Cientista traça limite de Usain Bolt em 9s45, e brasileiros veem melhora atrelada à largada

Bruno Freitas

Do UOL, em São Paulo

  • AP Photo/David Guttenfelder

    Usain Bolt tem a largada como o ponto fraco de seu repertório técnico de recordista mundial

    Usain Bolt tem a largada como o ponto fraco de seu repertório técnico de recordista mundial

Os esportes que convidam a ciência a pensar até onde o homem pode chegar vez ou outra levam esse tipo de reflexão sobre os limites do corpo a estudos acadêmicos.

O último exemplo do gênero vem da Inglaterra, onde um cientista acaba de publicar um estudo que discorre como o recordista mundial dos 100 m Usain Bolt pode fazer sua marca chegar a 9s45 – 13 centésimos melhor do que o tempo que vigora hoje em dia.

O estudo publicado nesta semana no jornal científico "Significance", assinado pelo pesquisador John D. Barrow, indica que o velocista jamaicano pode baixar seu tempo na prova mais popular do atletismo baseado em variáveis de três tópicos de disputa [explicação em tópico mais abaixo], em argumentação que já aquece o debate sobre o desempenho do ídolo na Olimpíada de Londres neste ano.

Ouvidos pela reportagem do UOL Esporte, especialistas brasileiros dizem que a melhora de Bolt está atrelada ao aperfeiçoamento de seu estilo de largada.

EVOLUÇÃO DA MARCA DE BOLT

  • Michael Kappeler/AFP

    Usain Bolt tirou do compatriota Asafa Powell o recorde mundial dos 100 m em maio de 2008, em Nova York, ao estabelecer 9s72. O jamaicano conseguiria melhorar o tempo no mesmo ano, nos Jogos Olímpicos de Pequim, com 9s69.

    O melhor desempenho da história da prova foi protagonizado por Bolt em 2009, durante o Mundial de Berlim, quando o ídolo cravou 9s58.

    Bolt também fez sua tradicional comemoração dos dedos apontados para o céu com o recorde vigente dos 200 m rasos, que atualmente é de 19s19.

    O favorito ao ouro nos 100 m e 200 m nas disputas no Estádio Olímpico chegará a Londres perto de fazer 26 anos [faz aniversário em 21 de agosto].

Pensando nas três variáveis do estudo combinadas, Barrow aponta que, se conseguir melhorar seu tempo de reação em largadas em pelo menos 0s10, e correndo em condições máximas permitidas de vento e altura, Bolt poderia levar a marca da prova a um limite de 9s45.

Usain Bolt detém o recorde dos 100 m rasos desde maio de 2008, quando quebrou o tempo de seu compatriota Asafa Powell, diminuindo-o de 9s74 para 9s72. De lá para cá, o jamaicano conseguiu melhorar a marca duas vezes, tendo o desempenho de 2009 no Mundial de Berlim como a performance mais perfeita da história da prova, com 9s58.

Atualmente, o atleta em atividade que tem a marca mais próxima do recorde de Bolt é o norte-americano Tyson Gay, com 9s69.

"A saída de bloco [de Bolt] é ruim. Mas eu acredito que ele consiga fazer 9s50 em Londres. Ele vai cravar isso, até porque é a última Olimpíada dele. Considero ele o Pelé do atletismo", diz Claudinei Quirino, medalha de prata no revezamento 4 x 100 m nos Jogos de Sydney-2000.

"Dá para melhorar a largada. Não vai ser como aquele atleta que nasce com uma explosão especial de largada, mas pode aprimorar com o treino", acrescenta o ex-velocista brasileiro.

Para outro brasileiro, o técnico Victor Fernandes, da equipe BM&F, a tendência é que Bolt esteja dedicando parte considerável de seus treinos ao fundamento da largada.

"Como todo atleta alto (1,95 m de estatura), o Bolt não tem uma boa saída. Ele pode melhorar, como já melhorou bem desde 2008. Seus tempos mostram isso. Acredito que o treinador dele investiu em treinamento de saída de bloco, trabalhando a força explosiva", declara o técnico brasileiro, que eventualmente assessora Katsuhico Nakaya com os velocistas da seleção nacional.

Uma amostra da pressão que Bolt encara diante desse fundamento aconteceu em 2011, durante o Mundial de Daegu, na Coreia do Sul, quando o favorito jamaicano foi desclassificado da final após queimar a largada. O título acabou com seu compatriota Yohan Blake.

CENÁRIO DOS SONHOS: MELHORAR LARGADA, VENTO FAVORÁVEL E ALTITUDE

Apenas uma das variáveis do estudo inglês coloca em discussão uma melhora técnica no estilo de Bolt. Trata-se da explosão de arranque, considerado o ponto fraco do repertório técnico do maior velocista de todos os tempos.

O jamaicano costuma apresentar índices piores que seus adversários na saída do bloco de largada, mesmo considerando seus melhores desempenhos na carreira.

  • AFP

    Sob efeito de doping, Ben Johnson cravou 9s79 na final olímpica de Seul-1988. O norte-americano Carl Lewis (esq. na foto) acabou com a vitória com 9s92

  • REUTERS/Ray Stubblebine

    O jamaicano Asafa Powell foi o melhor antes da "era Bolt" e ostentou o recorde mundial com o tempo de 9s74. A marca reinou até maio de 2008

Nesse quesito, ele foi o segundo mais lento entre os finalistas da Olimpíada de Pequim, em 2008, e o terceiro pior na prova em que estabeleceu a melhor marca da história, em Berlim, no ano seguinte.

Seu pico de velocidade na prova é de 10,6 metros por segundo e, de acordo com o estudo, poderia ser ainda melhor caso sua largada fosse mais eficiente.

O tempo de reação de Bolt na final olímpica de 2008 foi de 0s165, enquanto que o melhor no quesito teve 0s133. O cientista responsável pelo estudo argumenta que o jamaicano poderia levar seu tempo para 9s55, caso melhorasse a saída em 0s12.

Ainda de acordo com o estudo inglês, outras duas variáveis podem contribuir para uma diminuição do tempo recorde na execução dos 100 m rasos. O cientista John D. Barrow pondera inicialmente sobre a velocidade do vento.

O recorde mundial vigente de Bolt foi registrado com um vento a favor de 0.9 m/s. Para a marca ser declarada válida pela Iaaf (sigla em inglês para a Federação Internacional de Atletismo), a prova deve ser disputada com ventos favoráveis que não excedam 2.0 m/s. Dentro somente dessas condições, o cientista calcula que o jamaicano poderia cravar até 9s48.

A última variável trata do impacto da altitude sobre provas de velocidade. John D. Barrow diz que cada mil metros de altura provocam redução de até 0s03 no resultado final do velocista, em razão da densidade do ar. No entanto, a altitude máxima para fazer de um recorde legítimo pelas normais internacionais é de 1.000 m. 

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