Carregado de hospital pela mãe, ginasta cala médicos e volta a andar por sonho olímpico
Do UOL, em São Paulo
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Getty Images
Kieran Behan, da Irlanda, realiza movimento no solo durante prova de ginástica artística
Os Jogos Olímpicos são recheados de histórias de superação. Um ginasta irlandês que vai estrear na competição mais importante do planeta é um exemplo disso. Kieran Behan passou boa parte da vida brigando contra doenças e lesões. Entre os muitos diagnósticos, veio o veredicto: "pare com seus sonhos doidos de ser atleta, você nunca mais poderá andar". Mas ele calou os médicos e neste sábado cumpre o que tanto imaginou, desde garoto.
Behan é o primeiro irlandês a conquistar uma vaga olímpica na ginástica artística - outros atletas competiram nos Jogos, mas por convite -, e leva para Londres um histórico que poderia virar filme, em que precisou vencer um tumor e uma lesão cerebral para poder competir. Ele chegou a ser carregado de um hospital pela mãe, descontente com o tratamento dado ao filho.
Desde os seis anos o irlandês cultivava o sonho de ser ginasta, após assistir aos Jogos Olímpicos, mas as dificuldades começaram cedo. Aos dez, ele descobriu um tumor do tamanho de uma bola de golfe em sua perna esquerda. A cirurgia revelou que ele era benigno, mas um erro médico que deixou um torniquete apertando o membro mais tempo do que o devido causou danos em seus nervos. Isso limitou as sensações de seu pé.
Sem poder andar e com o aviso de que esses nervos poderiam não mais se regenerar, um psiquiatra o alertou para se preparar para uma vida na cadeira de rodas. "Muitas vezes eu ficava olhando as outras crianças correndo no parque e jogando futebol. Isso me emocionava, eu só queria ser uma criança normal", afirmou o ginasta, ao The New York Times.
Behan demorou 15 meses, mas conseguiu voltar a ser um garoto convencional. A sorte, no entanto, veio e se foi. Na volta à ginástica, ele sofreu uma queda e bateu a parte de trás da cabeça, vivendo um novo drama.
Desta vez, o trauma causou lesão cerebral e afetou seu senso de equilíbrio de tal forma, que alguns movimentos o faziam desmaiar - o que aconteceu centenas de vezes, segundo sua mãe. Ela, frustrada com o lento progresso após dois meses de hospital, pegou o filho pelos braços, o levou para casa e deixou o trabalho como personal trainer para se dedicar à sua cura.
"Ele dizia aos médicos: 'eu posso andar, fale para eles, mãe'. Meu coração estava em pedaços. Eu ia para meu carro, chorava, mas voltava e falava: 'Sim, você pode. Faremos isso, eu acredito em você'", contou ela.
Dois anos depois, ele mais uma vez se recuperou e conseguiu voltar à ginástica. Apesar de enxugar o chão para financiar os treinos, ele conseguiu retomar a atividade. Sem conseguir se afastar dos hospitais, teve algumas fraturas "comuns" na ginástica, no braço e no pulso e até uma ruptura de ligamento. Mas era pouco para vencê-lo.
Como atleta, o irlandês mostrou talento com três pódios em etapas da Copa do Mundo em 2011 e faturou o primeiro ouro para seu país na história, no solo. Favorecido por novas regras de classificação para as Olimpíadas, que diminuíram de seis para cinco os atletas classificados por equipe e privilegiaram vagas individuais, o ginasta cumpriu seu sonho e estreará neste sábado.
"Parece que passei por um conto de fadas para chegar até aqui", disse Behan, que dá sua explicação para a comovente história de resistência. "Apenas acho que nasci assim."