"Neymar do badminton" ensina futebol a gringos e luta por ineditismo olímpico para o Brasil

Bruno Freitas

Do UOL, em São Paulo

  • Gaspar Nóbrega / Inovafoto / COB

    Daniel Paiola em lance na derrota para rival guatemalteco na semifinal do badminton do Pan

    Daniel Paiola em lance na derrota para rival guatemalteco na semifinal do badminton do Pan

Dentro do contingente que vai à Olimpíada de Londres neste ano, o Brasil poderá contar com um representante de um esporte que poucos torcedores do país têm alguma informação.

Trata-se de Daniel Paiola, do badminton, que batalha para colocar o país no mapa de uma modalidade dominada principalmente por atletas asiáticos.

Dentro desse universo, que nunca teve um brasileiro em uma disputa olímpica, o jovem de Campinas é tratado com ares de novidade, carregando apelidos de compatriotas jogadores de futebol.

Atualmente Daniel Paiola ocupa a posição de número 83 do ranking internacional de badminton, colocando o país no seleto grupo dos cem melhores do mundo. Mesmo já próximo do primeiro pelotão, o atleta lida com questionamentos e brincadeiras a respeito da origem brasileira e tradição de seus irmãos de nação com a bola de futebol, e não com a peteca característica de sua modalidade.

É AQUELE DA PETEQUINHA?

Daniel Paiola começou a se interessar pelo badminton no clube em que é sócio em Campinas, o Fonte São Paulo. A cidade do interior paulista é o principal centro da modalidade no país. Não por acaso, abriga a sede da confederação brasileira.

 

Mesmo em um lugar onde a informação sobre a modalidade é teoricamente maior, Paiola geralmente precisa atuar como um professor de badminton em seu círculo de relações pessoais, explicando do que se trata o esporte.

 

"No Brasil, eu vou ser sincero, o pessoal sabe que se trata daquela petequinha. Não sabem direito. Mas antigamente não conheciam nada, zero. Agora sabem um pouco, pelo menos que é uma peteca com raquete", brinca.

"Fui na Malásia, no Irã. Lá eles me chamam de Kaká, de Ronaldinho, e agora de Neymar também, porque ele está bem. Não me chamam pelo nome. Se joga bem, perguntam: ‘Por que o badminton?’. Fazem muitas piadinhas. Mas é normal", relata Paiola.

Para reforçar a fama de brasileiro bom de bola, ele bota os craques da peteca para correr em ocasiões de descontração longe das raquetes do badminton. 

"A gente joga futebol entre os atletas. Impressionante como os caras são muito ruins mesmo. Não sou bom de bola no Brasil, mas dei show contra eles", conta o atleta de 22 anos.

MARATONA INTERNACIONAL ATÉ MAIO

Atualmente Daniel Paiola está em Portugal, na Ilha da Madeira, onde treina com o técnico local Marco Vasconcelos, atleta que esteve em três Jogos Olímpicos.

O número 1 do Brasil não volta ao país antes de maio, pois disputará uma série de torneios internacionais. As próximas paradas serão Uganda e Los Angeles, em um circuito de funcionamento semelhante ao do tênis.

Todo esse esforço de longas viagens em nome de pontos na luta para assegurar uma vaga em Londres.

Cerca de 40 competidores estarão na chave de simples da Olimpíada, em classificação que considera uma cota definida por país. Nas contas de Paiola, a presença entre os 75 melhores do mundo até maio assegura sua condição de atleta olímpico.

No entanto, mais do que qualquer projeção de desempenho em Londres, para ele a classificação já vale como feito histórico, em razão de o país jamais ter tido um representante olímpico na modalidade.

Em sua estratégia de carreira, a meta prioritária é alcançar o auge técnico na participação nos Jogos seguintes, no Rio de Janeiro, quando terá 27 anos.

Até este momento, o projeto de Paiola para conquistar experiência no circuito teve como principais pontos o estágio de treinamento na Malásia, onde "os atletas são tratados como ídolos nas ruas", e o duelo contra seu grande ídolo no Campeonato Mundial.

  • Arnulfo Franco/AP Photo

    Daniel Paiola conquistou o bronze no badminton individual no Pan de Guadalajara, em 2011

"Enfrentei o [dinamarquês] Peter Gade em 2010, no Mundial de Paris. Foi uma ocasião especial ter sido sorteado para essa primeira partida, sou fã dele. Ele é um ídolo no esporte, na época era o segundo do mundo. É um atleta exemplar, com 34, 35 anos ainda joga em alto nível. Peguei amizade com ele. É muito humilde, nem parece ser um campeão mundial", relata.  

Outra experiência marcante para o jogadore de badminton foi tirada de sua passagem por duas edições do Pan. No Rio de Janeiro, em 2007, investiu o próprio dinheiro para se divertir como torcedor. Quatro anos mais tarde, o jovem de Campinas estava do lado oposto da arquibancada.

"Foi um grande sonho. Na primeira vez, em 2007 como torcedor, passei um mês no Rio. Adoro esportes. Não esperava em 2011 estar lá dentro", disse Paiola, bronze nos Jogos de Guadalajara no ano passado.

"É incrível estar numa Vila Pan-Americana. Acordar cedo, ralar, ver caras conhecidos com dificuldades como eu. Conversei com o Cielo [natação], o Hoyama [tênis de mesa], com a turma do handebol, do nado, da ginastica", acrescentou.

MEDALHINHA DO PAI E MÚSICA DE ROCKY BALBOA

Daniel Paiola afirma que não leva ao circuito nenhuma espécie de ritual de competição. No entanto, diz que se sente bem antes das partidas quando tem oportunidade de escutar um clássico dos cinemas.

"É aquela do Rocky Balboa", diz o atleta, antes de cantarolar um trecho do hit "Gonna Fly Now", célebre na cena de subida da escadaria do pugilista das telas interpretado por Sylvester Stallone.

O número 1 do badminton brasileiro também faz questão de usar no pescoço uma corrente que pertencia a seu pai, que morreu quando ele ainda era bebê. Paiola ainda tem a presença familiar por perto na carreira, com o irmão Ettore e o primo Tomaz, que cuidam do website oficial do jogador.

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