Vídeos

Não é só poluição: até avião atrapalha evento-teste da vela para a Rio-2016

Guilherme Costa

Do UOL, no Rio de Janeiro

Não há esporte que estará no programa dos Jogos Olímpicos de 2016 que tem sofrido com mais discussões sobre ambiente do que a vela. Depois de uma série de cobranças e debates sobre a poluição da Baía de Guanabara, onde o evento será realizado, o segundo evento-teste da modalidade, que está sendo realizado no Rio de Janeiro até o próximo sábado (22), mostrou que o cenário escolhido tem mais questões a resolver até o próximo ano. Até aviões viraram problemas em potencial.

Na última quarta-feira (19), isso ficou claro durante a disputa da classe RS:X, que é a mais leve do programa olímpico. Os velejadores iniciaram a regata com vento na direção norte, e isso os colocou na rota dos aviões que iam para o aeroporto Santos Dumont – a distância entre o local e a Marina da Glória, onde a competição de vela acontece, é inferior a um quilômetro.

“A gente aprende na escola que o avião tem de decolar e pousar contra o vento. Então ele vem, contorna o Pão de Açúcar, passa baixinho na raia e pousa. Aí o vento que está de três nós passa para 15. A estratégia foi seguir para onde o avião iria”, relatou o brasileiro Ricardo Winicki, o Bimba, que acabou a fase de classificação da RS:X na oitava posição e conseguiu um lugar na disputa da medal race – os dez primeiros fazem a regata final.

O vento encontrado pelos atletas da RS:X não é o mais comum na Baía de Guanabara. No entanto, a condição inusitada serviu para mostrar que os aviões podem ser um fator de desequilíbrio no Rio de Janeiro, principalmente para os barcos mais leves.

“Nessa condição eles interferem muito”, declarou Bimba, que foi um exemplo prático disso na quarta-feira. “A rajada não pega para todo mundo. Eu me posicionei completamente, mas não peguei. Quem estava em volta de mim caiu, como o argentino e o inglês, ou disparou. Acabou com a minha regata, e eu fui um dos poucos sem vento”, completou.

A questão do espaço aéreo na região da vela foi um dos temas mais polêmicos em reunião do Cocom (Comissão de Coordenação do Comitê Olímpico Internacional para os Jogos Olímpicos) que foi realizada no dia 10 de agosto. Durante o evento, segundo o jornal “O Globo”, o secretário-geral do Ministério do Esporte, Ricardo Leyser, e o israelense Alex Gilady, integrante da comissão, bateram boca de forma ríspida sobre o assunto.

A discussão foi forte a ponto de a reunião ter sido encerrada precocemente e em clima de total constrangimento. O governo federal havia se comprometido a fechar o espaço aéreo na região da baía durante pelo menos uma hora, mas isso não foi possível para o evento-teste da vela.

Ainda na quarta-feira, em sabatina promovida pelo jornal “Folha de S.Paulo”, o ministro do Esporte, George Hilton (PR), ratificou a ideia de fechar o espaço aéreo da região durante as regatas olímpicas. Segundo ele, o COI queria bloquear a área por oito ou dez horas por dia, o que seria inviável. No entanto, o governo federal ainda não apresentou contraproposta.

Além da interferência direta nas regatas, a questão do tráfego aéreo na região da vela é importante por causa dos helicópteros que fazem filmagem e transmissão do evento. Esses veículos precisam voar a grandes alturas para não criar vento nas disputas esportivas, e isso os colocaria em rotas usadas pelos aviões.

“Em Atenas tinha três helicópteros filmando a regata, e isso atrapalhou bastante. Teve gente caindo na água literalmente. Foi uma das coisas que me atrapalharam. Já não estava um dia de vento forte, e com três helicópteros em cima é claro que influencia. Já vi um cara perder um bronze em campeonato mundial porque o helicóptero chegou para tirar foto dele na linha de chegada”, relatou Bimba.

Fechamento de porto também é um problema logístico

A questão do espaço aéreo, contudo, é apenas um exemplo de quanto o fato de a vela ser disputada no meio da cidade pode ter influência na disputa esportiva em 2016. Outro caso emblemático é a questão do porto, que precisa ser fechado para evitar que navios invadam os cursos das raias.

O evento-teste também serviu como parâmetro de um acordo para fechamento do Porto do Rio de Janeiro entre 11h e o anoitecer. Nesse período, embarcações foram proibidas de pegar rotas que passassem pela área de disputa. A questão é que a última quarta-feira foi um exemplo de dia em que essa restrição não foi suficiente.

“De manhã estava um vento clássico, mas eles não mudaram [o horário da regata]. A gente entrou 13h, quando o vento já estava morrendo”, relatou Bimba.

Vários velejadores reforçaram as palavras do brasileiro e disseram que a melhor condição para disputa na quarta-feira foi registrada de manhã. Contudo, a organização não conseguiu antecipar as provas por causa da questão do porto.

“A gente está muito alinhado com a Marinha e está sendo testada uma área de exclusão virtual que será usada no ano que vem. 11h é o horário de fechamento do porto. Aí há algumas regras para liberar os velejadores em terra. Dependendo da raia há diferentes tempos. Hoje a gente fez um exercício com a raia do Pão de Açúcar, que tem meia hora de distância”, explicou Walter Boddener, gerente de vela no Comitê Rio-2016.

Nesta quinta-feira (20), o início das regatas foi antecipado para 12h. A ideia da Isaf (Federação internacional de vela) é reavaliar depois do evento-teste a duração da janela de fechamento do porto.

Topo