Vídeos

Por que a Dinamarca faz diferente do Brasil e nem cogita sediar Olimpíada

Divulgação
Sediar os Jogos Olímpicos nunca foi objetivo da Dinamarca, que adota estratégia distinta imagem: Divulgação

Gustavo Franceschini

Do UOL, em Kolding (Dinamarca)

Foi em Copenhague, em outubro de 2009, que o Brasil coroou sua estratégia esportiva de anos ao ganhar o direito de sediar os Jogos Olímpicos em um Congresso do COI (Comitê Olímpico Internacional). Era o ápice do planejamento do Governo Federal e do COB, que desde o começo do século passaram a investir pesado no esporte de alto rendimento, trouxeram o Pan ao Rio em 2007 e já tinham a Copa do Mundo a essa altura. Se tivessem pedido conselho aos dinamarqueses, porém, teriam ouvido que esse não era o melhor caminho.

Sede do Mundial de handebol, o décimo país com melhor IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do planeta também quer, como o Brasil usar o esporte para fazer política. Sonha com grandes desempenhos esportivos e quer atrair grandes competições que fortaleçam o nome da Dinamarca pelo mundo, exatamente como planejou o Brasil há cerca de 13 anos.

A maneira encontrada pelos nórdicos para fazer isso, porém, é completamente diferente daquela adotada pelo Brasil. A comparação, é claro, precisa levar em conta as diferenças das duas nações. Com quase 43 mil de km², a Dinamarca é um pouco menor que o Estado do Espírito Santo e tem “apenas” 5,6 milhões de habitantes.

Ainda assim, o pensamento do país europeu reflete o que vários de seus pares de primeiro mundo vêm concluindo sobre o esporte de alto rendimento. E como você verá abaixo, a avaliação é de que o modelo está mais para Dinamarca que para Brasil.

"Não temos condições para fazer grandes eventos"

Se no Brasil a ideia de receber o planeta sempre foi a menina dos olhos dos políticos, na Dinamarca é o oposto. O país avalia, há anos, que não tem capacidade de receber eventos de porte gigantesco como uma Olimpíada ou uma Copa do Mundo. A falta de infraestrutura necessária é considerada proibitiva pelos dirigentes locais.

“Nós não estamos em condições de fazer isso. Nós precisamos de muitos espaços esportivos para eventos como esses. Na Dinamarca nós não temos, por exemplo, um estádio para atletismo ou uma arena para a natação. As Olimpíadas exigem muita coisa em termo de locais de competição”, disse Lars Lunden, CEO da SportEvent Denmark, a agência governamental que cuida da organização e promoção de competições esportivas no país.

Até aí, você pode pensar, o Rio de Janeiro também não tinha. O Engenhão, por exemplo, foi erguido pelo poder público para o Pan de 2007. Para os Jogos do ano que vem, a Cidade Maravilhosa terá uma coleção de novas instalações esportivas que sairão do papel para os Jogos Olímpicos. A questão é que, na Dinamarca, a avaliação que se faz é de que os investimentos em obras do tipo não se pagam.

“Não temos interesse em investir nisso. Pelo menos não no momento. Os valores seriam muito altos”, diz Lunden. A argumentação é a mesma que cidades de diferentes portes usaram para não se candidatarem a sede dos Jogos de 2024 – Boston, Nova York e Guadalajara entre elas.

Para os dinamarqueses, a desistência mais relevante foi a de Hamburgo, na Alemanha. Se os vizinhos seguissem em frente com o pleito, Copenhague cogitava ajudar se oferecendo para receber algumas competições, já que a distância entre os locais é de menos de 500 km. O problema é que os moradores de Hamburgo decidiram, em um plebiscito, que a cidade deveria retirar sua candidatura justamente pelos custos. 

Foco em Mundiais

Não receber Olimpíadas ou Copa do Mundo não significa, no entanto, que a Dinamarca fique fora do circuito de grandes eventos. O foco da SportEvent Denmark é trazer ao país Mundiais ou Europeus de diferentes modalidades.

O pulo do gato está no fato de que a Dinamarca geralmente pleiteia competições de esportes para os quais já possui infraestrutura. Dessa forma, não precisa investir tanto e tem o retorno financeiro e de marketing que pretende. Nos últimos anos, o país teve, entre outros eventos, o Europeu Masculino de Handebol, o Europeu de natação em piscina curta, o Europeu de Hipismo e o Mundial de Meia-Maratona.

“Essa é uma ótima maneira de proporcionar boas experiências à população e promover a Dinamarca. Quando você recebe um evento deste tipo, você recebe muitos visitantes que gastam em acomodação, refeições, compras, etc”, disse Lars Lunden.

Alto rendimento ou esporte de participação?

Desde a criação do Ministério do Esporte, o Brasil passou a investir pesado em sua elite esportiva. Entre Pequim e Londres, por exemplo, o Governo Federal despejou R$ 2,1 bilhões na área em busca de resultados. Para 2016, a conta aumentou e os dirigentes têm claro o objetivo de chegarem ao top 10 do quadro de medalhas.

Na Dinamarca, o objetivo não é exatamente o mesmo. Dentre os vários órgãos ligados a esporte no país nórdico, o único que trabalha diretamente com a elite esportiva é o Team Danmark, responsável por fornecer infraestrutura e apoio médico, físico e técnico para os melhores atletas do país.

Só que a cada dólar investido no alto rendimento outros cinco vão para o esporte de participação, não necessariamente competitivo. A ideia é que é melhor para o país ter mais gente praticando alguma modalidade que um grupo de atletas tendo sucesso no alto nível.

“Nós temos realmente um grande foco no esporte para a comunidade. Eu acho que em geral a população e o governo estão bastante orgulhosos da forma como atendemos a população neste sentido”, disse Soren Willeberg, consultor de comunicação do Team Danmark.

Desempenho em Olimpíadas

O resultado dessa política se reflete nos Jogos Olímpicos. Top 10 na lista do IDH, a Dinamarca está há quatro edições da competição por volta do 30º lugar no quadro de medalhas. Seus principais esportes são o handebol, o ciclismo, a vela e o remo. Nada, no entanto, que permita que o país nórdico se posicione como potência esportiva – algo que o país nem quer ser, diga-se.

Só que o desempenho do Brasil, ao menos até agora, não foi tão superior assim. Nos Jogos de Londres, por exemplo, a delegação verde-amarela conseguiu três ouros, cinco pratas e nove bronzes, terminando na 22ª colocação. A Dinamarca, por sua vez, somou dois ouros quatro pratas e três bronzes, com o 29º lugar. 

Topo