"Rebeldes" do hipismo acusam Rodrigo Pessoa de privilegiar amigos; confederação rebate

Gustavo Franceschini

Do UOL, em São Paulo

Rodrigo Pessoa, medalhista de ouro nos Jogos Olímpicos de 2004 e maior ícone do hipismo brasileiro na história, está na mira de cavaleiros descontentes.

Atualmente ocupando a condição de atleta e técnico da seleção simultaneamente, ele sofre críticas por supostamente favorecer seus amigos na montagem da equipe verde-amarela.

  • Sergio Moraes/Reuters

    Dono de vasto currículo, Rodrigo Pessoa acumulou funções e passou a ser cobrado por seus colegas

  • Ricardo Nogueira/Folhapress

    Fora do time titular no Pan de 2011, Cesar Almeida disparou críticas a Pessoa, chamado de mimado

“Ele não tem nenhum problema declarado comigo. O que aconteceu foi que, quando ficou instituído ele como técnico, eu disse que era contra. Ele não gostou disso, é muito mimado. O Rodrigo manda no hipismo brasileiro e só salta quem ele quer”, disse Cesar Almeida, membro da seleção em três Pan-Americanos, inclusive no de Guadalajara, em 2011.

E foi justamente por conta da competição no México que o problema explodiu. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Cesar Almeida disse que não vai participar da competição de observação que acontecerá em São Paulo neste fim de semana. Sob análise da comissão técnica da CBH (Confederação Brasileira de Hipismo), cavaleiros vão brigar por uma vaga no time que representará o país em Londres.

No ano passado, Cesar venceu a seletiva que aconteceu no Brasil e garantiu vaga no Pan. Durante a preparação, no entanto, ele foi informado por Rodrigo Pessoa e Jean Maurice Bonneau, chefe de equipe, que seria reserva.

“Não foi só uma opção técnica. O cavalo dele conseguiu saltar só duas provas na Europa durante a preparação e ele não vinha tão bem quanto a Karina [Johannpeter]. Cesar saltou dois torneios e a Karina, no mínimo quatro”, disse Luiz Roberto Giugni, presidente da CBH (Confederação Brasileira de Hipismo).

Cesar Almeida contesta. Diz que sua égua sofreu com uma flebite (diagnosticada pelo seu veterinário particular), mas que foi considerada apta e teve resultados semelhantes aos de Bernardo Alves, outro membro da equipe que foi titular.

Luiz Giugni afirma que, além da flebite, o animal montado por Cesar teve uma baixa de glóbulos que atrapalhou seu desempenho em uma das competições.

O cavaleiro diz que chegou a ouvir de Jean Maurice que seria titular dias antes de receber a notícia definitiva de seu corte. “O Rodrigo me chamou com o Jean Maurice, que estava de cabeça baixa, e me disseram que eu ia ser o reserva. Por que isso? Fui campeão brasileiro, ganhei a seletiva. Ele disse: 'Tudo o que foi feito no Brasil não significa nada. Só o daqui [da Europa]’”, relata Cesar.

ÉGUA TERIA CAUSADO UMA ÚLTIMA DISCUSSÃO

Durante a preparação para o Pan, os cavalos e a seleção ficaram na casa de Rodrigo Pessoa, na Bélgica. Depois, a égua de Cesar Almeida teve de passar 20 dias na Europa, em quarentena, antes de voltar ao Brasil. Segundo ele, o animal foi impedido de voltar à propriedade do cavaleiro-técnico.

"Tive de deixá-lo na casa de um brasileiro que também estava lá. Meu tratador teve de se virar em um hotel, e eu que mandei dinheiro para ele. A CBH só pagou vários dias depois", afirmou Cesar Almeida.

Luiz Giugni, da CBH, rebate. "Não é verdade. Os proprietários do cavalo dele tinham qualquer desconforto com o Rodrigo e pediram para que ele não ficasse lá", disse o cartola.

A suposta postura de Rodrigo remonta a outro momento recente da história do hipismo brasileiro.

Em 2007, Vitor Teixeira, segundo na seletiva nacional, foi à Justiça brigar por uma vaga no Pan do Rio de Janeiro após ver Pedro Veniss e Karina Johannpeter serem convocados de maneira subjetiva.

Desta vez, ele acha que o problema está em um suposto acúmulo de cargos do ex-colega de seleção.

“O Rodrigo poderia ser usado como treinador, mas não como selecionador. Aí há um conflito. O selecionador deve estar isento e livre para viajar e acompanhar todos os atletas, e não é o caso do Rodrigo. O Jean Maurice vai me desculpar. Ele é bem intencionado, capaz, mas não percebi nele uma voz ativa na formação final da equipe. Para mim ele é um laranja”, disse Vitor Teixeira.

Para o cavaleiro, Rodrigo Pessoa é quem, na verdade, escolhe os membros da seleção. A CBH discorda. “Eles estão mentindo. Se você abrir o nosso site e olhar os critérios, vai ver que o Rodrigo não é selecionador. Na última hora, ele vai receber os cinco cavalos e só se reserva ao direito de escolher quem será o reserva”, diz Giugni, acrescentando que a função de escolha dos membros do time cabe a um time composto por vários dirigentes, inclusive ele mesmo e Jean Maurice.

Os rebeldes dizem que o clima é de insatisfação geral e que vários cavaleiros estão incomodados com os supostos superpoderes de Rodrigo. Giugni rebate dizendo que ambos pediram, desde o início do ano passado, a documentação necessária para poderem competir pelo Paraguai e que o astral na seleção é ótimo.

A reportagem tentou entrar em contato com Rodrigo Pessoa, mas foi informada pelo presidente da CBH de que ele está competindo nos Estados Unidos e não terá tempo de falar com a imprensa.  

Rodrigo Pessoa, cavaleiro brasileiro
Rodrigo Pessoa, cavaleiro brasileiro

UOL Cursos Online

Todos os cursos