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12/08/2008 - 16h25

"Choro foi tristeza por perder ouro e alegria pelo bronze", diz Camilo

Bruno Doro
Em Pequim (China)
Quando Tiago Camilo venceu o holandês Guillaume Elmonts, chorou compulsivamente. A emoção não foi só de alegria por voltar ao pódio olímpico após oito anos da prata de Sydney-2000. Campeão mundial, ele tentou esconder a frustração por não conquistar o ouro, mas não conseguiu.

"Aquele choro misturou muita coisa. Foi um pouco de tristeza, de não ter chegado ao lugar mais alto. De alegria, por saber que tinha conquistado o bronze. Foi um alívio saber que tudo valeu a pena. A dedicação, os anos de caminhada. São poucos segundos em que você acaba colocando tudo pra fora. Dessa vez foi chorando", explica o judoca.

Bronze entre os meio-médios, Camilo ainda negou que tenha sentido pressão por entrar no tatame como campeão mundial, admitiu que errou contra o alemão Ole Bishof, seu algoz em Pequim e novo campeão olímpico, e ainda admitiu, para o ciclo olímpico de Londres-2012, mudar de categoria. Confira a entrevista:

Até agora, nenhum campeão mundial de 2007 conquistou a medalha de ouro em Pequim. A pressão é maior?
Eu nunca senti pressão na minha vida no esporte. Sempre trabalhei com amor e carinho e conduzi minha carreira com muito cuidado. É o que eu sou, o que eu me preparei para fazer. Nessas competições, coloco tudo pra fora, tudo o que acredito que sou. Por isso, não teve pressão. Teve prazer de disputar mais uma Olimpíada, conquistar mais uma medalha.

Você se sentiu mais marcado, estudado, do que no Mundial do Rio?
Desde que ganhei o Mundial sabia que ia encontrar dificuldade nas Olimpíadas. Por isso, fiz um trabalho diferente, para voltar a surpreender. Os golpes que eu encaixei aqui não foram os mesmos do ano passado. Acho que deu certo. Em uma luta, tudo pode acontecer. Contra o alemão (em sua única derrota), acho que tentei o melhor que podia.

O alemão Bischof afirmou que se preparou especificamente para te enfrentar. Como foi a luta?
Eu sabia que seria uma luta dura. Já tínhamos lutado duas vezes, com uma vitória para cada lado. Ele troca muito a pegada, é forte fisicamente. Era um jogo de paciência e eu não tive. Por instinto, acabei entrando um golpe e tomei o contragolpe.

Depois dessa luta, fisicamente você parecia abatido. Foi difícil retomar o torneio?
Eu tenho dificuldades de voltar após uma derrota. Eu batalho muito pelo ouro. Quando perco, isso me abala muito. Eu quero sempre, sempre, sempre ser campeão. Contra o norte-americano [Travis Stevens, com quem lutou logo em seguida], senti dificuldade. Venci, mas saí chateado, não gostei de como lutei, da minha postura. Sabia que tinha de buscar a energia e botar pra fora. Foi aí que falei com o meu irmão (o também judoca Luiz Camilo) e ele me passou essa força. A primeira coisa que um judoca aprende é cair e depois se levantar. Hoje eu fui campeão porque me levantei.

A derrota do João Derly, seu companheiro de clube no Rio Grande do Sul, chegou a te abalar de alguma forma?
Eu tenho uma história muito bonita com o João, de 2006, quando fui para Porto Alegre. Ele me ajudou bastante nesses anos. A gente se uniu muito para essa competição. Quando ele perdeu, a tristeza e a frustração foram muito grandes. Eu falei que ele estaria aqui comigo. O João também tem um pedaço dessa medalha. Estou triste por ele, mas não podia me abalar. Agora, vou dar um abraço e colocar tudo que estou sentindo para fora.

Com duas medalhas olímpicas, ainda existe motivação para um novo ciclo olímpico?
É cedo para falar. Tenho que pensar nas coisas por etapas. Estou me sentindo bem, nunca tive problemas com lesão, o que não me cansa psicologicamente. Isso é importante. E as coisas não acontecem por acaso. Quem sabe mais um ciclo de quatro anos não seja interessante? De Sydney-2000 para cá eu subi de peso, quem sabe mais uma subida, para os 90 kg, também não seja um desafio? É um incentivo a mais, objetivos novos, tudo novo.

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