Cortada dos Jogos por racismo, grega vê punição excessiva: "Não consegui dormir"
Das agências internacionais
Em Atenas (Grécia)
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Matt Dunham/AP Photo
Papachristou reclamou da decisão do Comitê Olímpico Grego e apontou problemas no esporte do país
Excluída da delegação grega que disputará as Olimpíadas, Voula Paraskevi Papachristou se defendeu das acusações de racismo e reclamou da punição dada pelo Comitê Olímpico Grego. Abalada com a decisão, a atleta do salto triplo considerou a medida excessiva e aproveitou para criticar os dirigentes locais.
“Eu não consegui dormir e, para ser honesta, ainda estou tentando entender o que aconteceu”, disse Papachristou. “Estou tentando permanecer calma, pois senão poderia perder a cabeça. Sou muito grata ao meu técnico, à minha famíia e a todas as pessoas que me deram apoio”.
Papachristou, que se desculpou na última quarta-feira pelas mensagens ofensivas no Twitter, afirmou que considera excessiva a punição recebida e lamentou a decisão tomada pelo Comitê Olímpico Grego.
“Após tantos anos de dores e sacrifícios para tentar participar de minha primeira Olimpíada, estou muito chateada e decepcionada. Mas o que mais me chateou foi a reação excessiva e a velocidade da decisão disciplinar”, disse a atleta.
Com 23 anos, a triplista é considerada uma das musas do esporte grego e se planejava para embarcar rumo a Londres na próxima semana. Sua melhor marca na temporada foi de 14,58 m, números bem distantes dos principais nomes das modalidades.
“Não sei se eles querem me fazer de exemplo por causa de meu perfil, isso é para outros julgarem. Mas eu acredito que eles usaram o máximo poder disciplinar contra mim”, lamentou Papachristou.
A polêmica envolvendo a atleta começou na segunda-feira, quando Papachristou escreveu mensagem considerada racista em seu Twitter. “Com tantos africanos na Grécia... os mosquitos que vêm do oeste do (rio) Nilo pelo menos vão comer comida caseira”, disse a atleta através do microblog.
Políticos de partidos de esquerda criticaram severamente a atleta e solicitaram sua exclusão da delegação grega que disputará os Jogos de Londres. O Comitê Olímpico do país considerou que a atitude da atleta contrariou o ‘espírito olímpico’ e optou por cortar a triplista.
Ao ser informada do corte, a atleta de 23 anos emitiu um comunicado pedindo desculpas pelo que considerou “uma brincadeira sem graça”. “Estou muito envergonhada pelo comentário irresponsável que fiz, pois nunca quis ofender a ninguém ou infringir direitos humanos”, afirmou Papachristou, em sua página no Facebook. “Meu sonho é ligado aos Jogos Olímpicos, e não posso participar se não respeitar esses valores. Nunca acreditei em discriminação entre humanos e suas raças”, afirmou.
Papachristou aproveitou a oportunidade para criticar a estrutura dada aos atletas gregos. Segundo a triplista, os esportistas do país não recebem qualquer ajuda governamental e sofrem com condições precárias nos treinamentos.
“Nós temos suporte zero do Estado. É uma área que as pessoas não ficam sabendo de muitas coisas, como as condições inaceitáveis que temos para treinar. Por exemplo, não há água quente nos chuveiros durante o inverno, ou ar condicionado durante o verão. E isso é só a ponta do iceberg, para não mencionarmos o lado financeiro e como nós somos afetados pelos sucessivos cortes de verbas no fundo voltado ao esporte”, reclamou a atleta.