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Atletismo brasileiro é cobrado e terá preparação pressionada para Rio-2016

Danilo Verpa/Folhapress
Thiago Braz, do salto com vara, recebeu atenção especial do COB e da CBAt após mudança de diretriz na preparação imagem: Danilo Verpa/Folhapress

Guilherme Costa

Do UOL, no Rio de Janeiro

O atletismo do Brasil foi colocado em observação. Depois de uma temporada ruim em 2015 – pior desempenho do país em Jogos Pan-Americanos nos últimos 44 anos e apenas um pódio no Mundial da modalidade –, o COB (Comitê Olímpico do Brasil) resolveu acompanhar mais de perto a preparação de um de seus principais investimentos para os Jogos Olímpicos de 2016, que serão realizados no Rio de Janeiro. A reta final de treinos dos atletas que a entidade e a CBAt (Confederação Brasileira de Atletismo) classificaram como “apostas” tem sido marcada por uma diferença relevante de direcionamento.

“A comunidade do atletismo ficou preocupada. A partir daí a gente entendeu que era necessário provocar algumas mudanças para apurar nossos atletas um pouquinho mais para 2016. Estamos vendo de perto o que pode ser alterado na reta final e dando cobertura total”, contou Antonio Carlos Gomes, superintendente de alto rendimento da CBAt.

A mudança de diretriz foi definida no fim de 2015, em uma conversa do COB com a CBAt para avaliação da temporada. O comitê promoveu uma série de encontros desse tipo com as confederações esportivas nacionais, mas a reunião com os representantes do atletismo teve um tom diferente, de cobrança mais ríspida. A partir disso, a resposta foi uma aproximação maior entre o comando da entidade e as comissões técnicas que trabalham com os principais atletas.

“O COB esperava um pouco mais da equipe. Os resultados que a gente tinha obtido anteriormente haviam sido melhores”, admitiu Carlos Alberto Cavalheiro, técnico-chefe das equipes de velocidade e revezamento do atletismo brasileiro. “O COB queria que da confederação que alguém fosse lá e perguntasse ao treinador e aos atletas as necessidades que ainda existem. ‘Ah, eu preciso de uma máquina de gelo’. Então vamos providenciar uma máquina de gelo. ‘Ah, eu preciso de um fisioterapeuta para me dar atenção especial’. Tudo isso está sendo feito”, completou.

Até o Mundial de 2015, a CBAt tinha pouco contato com atletas brasileiros que treinavam no exterior. A despeito de terem estrutura bancada pela entidade e pelo COB, esses esportistas e seus estafes não possuíam qualquer protocolo para envio periódico de relatórios sobre desempenho e necessidades pontuais.

A solução encontrada por COB e CBAt foi fazer a confederação viajar mais. Foi em uma conversa presencial com o ucraniano Vitaly Petrov, por exemplo, que a confederação ouviu que um problema na alimentação era a justificativa dele para o desempenho ruim de Thiago Braz em 2015. O atleta do salto com vara treina em Fórmia (Itália).

“Cheguei aqui e relatei isso para o [Jorge] Bichara [gerente-geral de performance esportiva do COB]. Ele mandou um bioquímico e uma nutricionista para Fórmia, e eles passaram uma semana lá vendo o dia a dia do Thiago”, relatou Cavalheiro. Na próxima semana, o treinador terá novo encontro com o saltador em Varsóvia. Passarão três dias juntos, e depois o técnico viajará a Berlim para encontrar a velocista Rosângela Santos.

O programa de preparação do atletismo não é novidade. Na verdade, o plano que une esforços de COB e CBAt tem norteado todo o ciclo olímpico do Brasil. O que houve depois do Mundial foi apenas uma mudança na periodicidade das ações. “Agora realmente está funcionando. Essa é a diferença”, admitiu Cavalheiro.

O incremento de viagens e as benesses de última hora para os atletas que têm mais chance de bom desempenho nos Jogos Olímpicos têm sido bancados pelo COB. A CBAt é uma das cinco confederações nacionais que recebem cota máxima dos recursos que o comitê destina da Lei Piva (R$ 3,9 milhões anuais). Além disso, conta com patrocínio da Caixa Econômica Federal (R$ 16 milhões anuais) e receitas da Bolsa Pódio (R$ 6 milhões anuais).

Em 2015, apenas dois atletas brasileiros tiveram no Mundial um desempenho que igualou ou superou o melhor de suas carreiras (4,8% da delegação). Segundo estimativa da CBAt, a média mundial nesse quesito está na faixa de 28%. “Isso mostra que os resultados médios são superiores aos nossos. Mesmo com apenas 28% fazendo o melhor da vida, eles são superiores a nós”, ponderou Cavalheiro.

Para 2016, a meta de COB e CBAt é que pelo menos 50% dos brasileiros do atletismo façam marcas que igualem ou superem o melhor de suas vidas. A expectativa das duas entidades é que o país tenha uma delegação de 60 atletas na modalidade.

O acompanhamento mais próximo, os aportes de última hora, o tempo exíguo até os Jogos e a necessidade de um salto considerável constituem um cenário de pressão para o atletismo brasileiro até a Rio-2016. No entanto, a CBAt não teme os efeitos disso. “Se os atletas não ficarem ansiosos ou para baixo, pode até ser algo positivo”, encerrou Cavalheiro.

Consultado pelo UOL Esporte, o COB disse que mantém conversas periódicas com as confederações para avaliar rumos da preparação do Brasil para a Rio-2016 e negou cobranças específicas sobre o rendimento do atletismo.

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