Brasileiros da maratona aquática encaram porrada e mão boba por vaga em Londres-2012

Alexandre Sinato

Do UOL, em São Paulo

  • Luiz Pires/VIPCOMM

    Allan do Carmo busca em Santos vaga na última seletiva para a Olimpíada de Londres

    Allan do Carmo busca em Santos vaga na última seletiva para a Olimpíada de Londres

Nadar 10 km no mar, traçar uma estratégia e manter a concentração durante cerca de duas horas não são os únicos desafios daqueles que competem na maratona aquática.

Dada a largada, os nadadores enfrentam troca de socos e chutes dentro d’água, intencionais ou não, além de “mãos bobas” dos rivais, lixo e algumas surpresas da natureza.

A partir das 10h deste domingo, em Santos, os brasileiros vão encontrar tudo isso em busca de vaga na última seletiva para a Olimpíada de Londres.

“Já levei bastante porrada, mas nunca me machuquei seriamente por causa disso. As pessoas nadam muito coladas, então dão muitas braçadas uma na outra. Um bate na cabeça do outro, nos óculos, no braço... Aí vai do nervosismo de cada um. Se o nadador estiver muito tenso, vai descontar do jeito que puder, mas, se for mais inteligente, espera a coisa acalmar, dá um murro no cara e continua a prova”, contou Allan do Carmo, bronze no Pan do Rio, em 2007, e sétimo colocado na edição de Guadalajara, em 2011.

ARMAS VÃO DE SOCOS A APERTÕES EM PARTES ÍNTIMAS

SOCOS

Forma mais simples de acertar o adversário, com ou sem intenção, durante uma braçada
CHUTE

É difícil ser identificado durante o movimento natural das pernas
PARTES ÍNTIMAS

Nadadores e nadadoras já relataram casos de toques nada agradáveis em áreas sensíveis
PUXÃO

O maiô é o lugar preferido para adversários que tentam segurar rivais
"ATROPELAMENTO"

Acontece principalmente quando atletas ficam próximos e "sobem" sobre os outros
"SANDUÍCHE"

Como jogo de equipe, dois atletas se aliam e espremem rival durante prova

POLIANA TEVE TÍMPANO PERFURADO

  • Juan Barreto/AFP

    Já garantida em Londres, Poliana Okimoto começou na maratona da pior maneira possível. Logo em sua primeira prova, ela recebeu uma cotovelada na orelha e sentiu muitas dores.

    Somente ao terminar a prova (vice-campeã), com sangue saindo do local, ela soube da suspeita de tímpano perfurado. A lesão foi confirmada depois.


Samuel de Bona já machucou o olho nas disputas da maratona. O gaúcho lembra até de casos com táticas bem apelativas.

“Um americano em Mundial já reclamou que apertaram as partes íntimas dele. É normal puxarem sua roupa. Tem muita malandragem. Eu já tomei chute sem saber de onde veio. O chute tirou meus óculos e cortou meu olho. Às vezes você tem que saber apanhar para continuar na prova e não perder mais tempo.”

Allan e Samuel estarão neste domingo na Maratona Aquática Internacional de Santos, primeira etapa do circuito de 10 km da Copa do Mundo da Federação Internacional de Natação (Fina).

No masculino, a prova contará com sete nomes já confirmados na Olimpíada de Londres, todos estrangeiros. O brasileiro mais bem colocado garante vaga na Travessia de Setúbal, em junho, última chance de conseguir a vaga olímpica.

“Não tive férias e vim treinando forte. Todos sabem que é a prova mais importante do ano para os brasileiros”, destacou Samuel.

Segundo a organização, 98 homens estão inscritos. “Acho que nunca vi uma prova desse nível com tanta gente. Isso aumenta ainda mais a dificuldade”, projetou Allan do Carmo.

Aumenta a dificuldade e, obviamente, o contato físico. A largada e as passagens pelas boias costumam ser os pontos de maior acúmulo de atletas. Não à toa, árbitros geralmente se posicionam nas boias para identificar eventuais agressões. Na maratona aquática, existe cartão amarelo e cartão vermelho. Desclassificações não são raras.

“Os árbitros não conseguem ver tudo. E muita coisa acontece sob a água, então fica difícil mesmo para eles”, contou Allan.

As agressões também acontecem no feminino. E se engana quem pensa que elas são mais delicadas.

“As mulheres mesmo dizem que elas são piores. Fazem as mesmas coisas, batem mesmo e ainda têm unhas mais compridas”, completou Samuel de Bona.

 

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