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Acusada na Lava-Jato abandona obra olímpica contra enchente no Maracanã

Buda Mendes/Getty Images
Chuva causa alagamentos no entorno do Maracanã (foto: dezembro/2013) imagem: Buda Mendes/Getty Images

Vinicius Konchinski

Do UOL, no Rio de Janeiro

A construtora Mendes Júnior abandonou a maior obra de combate a enchentes na região do Maracanã. Acusada na Operação Lava-Jato, a companhia rescindiu o contrato firmado com a prefeitura do Rio para desviar o curso do rio Joana e, assim, reduzir o risco de alagamento na área do estádio.

O projeto é um dos compromissos assumidos pelo município por causa da Olimpíada de 2016. Devido a problemas com a Mendes Júnior, ele está em xeque.

A prefeitura firmou um contrato emergencial de R$ 35 milhões para que o consórcio JDantas/Fábio Bruno substitua a Mendes em algumas obras do desvio. Pretende ainda realizar uma licitação para escolher uma outra companhia apta a concluir o projeto. O prazo para entrega da obra, entretanto, é apertado.

Segundo a Smar (Secretaria Municipal de Saneamento e Recursos Hídricos), a nova empresa terá um ano para terminar a obra depois de contratada --faltam um ano e quatro meses para a Olimpíada. O próprio prefeito Eduardo Paes, porém, disse ao UOL Esporte que não tem certeza que tudo estará pronto até a Rio-2016.

“Aquele projeto é complicado”, admitiu o prefeito, na semana passada. “Vamos tentar concluir. Mas se não der, tudo bem. A Olimpíada é em agosto. Não há chuva no Rio de Janeiro para alagar o Maracanã nesta época.”

O Maracanã e bairros ao seu redor, historicamente, são pontos de alagamentos do Rio. Há duas semanas, por exemplo, toda a área externa do estádio, seu gramado e parte dos corredores internos ficaram debaixo d'água por causa de uma chuva que caiu durante um jogo entre Flamengo e Vasco realizado na arena.

Visando a acabar com alagamentos como esse, a prefeitura elaborou um grande projeto antienchente para a região. Prometeu construir quatro piscinões (reservatórios subterrâneos de águas de chuva) e desviar o curso do rio Joana diretamente para dentro da Baía de Guanabara para facilitar o escoamento de água na área do Maracanã.

Só para o desvio do rio, o município firmou um contrato de R$ 146 milhões com a Mendes Júnior ainda em julho 2012. Naquela época, a prefeitura estimava que a obra estivesse pronta para Copa do Mundo –o que não ocorreu.

Durante a execução do projeto, ele foi modificado. Seu custo subiu para R$ 185 milhões. Sua entrega acabou adiada para junho deste ano, já visando à Rio-2016.

A Mendes Júnior, entretanto, só executou 56% das obras prometidas (leia mais abaixo). Isso até o dia 31, quando o contrato com a empresa foi rescindido.

“A empresa teve um problema. Ela acabou saindo da obra”, disse Paes, sem dar mais detalhes sobre o que causou a quebra do acordo com a prefeitura.

A Mendes Júnior é acusada de fazer parte do esquema de corrupção em contratos com a Petrobras. O vice-presidente executivo da empresa, Sérgio Cunha Mendes, entregou-se a Polícia Federal ainda em 2014 e permanece preso. Ele é acusado de corrupção, formação de organização criminosa e lavagem de dinheiro.

Desde a deflagração da Lava-Jato e a prisão de seu vice-presidente, obras da Mendes Junior apresentam problemas. O governo de São Paulo já revelou atrasos no trecho norte do Rodoanel, tocado pela companhia. No início do ano, funcionários da Mendes que trabalham na obra de transposição do rio São Francisco reclamaram de atrasos no pagamento de 13º salário. Procurada pelo UOL Esporte, a empresa preferiu não se pronunciar.

Lava-Jato ameaça Olimpíada

A Mendes Júnior é a primeira empresa citada na Operação Lava-Jato a oficialmente abandonar uma obra da Olimpíada. Ela, contudo, não é única construtora suspeita de corrupção envolvida em projetos olímpicos do Rio.

Um levantamento feito pelo UOL Esporte aponta que cerca de 75% dos recursos investidos nas obras dos Jogos está nas mãos de empreiteiras investigadas. São elas: Odebrecht, OAS, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão, a CCR (subsidiária da Camargo Correa) e, claro, a Mendes Júnior.

Autoridades, até agora, sempre negaram qualquer influencia das investigações no ritmo de execução das obras olímpicas. Na semana passada, porém, enquanto a Mendes Júnior abandonava a obra antienchente no Maracanã, a Queiroz Galvão ameaçava demitir centenas de operários do Parque de Deodoro, o segundo maior local de competições dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.

A Queiroz Galvão, aliás, demitiu 70 trabalhadores. Colocou outros mil em aviso prévio. Todos trabalham ou trabalhavam na área norte do Parque de Deodoro, espaço das competições de canoagem slalom, mountain bike e ciclismo BMX.

Ao dispensar funcionários, a empresa alegou que não estaria recebendo em dia os pagamentos pela obra. O prefeito Paes negou atrasos. Disse até que a empresa estava pressionando o governo para conseguir aditivos em seu contrato.

Paes ainda garantiu que todas as obras essenciais para a Rio-2016, ou seja, as arenas olímpicas, estarão prontas no prazo e no custo combinado.

Na quarta, a Justiça bloqueou créditos judiciais de R$ 163 milhões da Queiroz Galvão por causa de seu supostos envolvimento no esquema de corrupção na Petrobras. A Queiroz negou impactos desse bloqueio na obra de Deodoro.

Confira abaixo a nota da SMAR sobre a rescisão do contrato com a Mendes Júnior para o desvio do rio Joana:

"A Secretaria Municipal de Saneamento e Recursos Hídricos (SMAR) informa que a construtora Mendes Junior foi contratada em 23 de julho de 2012 pelo valor inicial de R$ 146,3 milhões. Em 31 de março de 2015, com 56% das obras realizadas, ocorreu a rescisão amigável com a Fundação Rio Águas, a pedido da empresa. Nesta mesma data, assumiu o consórcio JDantas/Fábio Bruno, que está realizando uma segunda etapa das intervenções, ao custo de R$ 35 milhões, com prazo de seis meses de conclusão. A última fase das obras será licitada e terá duração de um ano. A Secretaria esclarece que o compromisso da Prefeitura para os Jogos Olímpicos de 2016 está mantido."

Leia o posicionamento da Queiroz Galvão sobre o bloqueio de créditos judiciais:

A Queiroz Galvão informa que os precatórios junto ao Governo do Estado de Alagoas são créditos absolutamente legítimos e reconhecidos pelos Tribunais Superiores. A Queiroz Galvão reitera que sempre pautou suas atividades pela ética e pelo estrito cumprimento da legislação. A companhia reitera que apresenta resultados financeiros sólidos com situação de caixa que supera em muito sua dívida de curto e médio prazos.”

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