Dono de índice olímpico lembra época de guarda-vidas e resgate de corpo em decomposição
Alexandre Sinato
Do UOL, em Campinas
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Ricardo Brandão/Agif
O nadador João Gomes Jr. comemora a obtenção do índice olímpico nos 100 m peito
Atualmente, João Gomes Júnior tem índice olímpico para Londres-2012 e o segundo melhor tempo brasileiro nos 100 m peito. Nas próximas três competições que garantem vaga nos Jogos, precisa pelo menos se manter na segunda posição nacional para carimbar sua passagem.
Aos 26 anos, ele está perto do sonho olímpico, mas já viveu experiências, no mínimo, intensas até chegar à elite. Além de ter sido garçom, também fez carreira como guarda-vidas e precisou resgatar corpo em decomposição logo na “estreia”.
Natação do Pinheiros "foge" de São Paulo por tranquilidade
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Desde a semana que antecedeu o Carnaval, a natação de alto nível do Pinheiros “fugiu” de São Paulo. O clube fez uma parceria com a Prefeitura de Campinas e levou dez de seus atletas para o Centro Esportivo de Alto Rendimento, inaugurado em maio de 2011. O objetivo é fugir das distrações da capital, melhorar a alimentação e aumentar o descanso dos atletas.
Bruno Fratus, que mira uma medalha olímpica nos 100 m livre e já tem vitória sobre César Cielo na carreira, gostou da mudança e levou todos seus pertences para o flat alugado pelo Pinheiros. Sempre que o time não estiver viajando para competir, treinará em Campinas.
“São Paulo não combina com alto rendimento. Não dá para demorar 40 minutos para percorrer três quilômetros. Eu morava no Itaim Bibi, no meio da bagunça, muito barulho, além de toda a poluição. Trouxe tudo para cá e achei excelente”, opinou Fratus. “Podemos voltar para São Paulo no fim de semana, mas prefiro ficar aqui e conhecer a cidade. E também tenho alguns amigos em Campinas.”
Para se manter sem a ajuda dos pais, João Gomes Jr. trabalhou como guarda-vidas dos 18 aos 23 anos, indicado pelo treinador do clube onde nadava no Espírito Santo. E logo na estreia na função viveu uma das experiências mais marcantes de sua vida.
“O meu primeiro resgate foi um senhor já em decomposição. Ele estava morto havia três dias e estava num rio cheio de siris, sendo comido por eles. Eu nunca tinha visto uma pessoa morta, muito menos tocado. Você fica bastante sentido na primeira vez, mas depois vê tudo como um trabalho mesmo”, contou o capixaba. “As pessoas que você ajuda compensam a parte ruim.”
Antes da aventura como guarda-vidas, João Gomes Jr. teve outro emprego na praia: garçom durante o verão. Ele ficava descalço o dia inteiro, carregando bandejas nos fins de semana e feriados.
“Não era fácil carregar bandejas de 5 kg depois de treinar natação a manhã inteira, mas era bom ganhar R$ 300, R$ 400 por fim de semana.”
Ele nunca abandonou a natação e teve tais atividades paralelamente ao esporte. Até faculdade João Gomes Jr. cursou em Vitória: em 2007, formou-se em sistemas de informação. Dois anos antes de receber o diploma, decidiu que se dedicaria totalmente à natação assim que possível.
“Em 2005 [aos 19 anos], falei para meu pai que iria batalhar pela natação e que ele não precisaria mais me ajudar com viagens e outras coisas. Eu queria me manter, por isso fui trabalhar como garçom”, recordou.
A aposta deu certo. Hoje, João Gomes Jr., do Pinheiros, tem o segundo melhor tempo brasileiro nos 100 m peito, com 1min00s40. Está atrás somente de Felipe França, que tem 1min00s01. Henrique Barbosa e Felipe Lima também nadaram abaixo do índice e brigam pela vaga olímpica.