Vídeos

Atleta olímpico pode ganhar R$ 20 mil só com bolsas do governo

Ron Angle/VIPCOMM
Marcelo Melo, hoje um dos melhores tenistas do mundo, é bolsista do programa federal imagem: Ron Angle/VIPCOMM

Bruno Doro

Do UOL, em São Paulo

Desde 2005, o esporte nacional entrou na lista das bolsas distribuídas pelo Governo Federal. O Bolsa Atleta, segundo o Ministério do Esporte, é o maior programa de patrocínio individual do planeta. Em 2014, foram investidos R$ 181,3 milhões em bolsas. Deu tão certo que muita gente copiou a iniciativa federal.

Hoje, prefeituras e governos estaduais também tem as suas versões. A oferta é tão grande que um atleta olímpico brasileiro pode passar dos R$ 20 mil de rendimentos mensais, valor próximo aos maiores salários do funcionalismo público, apenas com bolsas públicas sobrepostas.

A Bolsa Pódio do Ministério do Esporte, em sua versão mais alta, paga até R$ 15 mil. Some uma bolsa estadual, que pode pagar até R$ 5 mil e você chega ao valor sem nem mesmo precisar de programas municipais, que podem pagar até R$ 5 mil.

Estes números não são aleatórios. O governo de Minas Gerais tem um dos programas estaduais com maior remuneração mensal no país, com R$ 5 mil para nove atletas da categoria principal. Já a prefeitura de Manaus, no Amazonas, prevê o mesmo valor para seus atletas de destaque. Já um atleta capixaba pode pleitear os R$ 15 mil do programa federal, R$ 5 mil da bolsa estadual e ainda R$ 1.500 do projeto municipal.

Dos 27 estados brasileiros (incluindo o Distrito Federal), 18 já tem programas consolidados ou estão discutindo sua criação, com benefícios para atletas de alto rendimento (em seu nível mais alto) que vão de R$ 600 (no Ceará) a R$ 5 mil (no Espírito Santo e em Minas Gerais). Dos nove que não têm planos similares, um terço tem um projeto similar em sua capital (com valores que vão de R$ 600 em Teresina até R$ 5 mil em Manaus) – sem contar outros municípios que contam com bolsas próprias (Macaé, no Rio de Janeiro, por exemplo, tem uma bolsa top de R$ 5 mil para os seus atletas.

Na maioria delas, é permitido o acúmulo dos benefícios nos diferentes níveis de governo. Em Minas Gerais, por exemplo, a legislação foi mudada para contemplar isso. “Foi uma evolução. Em 2013, fizemos uma solicitação para permitir que o atleta tenha patrocínio ou outras bolsas. A bolsa é auxílio, mas, por si só, não consegue pagar todas as despesas. O atleta é como o cidadão comum, que precisa trabalhar, ajudar em casa. E o trabalho dele é o treino. Sem a bolsa, ele teria de dividir o tempo com um trabalho formal e o desempenho seria prejudicado”, analisa Adenílson Souza, subsecretário de Esportes mineiro.

Os pré-requesitos para que o atleta possa receber o dinheiro são parecidos. Existem níveis de resultados para cada nível de bolsa. E os atletas precisam morar e defender no estados ou cidades que os apoiam. Além disso, o dinheiro recebido não é exatamente livre para o uso. Em todos os programas, é necessário fazer prestação de contas. E, na maior parte dos casos, somente despesas ligadas diretamente a treinamento (como equipamentos), competição (como viagens e estadias) ou educação (faculdades ou cursos de aperfeiçoamento) são aceitas.

Outros agentes governamentais que não entram nessa conta, mas agem do mesmo modo, são as Forças Armadas. Alguns dos melhores atletas nacionais são militares. Melhores velejadoras do mundo em 2014, Martine Grael e Kahena Kunze são oficiais da marinha. Medalhista olímpica do pentatlo moderno, Yane Marques é sargento do exército. Os militares recebem soldos com valores semelhantes às bolsas e também podem acumular benefícios.

“O apoio das Forças Armadas têm caráter de patrocínio para gente. Eu viajei para a Irlanda, para um treinamento de esgrima e uma competição, bancada pelo exército. Enquanto militar, minha função é treinar. Nós [do programa Forças no Esporte] somos atletas-sargento. Sou temporária até 2017. Se quiser ficar depois disso, terei de fazer o concurso para seguir carreira”, diz Yane.

Essa sobreposição de bolsas para o mesmo fim, porém, tem seus problemas. “Não existe no Brasil um plano geral de investimentos, que diga em que áreas as prefeituras precisam investir, qual é o papel do governo estadual e o que o governo federal precisa fazer. Hoje, cada um faz o que bem entende. Em tempos de verbas fartas, como agora, isso é positivo. Mas quando terminarem os grandes eventos, o dinheiro diminui e os investimentos somem. É preciso que cada agente saiba no que investir. Que a prefeitura tenha uma área de atuação, que não compete com o estado e com o governo federal”, explica Ana Moser, presidente do Atletas pelo Brasil, um movimento de atletas e ex-atletas brasileiros que busca a melhora no esporte pelo país.

Alheios a isso, os atletas aproveitam as bolsas. “O atleta precisa de um calendário definido da melhor maneira. Às vezes, é preciso fazer uma viagem de última hora e a passagem é mais cara. Às vezes, precisa de um upgrade para jogar no dia seguinte em outro torneio. Então, ter uma fonte fixa de renda e o projeto de Bolsa serve para isso”, explica o tenista Marcelo Melo, um dos melhores do mundo atualmente, que é bolsista do programa do governo federal.

Topo