Alvo de ataque, confederação de vela defende atual sistema de classificação olímpica

Luís Curro

Do UOL, em São Paulo

Às vésperas do início da Semana Brasileira de Vela, uma das etapas que definem os nomes que defenderão o Brasil na Olimpíada de Londres, a CBVM (Confederação Brasileira de Vela e Motor) defendeu-se de críticas desferidas por Lars Grael, dono de dois bronzes olímpicos.

Em seu blog, em post intitulado “Pré-Olímpica de Vela - O Suicídio do Elefante”, Lars escreveu que a confederação mudou a regra de classificação a fim de “proteger os interesses dos membros da Equipe Permanente de Vela Olímpica - EPVO”.

Cita até a expressão “jogo de cartas marcadas” para externar sua insatisfação. E considera o evento em Búzios, que vai até 12 de fevereiro, um “desfile de pré-classificados”.

Lars, que é irmão de Torben Grael (o maior campeão olímpico brasileiro), condenou a decisão de fazer do Mundial da Austrália, em dezembro de 2011, a primeira etapa do qualificatório olímpico. O evento deu um ponto a cada barco brasileiro mais bem classificado em sua respectiva categoria (sete embarcações obtiveram essa vantagem). O segundo ponto virá da competição no RJ.

“Num país com mais de 8 mil km de costa, fazer eliminatória na Austrália (não poderia ser mais longe?) é no mínimo um casuísmo. Isso por um acaso é esporte de inverno que tem que fazer seletiva olímpica nos Alpes suíços?”, questionou Lars, para, na sequência, justificar as “cartas marcadas”.

VELEJADOR PERDEU PERNA EM ACIDENTE EM 1998

Marcelo Ximenez/Folhapress
Lars Grael era um dos melhores velejadores do Brasil, dono de duas medalhas olímpicas, quando sofreu um sério acidente. Em setembro de 1998, ao velejar nas águas de Vitória (ES), foi atropelado por uma lancha e teve a perna direita mutilada. Tempos depois, voltou a competir e também passou a se dedicar à política esportiva. Foi secretário nacional de Esportes no governo Fernando Henrique Cardoso e secretário estadual de Esportes no governo Geraldo Alckmin.

“Marcadas porque somente o membro da EPVO iria para a Austrália com tudo pago, técnico e barco novo. O princípio da competitividade parte do pressuposto da isonomia de chances entre os concorrentes no certame.”

Na visão de Lars, que foi medalha de bronze na classe Tornado nas Olimpíadas de Seul-1988 e Atlanta-1996, isso serviu para desmotivar a maior parte dos velejadores, podendo inclusive afetar a renovação na modalidade. “Ninguém quer ser azeitona da empada dos outros no atual formato da Pré-Olímpica.”

A reportagem do UOL Esporte entrou em contato com a CBVM, que se pronunciou por intermédio de seu superintendente, Ricardo Baggio.

UOL Esporte - Quais argumentos a CBVM tem para rebater a premissa de que a regata pré-olímpica será “um desfile de pré-classificados”, ou seja, velejadores competindo em condições muito mais vantajosas do que outros?

Ricardo Baggio - A alteração do sistema seletivo visou garantir o bom nível técnico do representante brasileiro nos Jogos Olímpicos de Londres, pois o sistema seletivo anterior previa apenas um único evento, o que possibilitava a eventual classificação de velejador que não estivesse se dedicando à campanha olímpica. O novo sistema mantém a competitividade dos velejadores que não estão se dedicando à campanha olímpica, pois vencendo a Semana Brasileira de Vela esses velejadores estarão aptos a disputar a vaga para os Jogos de Londres contra o velejador que conquistou a vaga do Brasil [no Mundial na Austrália], em um terceiro evento, indicado e custeado pela CBVM.  No novo sistema as chances permanecem abertas a todos os velejadores. (...) Não há por que a Semana Brasileira de Vela ser considerada "um jogo de cartas marcadas".

No novo sistema as chances permanecem abertas a todos os velejadores. Não há por que a Semana Brasileira de Vela ser considerada um jogo de cartas marcadas

Ricardo Baggio, superintendente da CBVM

UOL Esporte - Procede a preocupação com a falta de renovação na vela brasileira?

Baggio - Já estamos tendo a renovação em algumas classes olímpicas e pan-americanas, que são promissoras [sic] para os Jogos Pan-Americanos de Toronto 2015 e para os Jogos Olímpicos do Rio 2016. Porém o investimento ainda é muito pequeno, visto que os recursos disponíveis são canalizados para a campanha olímpica.

UOL Esporte - O que a CBVM tem feito para que novos nomes surjam na modalidade que mais medalhas olímpicas (16) trouxe para o Brasil na história? 

Baggio - O investimento tem sido crescente, mas ainda em ações pontuais, principalmente na participação em eventos internacionais. Acreditamos que a partir de 2013 esse trabalho poderá ser bem mais efetivo, visto que poderemos desenvolver treinamentos e intercâmbios nas águas do Rio de Janeiro, palco dos Jogos Olímpicos Rio 2016.

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