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24/08/2008 - 07h35

COB faz malabarismo numérico e declara Pequim melhor da história brasileira

Bruno Doro
Em Pequim (China)
O presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman, cumpriu o protocolo neste domingo. Apesar de o Brasil ter conquistado duas medalhas de ouro a menos do que em Atenas-2004 e igualado o número de medalhas de Atlanta-1996, recorde de pódios com 15 conquistas, ele declarou os Jogos de Pequim os melhores da história do esporte brasileiro.

Divulgação/COB
Com malabarismo nos números, COB destacou a participação do país nos Jogos
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OS ATLETAS BRASILEIROS
"Foi uma participação que nos orgulhou e nos deixou seguros que tivemos a melhor participação na história dos Jogos Olímpicos. É mais um passo no processo de evolução do esporte brasileiro", explicou o dirigente.

Para sustentar a afirmação, o dirigente disse que a delegação do Brasil "bateu três recordes antes mesmo do início dos Jogos. Chegamos com o recorde de número de atletas (277), maior número de mulheres (133) e maior número de modalidades em que participamos (32)". "Além disso, conquistamos três ouros inéditos (atletismo feminino, vôlei feminino e natação) e fizemos o maior número de finais de toda participação olímpica".

Pelos números apresentados, o país foi a 38 decisões em Pequim. Nos Jogos de Atenas-2004, tinham sido 30 e, em Sydney-2000, foram 22 decisões.

Além disso, o Comitê usou também os números internacionais das Olimpíadas para mostrar que o esporte em todo mundo está evoluindo e, como conseqüência, aconteceu uma distribuição muito maior das medalhas. "Em Pequim, 87 países apareceram no quadro de medalhas. Cada vez mais países estão participando. A antiga União Soviética é um exemplo. Hoje, temos 13 países da ex-URSS e todos ganharam ao menos uma medalha. Em várias provas individuais os ex-soviéticos dominaram o pódio, aumentando a competição. Por isso, evoluir mesmo nesse cenário, mostra que tivemos nossa melhor participação", completa Marcus Vinícius Freire, chefe da missão brasileira.

O COB usou também o número total de medalhas, o mesmo artifício usado pelo Comitê Olímpico dos EUA para justificar a derrota para a China. Foram 51 ouros chineses contra 36 norte-americanos, mas 110 no medalhas no total para os EUA e 100 para a China.

"No total, ficamos em 17º lugar no total de medalhas", afirmou Nuzman, usando o discurso norte-americano, mas rapidamente voltando à classificação clássica, em que os ouros valem mais. "É interessante também analisar em termos gerais. Há muitas Olimpíadas o Brasil não ficava à frente de Cuba. Foi um mito ultrapassado. A sede das Olimpíadas passadas, a Grécia, por exemplo, há quatro anos ficou à frente do Brasil e hoje não conquistou nenhuma de ouro", disse Nuzman.

O dirigente, porém, não comentou sobre o Canadá. O rival continental ficou em quarto lugar nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, no ano passado, com 39 ouros contra 54 do Brasil, o terceiro colocado.

Na mesma entrevista, o dirigente disse que o trabalho psicológico da delegação será um ponto a ser trabalhado no próximo ciclo olímpico. Das quatro medalhas de prata da equipe, três vieram de derrotas na final, sempre para rivais norte-americanos: no vôlei masculino, no qual o favoritismo era dos brasileiros, no futebol feminino, ao perder para um rival derrotado nas semifinais da última Copa do Mundo, e no vôlei de praia masculino. A outra prata foi de Robert Scheidt, na classe Star, da vela.

"Há algumas coisas a acertar e uma delas é a presença de um psicólogo na delegação. Mas essa é uma equação um pouco complexa, porque esbarra no treinador, que acha que é psicólogo. E sei bem disso pelo trabalho que fiz na CBV (foi dirigente do vôlei brasileiro por 20 anos). Mas é uma questão importante, tanto quanto o preparador físico, o nutricionista e o fisioterapeuta. É um componente a ser analisado e avaliado de maneira clara, como outros países fazem", explicou Nuzman.

A afirmação do dirigente, no entanto, contradiz a postura do COB antes das Olimpíadas, que não permitiu por exemplo a viagem da psicóloga Adriana Lacerda para acompanhar a delegação do judô. Após a disputa da modalidade, o coordenador técnico do Brasil, Ney Wilson, ainda lamentou o fato e disse que o desempenho da equipe poderia ter sido diferente se a profissional tivesse acompanhado os atletas.

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