Teste olímpico da maratona aquática avalia só trajeto. E ele foi reprovado
Iniciado com a disputa da fase final da Liga Mundial de vôlei masculino, em julho, o calendário de eventos-teste para os Jogos Olímpicos de 2016, que serão realizados no Rio de Janeiro, teve neste fim de semana o seu ponto mais baixo até aqui. Com baixo nível técnico e problemas no entorno, o desafio internacional de maratona aquática serviu apenas como avaliação do circuito que será usado no próximo ano. E foi justamente esse aspecto que gerou críticas entre os competidores.
“É confuso. A gente está muito acostumada a largar e fazer sempre o mesmo percurso. Aqui a primeira volta é ali em cima, e depois você tem de dar três voltas maiores aqui. É muito irregular. Você tem de ter tudo isso na cabeça, se localizar e esquecer a primeira volta. Como ela é muito diferente da outra, é preciso pensar mais nas outras”, disse a nadadora brasileira Ana Marcela Cunha, 23.
O circuito do evento-teste foi montado pelo comitê organizador dos Jogos Olímpicos de 2016. Na sexta-feira (22), no congresso-técnico, os oficiais do desafio internacional disseram aos atletas que esse era o único aspecto em que a competição teria o modelo que eles pretendiam repetir no próximo ano.
Normalmente, disputas de maratona aquática são feitas em percursos fechados – os atletas dão quatro ou cinco voltas em boias para completar dez quilômetros, mas fazem isso em movimentos repetitivos. No evento-teste da Rio-2016, o trajeto consiste em um pedaço menor (cerca de 2,2km) e três passagens por um trecho mais longo (cerca de 2,6km).
O percurso ainda precisa ser homologado, o que ainda não tem data para acontecer. “O pessoal de esporte vai pegar essas opiniões dos comitês técnicos para ver como a gente vai fazer para o ano que vem. A gente faz uma avaliação ostensiva para saber se está no caminho certo. Há vários indícios de que o caminho é esse, mas a ideia é ouvir para ter certeza”, avisou Gustavo Nascimento, diretor de arenas esportivas do comitê Rio-2016.
Com exceção do percurso, pouco do que se viu na praia de Copacabana deve ser repetido no Rio-2016. A começar pelo deslocamento dos atletas, que tiveram de nadar até a plataforma em que foi feita a largada. No sábado (22), como a temperatura da água estava baixa (18,5ºC, segundo medição oficial), isso representou sair da areia, fazer um deslocamento em condição fria e depois esperar fora do mar até o início da prova. “A gente espera que isso seja melhor na Olimpíada”, cobrou Ana Marcela.
Outro ponto que mostrou problemas a serem evitados no próximo ano foi a largada. Os árbitros foram conduzidos de barco da Marina da Glória até Copacabana. Como o mar estava agitado, esse trajeto demorou mais do que o previsto. Segundo o comitê Rio-2016, isso fez com que o início do evento-teste fosse adiado em meia hora.
Os atletas também reclamaram da estrutura de alimentação – como a prova é muito longa, eles têm barcos posicionados em pontos específicos para esse fim. A comida na maratona aquática é distribuída em baldes presos a varas, e os nadadores não podem se apoiar nesses artefatos para pegar o conteúdo.
“É um evento-teste, e a gente pode analisar mais a parte da prova, dentro da água. A gente seguiu dificuldade na alimentação, que ficou no ponto mais crítico da prova, onde o mar estava mais mexido”, opinou o brasileiro Allan do Carmo, 26, que venceu no sábado a versão masculina do evento-teste.
Allan também reclamou da disposição dos pórticos em que os atletas precisavam passar para marcar a cronometragem oficial do evento. “Temos muitos ajustes a fazer na operação dentro da água”, admitiu Gustavo Nascimento.
Outro aspecto em que o evento-teste serviu pouco como parâmetro para os Jogos Olímpicos é a competitividade. Como é uma competição que não tem valor e foi agendada para semanas depois do Mundial de esportes aquáticos de Kazan (Rússia) e da etapa da Copa do Mundo realizada no Canadá, muitos dos atletas estão em ritmo de férias ainda.
“Eu parei 15 dias. Voltei na segunda-feira [17], e é mais have fun e conhecer o circuito do que ganhar ou algo assim”, exemplificou Ana Marcela. O italiano Simone Ruffini, quarto colocado no masculino, está em situação ainda pior: “Em Kazan eu venci a prova de 25 quilômetros, e agora eu estou de férias”.
No masculino, apenas nove dos 25 atletas que começaram conseguiram terminar o percurso. O percentual baixo tem a ver com o nível de preparação dos atletas – muitos ainda estão em fase de descanso, mas também reflete outro problema da prova: como o comitê organizador precisava simular a operação com o número exato de nadadores que estarão nos Jogos Olímpicos, foi preciso recorrer a convites de última hora.
Foi por causa disso, por exemplo, que dois nadadores amadores que treinavam em Copacabana foram chamados para completar a prova. “Pratico maratona aquática, mas sou amador. A gente estava nadando para soltar porque vai competir amanhã [domingo] no Estadual, e aí falaram que havia duas vagas e chamaram a gente”, relatou Thiago Salles Martins, 41, que é economista.
Ele e Cristian Smith Alves, 23, que também treina em Copacabana, foram chamados para fazer apenas a primeira volta no evento-teste. “Surgiu o convite, e a gente decidiu encarar”, disse o mais novo entre os reforços de última hora do evento.