Vela

Como um neozelandês que brigaria por medalha no Rio virou técnico do Brasil

Gustavo Franceschini/UOL
Patricia Freitas, velejadora brasileira, posa ao lado de Jon Paul Tobin, neozelandês que é seu técnico imagem: Gustavo Franceschini/UOL

Gustavo Franceschini

Do UOL, no Rio de Janeiro

Jon Paul Tobin é um experiente velejador neozelandês. Sétimo colocado em Londres na classe RS:X, ele já liderou o ranking mundial em duas oportunidades e teria tudo para disputar uma medalha na Rio-2016. Só que em vez de entrar na água de olho em um pódio, ele vai passar os Jogos Olímpicos em terra, gritando e torcendo por uma brasileira. Após uma briga política com a federação de seu país, ele não pode exercer a vaga que conquistou de forma legítima e virou técnico de Patrícia Freitas.

“Foi um pouco de sorte minha e azar dele. Ele é atleta ainda, está classificado para correr a Olimpíada, mas a Nova Zelândia não quis mandar ele para cá e aí eu pude contratá-lo como técnico”, conta a velejadora, que não sabe explicar muito bem por que o hoje técnico foi vetado pelo próprio país. “Ele é um superatleta e estaria classificado, mas a federação não quis mandar por questões internas deles lá. É supercomplicado, ele processou a federação. Lá a seleção deles é subjetiva, cortaram ele não se sabe por que”, completou ela.

Jon, ou “JP”, como ele é conhecido, diria o mesmo. Ele conquistou a vaga em 2014, mas reclamava de não receber nenhum suporte financeiro da federação. A pendência envolvia alguns atletas do país, que chegaram a ir à Justiça questionando o processo de seleção da YNZ (sigla para Iatismo da Nova Zelândia, em inglês). Depois de um ano inteiro de brigas políticas, ele decidiu abandonar a corrida por um lugar na Rio-2016.

“Foi uma longa disputa. Vai ser a primeira vez que a Nova Zelândia não vai ter nenhum competidor no RS:X. Eles não mandaram ninguém. Todo mundo parece saber que o óbvio é mandar seu atleta que se classificou. Esse é o básico da Olimpíada”, disse Jon.

Quando ele estava prestes a desistir da campanha, Patrícia apareceu. Na vela, há uma diferença considerável entre as classes que navegam em barcos e as que o fazem sob pranchas, caso do RS:X (ou windsurfe). Prestes a disputar a terceira Olimpíada da carreira, a brasileira sempre sofreu com a ausência de técnicos brasileiros especialistas na sua categoria, e viu em Tobin a chance de evoluir tecnicamente após quatro técnicos diferentes em menos de quatro anos.

“A gente tem muitos medalhistas no barco, mas prancha é diferente. É como se fosse pegar técnico de vôlei e colocar no vôlei de praia. É parecido, mas é diferente, sabe? Com ele deu certo porque ele é do windsurfe, então entende melhor. Ele faz todo um treinamento voltado à preparação física dentro da água. A Nova Zelândia tem sete medalhas na prancha, então ele tem todo o conhecimento do que funciona”, disse Patrícia, que é muito elogiada pelo novo “professor”.

“Windsurfe é inato. No barco o mastro está atado ao barco. No windsurfe vai muito da sensação de como se mover, são coisas muito específicas. Eu consigo entender melhor o que ela está sentindo. A Patricia é consistente, talentosa e muito boa no que faz. Precisa tentar focar em cada regata como se fosse a última e dar o seu melhor”, diz Tobin. 

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