"Olimpíada é a época que mais me deprime", diz patinador brasileiro nº 2 do mundo
Aline Küller e Ana Jardim
Do UOL, em São Paulo
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Jorge Araújo/Folhapress
Patinador Marcel Stürmer é tricampeão Pan-Americano e lamenta modalidade não ser olimpica
Tricampeão pan-americano, vice-líder do ranking mundial, 15 títulos brasileiros e um da Copa do Mundo. Com esse currículo, o gaúcho Marcel Stürmer seria um candidato óbvio à medalha nos Jogos Olímpicos de Londres. Mas o atleta não terá nenhuma chance na Inglaterra. Ele não vai disputar a competição porque a patinação artística não faz parte do programa olímpico.
”Olimpíada é a época que mais me deprime. Todo atleta sonha em ir para uma, seria uma chance imensa conquistar uma medalha para o Brasil. É um tanto desgastante, já que conheço 50% dos atletas [que farão parte da delegação brasileira em Londres]. Ver teus amigos, as pessoas que você conhece. Todo mundo sabe que eu gostaria de estar lá. É como seus amigos irem para a balada e você ficar em casa estudando”, desabafa o patinador de 26 anos.
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Aos sete anos, Marcel Stürmer participou do seu primeiro campeonato de patinação
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Com dificuldades para obter patrocínio, Marcel viaja o mundo e realiza o seu show de patinação
Em 2007, Marcel chegou a receber um convite do COB (Comitê Olímpico Brasileiro) para trocar de modalidade e começar a prática da patinação artística no gelo, que faz parte dos Jogos Olímpicos de Inverno. Porém, o patinador não aceitou.
“[Não aceitei] Porque estava começando a vencer os torneios importantes, vivendo meu sonho desde criança. Não quis trocar algo que já estava dando certo por algo novo e incerto”, alega.
Apesar de assumir que agora seria um bom momento para fazer essa transição, o gaúcho diz que não recebeu mais convites do COB e afirma que que a sua maior dificuldade caso trocasse de modalidade seria com o material (os patins de lâmina e o gelo): “porque os saltos e os giros são os mesmos”.
Stürmer também reclama da dificuldade em conseguir patrocínio e revela plano de aposentadoria após o Mundial deste ano na Nova Zelândia.
”O Brasil não é o país que tem tradição em patrocinar seus atletas, é um absurdo. Tive que ser campeão no Pan para conseguir apoio. O Brasil quer ser uma potência olímpica sem ter patrocínio direito. Não adianta deixar tudo lindo e não cuidar dos seus atletas. Isso é cuidar desde criança, por orgulho do que o país fez por eles”, argumenta.
Apesar da desilusão com a falta de reconhecimento olímpico da patinação, Marcel não se arrepende da escolha e mostra gratidão à carreira.
“O esporte me proporcionou tudo, minha visão de mundo seria muito diferente se eu não tivesse me tornado um atleta, o que mais gosto é poder conhecer as pessoas e o que esses relacionamentos significam para mim”, diz.
Natural de Lajeado, interior do Rio Grande do Sul, o patinador conta que teve o primeiro contato com o esporte na escola. A patinação era um esporte extra-classe e como “300 pessoas patinavam, era algo normal”.
”Já havia feito outros esportes, mas não sentia que era bom, então fui assistir a um show de Natal e disse que queria tentar [a patinação]. No ano seguinte, voltaram às aulas e no primeiro dia já patinei de frente, de costas. Era isso que estava reservado pra mim, não tinha como não ser. Com nove anos, eu fui campeão pela primeira vez na minha categoria”, relembra.
Em preparação para a disputa do Mundial da Nova Zelândia em setembro, Stürmer diz que é um homem vaidoso, que gosta de se cuidar, de estar com o cabelo cortado e com a barba feita.
Olimpíada é a época que mais me deprime. Todo atleta sonha em ir para uma, seria uma chance imensa conquistar uma medalha para o Brasil
A dieta do patinador é de quatro mil calorias diárias, e ele conta que até abre uma brecha para doces, mas refrigerante é item proibido no cardápio do gaúcho que tem uma pesada carga de treino, com trabalhos específicos da parte técnica, coreográfica, reforço muscular e fisioterapia.
O objetivo do patinador é vencer a competição na Oceania e se tornar o melhor do mundo da modalidade. Após isso, os planos de Stürmer estão fora da patinação e ele pretende se dedicar exclusivamente à carreira de marketing, área em que cursa faculdade e diz que sempre se deu bem.
“Questão de lógica, não quero ser professor e nem treinador quando parar de patinar. Decidi fazer marketing porque sempre me dei bem e consegui patrocínio com amigos. Tenho esse lado bom da negociação, quis isso porque não sabia o que era pós-carreira e posso usar em diversos setores”, explica.