jardim Ângela e foram criados pelo pai, pelas tias e pela avó. “Eu acompanhava os dois de pertinho. Trabalha todo dia das 7h às 19h, mas estava sempre ligando para casa, para saber se eles já tinham chegado da escola, se já tinham almoçado, se não estavam na rua. Eu sempre pedia: acabou a aula, vai correndo para casa, não fica em pracinha. A minha criação foi assim. Perdi meu pai cedo, com 10 anos, e ele era muito rígido. Tentei trazer isso para a vida dos meus filhos”.

Hoje, seu Natalino está vivendo uma verdadeira batalha com Leandro. Um dos jogadores mais badalados do país, ele quer tirar o pai do Jardim Ângela, um dos bairros mais populosos de São Paulo e que já viveu uma grave crise de segurança. Mesmo assim, o pai insiste em seguir morando na mesma casa em que criou os dois filhos – Edimar, um ano mais velho, hoje mora no Mato Grosso, onde joga no Luverdense, que disputa a Série C do Brasileirão.

“O Leandro quer comprar uma casa. Mas eu falei para ele que está difícil de sair daqui. Ele e o Edimar foram criados aqui. São 23 anos. É um lugarzinho em que criamos raízes. Se vou pra outros bairros, não tenho a mesma liberdade. Tenho muitos amigos aqui”, afirma.

Atacante que já tomou vaga de Damião hoje é cobrador de ônibus em SP

Em 2007, o time de futebol de várzea do Nós Travamos, do Jardim Ângela, na zona sul, procurava um atacante para disputar a Copa Kaiser. Um dos concorrentes era um jovem magro e alto. O outro, um atacante com menos de 1,70 m, rápido e habilidoso. O baixinho foi o escolhido. E levou a equipe, no ano seguinte, ao título da competição mais importante do futebol amador de São Paulo. Como se não bastasse, ainda foi o artilheiro da competição, com 19 gols. O nome do grandalhão a maioria dos brasileiros conhece: Leandro Damião, do Internacional e da seleção brasileira. O outro é Claudionor Lima, o Denô, fenômeno da várzea, que nunca teve uma chance de verdade no futebol profissional. Hoje, aos 28 anos, ele é cobrador de ônibus em São Paulo.

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