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08/05/2008 - 08h34

Novamente olímpica, Joanna Maranhão quer exorcizar passado

Fernanda Brambilla
No Rio de Janeiro
Conhecida pelo temperamento forte e pela instabilidade emocional, a recifense Joanna Maranhão pôde comemorar, enfim, o índice olímpico para as Olimpíada de Pequim nos 400 m medley, na última chance, o Troféu Maria Lenk, no Rio de Janeiro. Com a primeira batalha vencida, a nadadora se volta agora para outro confronto ainda mais doloroso, fora da piscina: a audiência em que encontrará o ex-treinador Eugênio Miranda, a quem acusa de abuso sexual durante sua infância.

AINDA A MESMA JOANNA
Divulgação/CBDA
"Avisei o Nikita (seu técnico) que se conseguisse a vaga, ia querer três dias de folga, para ir pra balada e comemorar, fazer o que eu quiser", alertou Joanna em sua celebração. "Depois, ele pode dar quantos treinos quiser, que eu faço tudo feliz, não vou achar ruim não, pode pegar pesado."

Ouvindo as declarações, o treinador apenas franziu a sobrancelha. "Até parece. E eu não conheço a peça? Daqui a pouco passa e ela começa a reclamar de novo", entregou Nikita. Para as Olimpíadas, Joanna Maranhão deve fazer treinamento em altitude com a seleção, em Sierra Nevada.
A acareação entre os dois foi prorrogada para o 27 de maio, também para que Joanna pudesse competir na seletiva. "Eu pedi o adiamento para poder vir aqui, e fui acusada de manipulação, achavam que eu usei isso a meu favor, o que é absurdo. Consegui bloquear isso da minha cabeça até agora, porque precisava só nadar e conseguir esse índice. Mas agora, minha vontade é de ir lá e dizer tudo o que eu penso e falar o que for preciso para fazer justiça."

Visivelmente aliviada com a vaga para Pequim, a nadadora falou com mais tranqüilidade sobre o trauma que revelou à imprensa no início do ano. "Minha intenção nunca foi tentar me promover, de maneira nenhuma. Acho que algumas pessoas me julgaram de forma errada. Fiz um tratamento psicológico e isso foi voltando na minha cabeça com clareza, até que eu pude enfim entender que as minhas crises tinham motivo", diz Joanna. "Não é uma retaliação contra ele (Miranda), mas preciso levar isso até o fim, para que outras meninas não passem pelo que eu passei, não desejo a ninguém."

Para seu treinador, Nikita, todo o episódio deixou Joanna com a rotina de treinos comprometida, mas levou à primeira mostra do que ela realmente é capaz. "Ela destravou, com certeza", comenta o técnico, emocionado com a conquista. "Foi a melhor prova dela em quatro anos. As passagens foram perfeitas. Ela tirou um peso das costas, e deve melhorar ainda mais."

A busca da dupla agora é pelo tempo feito por Joanna em Atenas, 4min40s00 cravados, a melhor marca dela na carreira. "Com o que ela fez para conseguir a classificação para os Jogos, conseguiria uma semifinal. Para repetir o que ela fez na primeira Olimpíada e voltar à final, ainda precisa melhorar o tempo dela", pondera Nikita, que agora já faz os planos para a reta final de preparação.

"O problema é que Joanna entra em parafuso com ela mesma", explica o técnico. "Nos EUA, ela nadou muito bem o borboleta, fez índice, foi muito bem. Na hora de nadar o medley, que é a prova dela, surgiram dores. Mas é engraçado, porque foi só ela sair da água que sarou, foi passear no shopping lá", exemplifica.

Com isso, a expectativa para que Joanna repita o índice conquistado no GP de Stanford é grande. "Agora que ela conseguiu o índice nos 400 m medley, talvez fique mais solta para nadar", projeta Nikita.

Para Joanna, porém, é tempo de ver erros. "Sei que preciso melhorar meu nado peito. O borboleta eu já estou puxando mais, mas preciso manter o ritmo. Vou comer água", brinca.

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