Paraolímpico da esgrima supera drama de tiro em assalto na busca por medalha em Londres

Bruno Freitas

Do UOL, em São Paulo

  • Grêmio Náutico União/Divulgação

    Jovane Guissone (à esquerda) em ação em torneio internacional; brasileiro é esperança em Londres

    Jovane Guissone (à esquerda) em ação em torneio internacional; brasileiro é esperança em Londres

Um dos destaques da equipe que representará o Brasil nos Jogos Paraolímpicos deste ano encontrou o esporte somente a partir de uma tragédia. Quis o destino que um tiro na espinha durante um assalto levasse Jovane Silva Guissone para a cadeira de rodas e, posteriormente, para a esgrima adaptada. Hoje, oito anos após a tragédia pessoal, o atleta gaúcho pretende levar toda sua história de superação à batalha por uma medalha no evento.

Bronze no Mundial do Canadá em 2011 e prata na Copa do Mundo da Alemanha neste ano, Jovane diz apostar em um pódio em Londres. O atleta de 29 anos treina em Porto Alegre com os mesmos técnicos de Guilherme Toldo, brasileiro classificado para a Olímpiada na esgrima [disputa do florete].

"Com certeza, acredito na medalha, até pelos resultados internacionais, com cinco medalhas. Estou focado para fazer o meu melhor. Se Deus quiser, vou surpreender o Brasil lá", afirma o atleta paraolímpico, que trabalha sob orientação dos técnicos Alexandre Teixeira e Eduardo Nunes.  

A vida de Jovane Guissone mudou bruscamente em novembro de 2004, quando o futuro atleta sofreu um assalto na cidade de Canoas. No incidente, o jovem levou um tiro que perfurou pulmão, baço e acertou a espinha. A lesão acabou interrompendo as funções motoras das pernas do gaúcho para sempre.

"Passei por muita fisioterapia, adaptação de cadeira, adaptação de casa, para acessibilidade. Mas acho que a gente não pode pensar no pior. Tem que ter uma atitude positiva. Estou muito feliz agora de estar representando o Brasil em Londres", declara.

Na batalha de preparação aos Jogos Paraolímpicos, Jovane diz não contar com patrocínio e recebe treinamento voluntário dos mesmos técnicos de Guilherme Toldo em Porto Alegre, profissionais do clube Grêmio Náutico União. O atleta paraolímpico reside em Esteio, região metropolitana de Porto Alegre. Assim, todo dia precisa enfrentar uma maratona de deslocamento para poder praticar o esporte que escolheu [depois de uma experiência inicial no basquete adaptado].

"Saio de casa às 7h30 da manhã e pego o primeiro ônibus. Depois faço um trecho de trem. A seguir pego outro ônibus, e mais outro. Chego por volta de 10h na academia e aí treino até 12h. Paro para almoçar e depois retomo o treino até 4h30. Chego em casa umas 19h", descreve o atleta da esgrima adaptada.

Jovane compete na categoria B (espada e florete), para atletas sem muita mobilidade de tronco. Antes dos Jogos, ainda disputa a Copa do Mundo em Varsóvia, na Polônia, e uma competição em São Paulo. A seguir, encara um mês de treinos e aclimatação em Manchester, bancados pelo Comitê Paralímpico Brasileiro.

Atualmente casado, Guissone diz que levará à busca pela medalha a inspiração do filho Jovane Júnior, de nove meses. "Me dá mais vontade de lutar, por ele também", afirma.

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