Marílson aposta em "guerra" entre quenianos para conseguir subir ao pódio em Londres
Alexandre Sinato
Do UOL, em São Paulo
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Antonio Scorza/AFP
Marílson levou a medalha de ouro nos 10.000 m no Pan de 2011, em Guadalajara
O domínio do Quênia na maratona impressiona. No masculino, os 20 melhores tempos de 2011 são de atletas do país. A última edição da Olimpíada foi vencida por um queniano, com direito a recorde. O índice olímpico para Londres-2012 foi atingido por 150 homens do Quênia.
Superá-los parece impossível, mas o brasileiro Marílson Gomes dos Santos luta contra as probabilidades. Na cola dos africanos, ele conta com alguns fatores para fazer do pódio uma realidade.
OS QUENIANOS PRÉ-SELECIONADOS PARA A OLIMPÍADA DE 2012
Patrick Makau | Atual recordista mundial |
Geoffrey Mutai | Campeão em Boston e Nova York |
Abel Kirui | Bicampeão mundial |
Moses Mosop | Campeão em Chicago |
Wilson Kipsang | Campeão da Frankfurt |
Emmanuel Mutai | Campeão em Londres |
Marílson é o primeiro não queniano a aparecer na lista dos melhores tempos do ano passado, com a 21ª marca. O número assusta, mas na Olimpíada cada país é representado por, no máximo, três nomes. Dentro dessa limitação, o brasileiro figuraria como o quarto melhor.
Mais que isso, Marílson e seu técnico, Adauto Domingues, também projetam uma disputa ferrenha entre os quenianos na prova olímpica. Devido ao alto nível da delegação, o segundo ou o terceiro lugar seria frustrante para os atletas do país, na lógica imaginada pelos brasileiros.
“Por serem três quenianos top na Olimpíada, todos com boa chance de ganhar, eles não vão querer nem o bronze. Podem até ganhar o bronze, mas vão brigar muito pelo ouro. E nessa disputa pode ser que algum deles ‘quebre’, e aí sobram mais vagas no pódio”, opinou Adauto.
O termo “quebrar” é usado para aqueles atletas que não conseguem completar a prova, geralmente por desgaste físico manifestado em dores, lesões e problemas estomacais.
“É mais fácil o Marílson ganhar uma medalha na Olimpíada do que nas principais maratonas, porque nas maratonas competem oito, nove, dez quenianos. E quenianos também ‘quebram’, mas, como sempre há muitos, outros quenianos ganham. Agora a chance de medalha em Londres é grande, desde que o Marílson esteja num dia bom”, apontou Adauto.
Marílson é o principal maratonista do Brasil e está garantido em Londres. Atual líder do ranking brasileiro nos 5.000 m, 10.000 m, meia-maratona e maratona, ele vai encarar na Olimpíada três dos 150 quenianos que fizeram o índice A exigido pelos Jogos. Desse batalhão, seis já foram pré-selecionados, entre eles o atual recordista mundial, Patrick Makau.
Segundo Adauto, os próprios quenianos comemoram a limitação de três atletas por país na Olimpíada. “Um ex-maratonista do Quênia me disse uma vez que era mais difícil disputar as eliminatórias nacionais do que a Olimpíada, porque nas eliminatórias eram mais de 20 quenianos.”
QUÊNIA ALIMENTA UMA FÁBRICA DE MARATONISTAS
De acordo com Adauto Domingues, técnico de Marílson, o grande número de atletas de alto nível do Quênia é resultado de um conjunto de fatores: biotipo, expectativa de ascensão social, altitudes elevadas do país, grande número de centros de treinamento e até a prática despretensiosa da corrida. "Muitos garotos moram em tribos e são obrigados a correr desde pequenos para irem às cidades. Alguns já disseram que faziam quase 18 km todo dia na ida à escola quando tinham dez anos. Aí, quando foram treinar, corriam só 15 km e nem sabiam que a distância que faziam para ir estudar era maior", relatou o técnico brasileiro. |