Judô se prepara em meio a pressão para ser 'carro-chefe' de medalhas do Brasil

Paula Adamo Idoeta

Da BBC Brasil, em Sheffield (Inglaterra)

  • Javier Galeano/AP

    Tiago Camilo é uma das esperanças de medalha nos Jogos de Londres

    Tiago Camilo é uma das esperanças de medalha nos Jogos de Londres

A delegação brasileira de judô iniciou nesta quarta-feira seus treinos para os Jogos Olímpicos de Londres, com uma delegação considerada forte, uma meta de medalhas superior à de Pequim-2008 e em meio à pressão por ser chamada de "carro-chefe" do Brasil em pódios.

O Brasil terá 14 judocas disputando medalhas em Londres e, pela primeira vez, a delegação terá representantes em todas as categorias do esporte.

"A meta é alcançar quatro medalhas, sendo uma de ouro. E chegar a uma final feminina", explica o técnico Ney Wilson.

É mais do que em Pequim-2008, quando o Brasil conquistou três bronzes, com Tiago Camilo, Leandro Guilheiro e Ketleyn Quadros. A final feminina também seria um feito inédito. E o ouro não é conquistado há 20 anos – o último foi o de Rogerio Sampaio, nos Jogos de Barcelona, em 1992.

Se a meta for cumprida, o judô pode se tornar o maior provedor de medalhas olímpicas para o Brasil, dependendo dos resultados obtidos pela vela (até o momento, a modalidade rendeu um total de 16 medalhas, contra 15 do judô).

Topo do ranking
A delegação atual conta com nomes experientes como Camilo e Guilheiro (o qual lidera o ranking de sua categoria) e com grandes esperanças de medalha, como Mayra Aguiar, prata e bronze nos últimos mundiais. Nove dos 14 judocas brasileiros estão no topo dos rankings de suas classes.

A expectativa fez com que o COB (Comitê Olímpico Brasileiro) chamasse o judô de "carro-chefe" das medalhas do Brasil em Londres-2012. A delegação do judô tenta aliviar a pressão dessa responsabilidade. Isolou-se em Sheffield, a 250 km de Londres, para treinar longe da empolgação da Vila Olímpica e dos holofotes da imprensa, ajudando os atletas a focar na competição, entre 28 de julho e 3 de agosto.

"O judô não é um esporte que receba tanta a atenção da imprensa (como ocorre durante a Olimpíada)", diz Ney Wilson. "Jogador de futebol está habituado. Mas para o judoca ter uma câmera o seguindo acaba interferindo, tirando sua atenção".

Para o técnico, a pressão cercando a delegação "não garante medalha a ninguém".

"Encaramos com naturalidade, sem ficar pensando nisso. Não temos obrigação a mais ou a menos por isso", afirmou o técnico. Mas ele admitiu que "como desde 1984 o esporte traz medalhas para o Brasil, isso gera expectativas".

E, em vez de premiar apenas os vencedores, a delegação já rateou um prêmio de R$ 1 milhão entre os 14 atletas que se classificaram à Olimpíada.

Favoritismo
A primeira a entrar no tatame, no dia 28, será a judoca piauiense Sarah Menezes, que tenta encarar a pressão sobre a modalidade como "uma responsabilidade grande, mas que deve ser levada de modo que nos ajude a crescer".

Para a atleta, o isolamento em Sheffield, a duas horas de trem de Londres, ajuda a equipe "a imaginar a Olimpíada apenas como as outras demais competições". Já Tiago Camilo diz que a pressão é "normal quando você vem de grandes resultados".

"É um sinal de que todo o mundo respeita e acredita no judô".

Ao mesmo tempo, os atletas bem colocados rejeitam a ideia de favoritismo.

"Não acredito em favoritismo. Não se chega com vantagem (no tatame) por ser a primeira do ranking", diz Mayra Aguiar, primeira colocada no ranking até 78 kg.

Para Leandro Guilheiro, ser o primeiro do ranking "tem prós e contras" - traz motivação, mas o deixa visado pelos demais competidores.

"Por um lado, te dá confiança de que o trabalho está sendo bem feito. Por outro, fica todo mundo vidrado em mim. Lutas que eram fáceis ficaram mais difíceis."

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