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Brasileiros olham a medalha de bronze recebida em Pequim

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26/08/2008 - 10h02

Política mantém futebol distante de identidade olímpica em Pequim

Bruno Freitas

Em Pequim (China)

Ainda não foi na edição deste ano que o futebol foi abraçado de vez pelas Olimpíadas. Algumas confusões em esferas políticas impediram que o esporte mais popular do planeta interagisse com o decantado espírito olímpico, em entrosamento pouco visto em mais de um século de Jogos na Era moderna.

O futebol chegou à China já com a herança de edições anteriores de ser uma espécie de ‘elemento estranho’ dos Jogos, em razão de não ser disputado por suas principais estrelas, de não figurar no calendário internacional da Fifa e de tradicionalmente ser disputado em sedes periféricas, às vezes muito distantes do ‘núcleo’ do evento.

LADO POSITIVO
Levada a sério basicamente por sul-americanos e africanos, a disputa olímpica do futebol mais uma vez contou com europeus apenas em papel de figuração, com a campeã mundial Itália e a Holanda sem times competitivos. Quem chegou mais longe foi a Bélgica, que ficou com o 4º lugar graças a seu grupo esforçado.

No entanto, dentro de campo a disputa colaborou para que a modalidade não passasse em branco pelas Olimpíadas. As presenças de estrelas internacionais, como o brasileiro Ronaldinho Gaúcho e o argentino Lionel Messi fizeram migrar ao futebol olímpico atenções destacadas tradicionalmente a outros esportes no evento.

Por fim, a realização da final da disputa masculina no estádio Ninho de Pássaro, principal palco das Olimpíadas, deu à modalidade a sensação de protagonismo dentro do evento, pelo menos momentaneamente. Mesmo com os desconfortos de ordem política, o futebol acabou nos Jogos de Pequim com um público destacável, de quase 2 milhões de expectadores.

Dois temas políticos concentraram atenções nas semanas anteriores às Olimpíadas e já durante o andamento dos Jogos de Pequim. A obrigatoriedade da liberação de jogadores causou constrangimento à Fifa, em razão de sua regra sem clareza e interpretativa a respeito do assunto.

Alguns clubes da Europa conseguiram segurar seus astros sem idade olímpica, ou seja, com 23 anos ou mais, escorados nas brechas da norma da Fifa. Foram os casos do Milan com Kaká, do Real Madrid com Robinho e da Inter de Milão com o argentino Nicolás Burdisso.

No entanto, a discussão pela cessão de atletas com 23 anos ou menos se arrastou até as Olimpíadas, com batalha na Corte Arbitral do Esporte. A mais alta instância jurídica esportiva se posicionou a favor dos interesses dos clubes, mas pediu um entendimento consensual entre as partes.

“Até 3 horas da manhã do dia da estréia não sabia se poderia escalar meus jogadores. Ficava esperando os documentos chegarem. Isso atrapalha muito um trabalho”, reclamou o técnico Dunga, em menção à disputa com clubes da Alemanha pela utilização de Diego e Rafinha.

Em gesto quase de mea culpa, a Fifa reconheceu na China que precisa ser mais clara e organizada para encaixar as Olimpíadas em seu calendário, pensando a partir de agora nos Jogos de Londres, em 2012.

"Não teremos a repetição da situação que aconteceu aqui na China. Vamos tomar providência para proteger o torneio olímpico", afirmou Joseph Blatter, presidente da entidade. "Vou fazer uma proposta para que o torneio olímpico faça parte do calendário oficial da Fifa", emendou o cartola suíço durante passagem por Pequim.

No entanto, mesmo dentro da Fifa a sobrevivência do torneio olímpico de futebol parece ser um tema aberto, apesar da boa vontade manifestada por Blatter na Ásia.

“Faço parte do grupo de discussões da Fifa. Chegamos a conversar sobre isso, se o futebol continuaria nas Olimpíadas. Esse assunto ficou para a próxima reunião, que acontecerá em outubro”, disse Pelé em Pequim durante evento de promoção da candidatura olímpica do Rio para 2016.

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Além da questão da liberação de atletas, o torneio de futebol na China ainda foi atrapalhado pela questão dos uniformes. O congresso técnico dos Jogos determinou antes da competição que as seleções não poderiam competir com os brasões de federações nacionais, mas sim com bandeiras ou escudos de seus respectivos comitês.

Na estréia, as equipes masculina e feminina do Brasil desobedeceram a norma e usaram o distintivo da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), arcando conscientemente com a multa de US$ 1 mil, por jogo. No entanto, a partir da rodada seguinte a entidade acabou acatando a norma, depois de alguma tensão política.

Depois de pressão do COB (Comitê Olímpico Brasileiro), a entidade do futebol nacional disse que abriria mão de seu escudo para não ferir os interesses da candidatura do Rio de Janeiro aos Jogos de 2016. Entraram em cena então as tintas e o improviso de esparadrapos para cobrir os brasões.

"Foi um compromisso da entidade com a candidatura do Rio para 2016. Era um desgaste desnecessário em torno de um objetivo comum. Fica melhor assim. Não macula nossa candidatura", disse Orlando Silva Júnior, ministro do Esporte e espécie de mediador do caso, durante o episódio na China.

Também durante parte de protocolo oficioso, como coletivas de imprensa ou definição de agenda de treinos oficiais, houve algum ruído entre profissionais do COI, da organização dos Jogos e da Fifa – essa última com mais dificuldade de atuação.

Por fim, a distância física do futebol em relação às demais modalidades ainda foi um ponto que influencia a disputa, na palavra dos próprios atletas.

A seleção masculina do Brasil esteve pouco tempo de fato em Pequim e rodou bastante pelas demais sedes, como Shenyang, Qinhuangdao e Xangai (628 km, 220 km e 1076 km longe da capital chinesa, respectivamente).

"A motivação para ir à Vila Olímpica é sensacional, estar com os atletas de outras modalidades, entrar de vez no espírito olímpico", comentou o volante Lucas, antes da passagem de três dias do time brasileiro por Pequim, para o jogo contra a Argentina na semifinal.

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