Judô

Ouro faz Rafaela realizar, de quebra, o sonho da irmã, maior incentivadora

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Rafaela Silva posa com o técnico, Geraldo Bernardes, e a irmã Raquel imagem: Reprodução/Instagram

Gustavo Franceschini

Do UOL, no Rio de Janeiro

Séria e concentrada durante todo a disputa de medalha, Rafaela Silva se soltou assim que pisou fora do tatame. Depois de um abraço já emocionado no técnico, a primeira brasileira campeã na Rio-2016 correu para a arquibancada para um abraço apertado com a irmã, Raquel. Não é por acaso. Ao subir no degrau mais alto do pódio, a judoca também estava realizando um sonho da irmã, seu maior espelho no esporte.

As duas começaram nos tatames praticamente juntas, quando os pais tentaram arrumar uma atividade para as crianças na perigosa Cidade de Deus. Rafaela influenciou a irmã, três anos mais velha, a entrar no judô. E foi quando Raquel começou a viajar para competir que a caçula de Luiz Carlos e Zenilda se interessou de vez pela modalidade. 

“Ela era mais velha e não tinha competição para minha idade. Ela começou a se destacar, foi campeã pan-americana, saiu do país para lutar. E eu só ficava em casa, não conseguia viajar porque não tinha campeonato para a minha idade. Então meu objetivo era treinar e viajar como a minha irmã”, disse Rafaela na última segunda, horas depois de conquistar o maior prêmio dessa trajetória.

Ao longo da adolescência, as duas pareciam destinadas ao sucesso. Tinham ótimos resultados, se destacavam no Rio de Janeiro e começavam a emplacar um lugar nas seleções de base. Só que aos 15 anos, Raquel descobriu que estava grávida, uma novidade que mudaria sua vida para sempre. 

Rafaela foi a primeira da família e ajudou a irmã a esconder a gestação dos pais por cinco meses, com medo da reprimenda que Raquel sofreria. “Que bobagem, eu falei para elas depois que não precisavam ter feito isso”, conta Luiz Carlos. A bronca não veio do tamanho que elas esperavam, mas a responsabilidade sim. Mãe de Ana Carolina, a filha mais velha se afastou do judô temporariamente e nunca mais conseguiu ser a atleta de ponta que se desenhou antes.

Judoca Rafaela Silva fatura ouro na Rio-2016

Eleita madrinha da sobrinha, Rafaela seguiu sozinha no sonho olímpico. Foi campeã mundial sub-20 em 2008, vice no adulto em 2011 e era uma das favoritas à medalha em Londres, quando um erro provocou a eliminação e uma avalanche de ofensas nas redes sociais. A judoca entrou em um estado depressivo, pensou em abandonar os tatames e contou com uma ajuda providencial da irmã para se recuperar. Foi Raquel quem a indicou para Nell Salgado, psicológa que ajudou a hoje campeã a superar a crise.

A irmã mais velha viu de perto Rafaela conquistar o Mundial de 2013 no Rio. Ganhou, com isso, forças para voltar a se empenhar no judô em busca do sonho olímpico. Raquel virou sparring da seleção brasileira e passou os últimos meses treinando com Erika Miranda, judoca da sua categoria.

A convivência com Rafaela aumentou. As duas saem juntas com frequência e a tia é o xodó da afilhada Ana Carolina. Quando viu a irmã superar seus fantasmas para chegar ao topo do esporte, Raquel não pôde evitar de sentir aquele ouro como se fosse um pouquinho seu também.

“Eu não pude estar lá mas ela estava me representando 100%. Eu fico muito orgulhosa dela estar lá, de ser minha irmã. Eu estava do lado dela sempre, vendo tudo que ela passou, nos momentos alegres e tristes... Ver essa medalha parece que é recompensa de tudo. Tudo valeu a pena”, diz Raquel, que promete fazer companhia à irmã daqui a quatro anos, em Tóquio.

“Eu estou treinando firme e forte. Vou continuar até 2020, se Deus quiser”, diz a irmã mais velha da família Silva.
 

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