Faltou "coração" para a natação brasileira, avalia Thiago Pereira
Pela primeira vez desde 2004 o Brasil deixa os Jogos Olímpicos sem subir ao pódio na natação, e justamente quando compete em casa. Um dos atletas de quem se esperava uma medalha, Thiago Pereira reconheceu que a delegação verde-amarela ficou devendo no Rio de Janeiro. Para ele, o problema vai além da questão técnica.
“Por ser um esporte individual, cada um sabe de si. Eu me preparei, ralei para caramba e fui para cima. Dei meu máximo. Mas o importante não é só dar o máximo: tem hora que é nadar com o coração, com vontade, com tudo. Isso eu acredito que faltou um pouquinho. Faltou coração”, disse Thiago Pereira, para em seguida explicar o que seria essa vontade extra.
“Os Jogos Olímpicos são uma competição que eu valorizo muito. Já tive momentos em que saí bastante chateado. Em Pequim, por exemplo, eu chorei para caramba. Sabia do valor que era nadar aquilo ali. É isso que me move. É isso que me fez chegar a Londres e conquistar meu grande sonho. Fiz tudo em uma baita geração, mas eu busquei isso. Mudo minha vida se for preciso, e eu acho que é isso que a gente precisa”, completou Thiago, que concedeu entrevista em um evento da Gillette, sua patrocinadora pessoal.
A ausência de medalhas na Rio-2016 é preocupante. Em 2008 e 2012, com Cesar Cielo no auge e o próprio Thiago brilhando, a natação recolheu quatro medalhas olímpicas para o Brasil. Para atingir a meta imposta para a Olimpíada deste ano, que é o top 10 no quadro de medalhas, era importante que as piscinas dessem ao país ao menos um pódio, só que apostas como Bruno Fratus, o revezamento 4x100 m livre e Felipe França não corresponderam às expectativas.
Medalhista de prata nos 400 m medley em Londres-2012, Thiago Pereira também era bem cotado e esteve perto de um pódio nos 200 m medley no Rio de Janeiro. Depois de nadar três quartos da piscina colado no líder Michael Phelps, Thiago perdeu fôlego na reta final e terminou apenas com a sétima colocação.
“Foi difícil, cara. Eu tentei ir para cima do Michael. Em casa, com todo aquele calor da torcida, eu passei forte nos primeiros 100 m. Foram os 100 m mais fortes que eu já fiz. O Ryan [Lochte] teve a mesma atitude, mas o Michael estava bem demais. A gente foi para cima e ele segurou. No fim, a gente cansou muito. Eu morri totalmente. Não tinha mais nada. Nos últimos 15 metros, achei que não ia chegar. Não conseguia rodar mais o braço”, disse Thiago.
A estratégia ousada alterou as chances do brasileiro, que poderia ter alcançado um lugar no pódio se tivesse adotado uma abordagem mais cautelosa da prova. Na quarta Olimpíada da carreira, no entanto, Thiago Pereira queria mesmo era brigar pelo ouro.
“Acho que é isso que a gente precisa, arriscar. Todo mundo viu. Eu fui para cima do melhor cara da história, de um maluco que é fora do planeta, mas não deu. Não mudaria minha estratégia. Se fizesse algo diferente, teria de falar para você que eu teria de brigar pela prata ou pelo bronze. Eu não caí para nadar por prata ou bronze. Queria fazer uma coisa que, se desse certo, ia ser única”, disse o brasileiro.