Olimpíadas 2016

No dia da abertura, energia elétrica ainda gera temor na Rio-2016

Júlio César Guimarães/UOL
HSBC Arena, casa da ginástica artística na Rio-2016, teve queda de energia em evento-teste realizado neste ano imagem: Júlio César Guimarães/UOL

Guilherme Costa

Do UOL, no Rio de Janeiro

Na tarde da última sexta-feira (29), data que marcou uma semana para o início dos Jogos Olímpicos de 2016, ninguém treinava no interior da HSBC Arena, casa da ginástica artística no megaevento – o local estava liberado para atividades dos atletas, mas o comitê organizador disse que ninguém quis usá-lo na data. Do lado de fora, funcionários trabalhavam em ritmo acelerado num pequeno cômodo identificado com uma placa em que se lia “gerador”. Motivo de grande temor entre os responsáveis pela competição, a ligação de energia da Rio-2016 passou por ajustes de última hora. Para as pessoas que tocam essas intervenções no Parque Olímpico da Barra da Tijuca, zona oeste da cidade, essa correria pode não ser suficiente. “O risco de apagão é enorme”, disse um dos encarregados pelo setor.

A ligação elétrica é um dos assuntos mais conturbados na reta final da preparação do Rio de Janeiro para receber os Jogos Olímpicos. As instalações oficiais da competição terão uma rede especial, mas essa estrutura foi ligada apenas na semana passada, a menos de 15 dias do início do megaevento, a despeito de a subestação ter sido concluída meses antes. Em Londres-2012, tudo estava pronto com pelo menos um ano de antecedência.

A subestação olímpica da Barra da Tijuca foi construída pela Sociedade de Propósito Específico Energia Olímpica, que é constituída pela Light (51%) e por Furnas (49%). Trata-se de um aparato transformador de alta (138KV) para média tensão (13,8KV) com quase 15 quilômetros de ramais subterrâneos e potência de 120 MVA, com custo estimado de R$ 152,8 milhões. Em 2014, em São Paulo, a AES Eletropaulo investiu R$ 80 milhões numa subestação de potência similar para atender à região da Avenida Juscelino Kubitschek, um dos principais polos empresariais do município.

“Essa é uma obra nova. Foi concluída em maio de 2015, com um uma subestação de alta tecnologia, de ponta, com potência instalada de 120 MVA e condição de resiliência para a subestação. Você consegue suprir todas as cargas necessárias para o Parque Olímpico. Essa subestação tem uma confiabilidade muito grande, e nós estamos preparados”, relatou André Luiz Barata Pessoa, superintendente de distribuição da Light.

O Ministério das Minas e Energia também investiu R$ 40 milhões em reforço da rede de média tensão de energia para atendimento das instalações de competição e destinou R$ 290 milhões às obras de fornecimento temporário (backup).

Existem dúvidas justamente sobre essa rede suplementar. Não há mais entrega de geradores prevista para o Parque Olímpico da Barra da Tijuca e todas as estruturas de backup do local já foram ligadas, mas funcionários relataram que não houve testes em 100% dos aparelhos. Também há dúvidas sobre a capacidade desses equipamentos e necessidade de ajustes de última hora em algumas unidades – a da HSBC Arena foi apenas um exemplo.

Há uma semana, a agência “Reuters” publicou que um funcionário não identificado do comitê organizador havia dito que todos estão “com o coração na boca” por causa do tema energia. O tom entre as pessoas que trabalham na entidade é realmente alarmista, a despeito de não existir apenas uma motivação para isso – empregados citam aspectos como atraso, falta de teste e necessidade de ajustes, mas não têm uma definição concreta sobre o que é mais preocupante nessa lista.

“A responsabilidade da Light no Parque olímpico foi a subestação olímpica. Da saída dos circuitos e cabos do disjuntor da subestação para fora, aí não é responsabilidade da Light”, explicou Barata Pessoa.

O comitê organizador dos Jogos Olímpicos não explicou exatamente o porquê de a ligação da subestação com as estruturas do Parque Olímpico ter sido feita tão em cima da hora. Um funcionário da entidade admitiu que esse foi, durante grande parte da preparação do Rio para receber o evento, um dos assuntos mais dramáticos. Segundo ele, porém, houve uma evolução sensível nos últimos dias. “O risco hoje é mais por falta de teste”, relatou.

Rio-2016 pode ter impacto na conta de luz

A Light, distribuidora que atende a uma parte do Rio de Janeiro, pediu à Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) que tarifas sejam reajustadas a partir do próximo mês. Entre as justificativas para isso, incluiu incremento do número de furto de energia, inadimplência de clientes e atrasos do governo fluminense em meio a uma necessidade de investimento por causa dos Jogos Olímpicos.

“Isso é uma situação de revisão extraordinária que não vem a reboque somente do investimento olímpico e que está em trâmite com a Aneel”, disse Barata Pessoa.

A dívida da Light atualmente representa algo em torno de 4,24 vezes a geração de caixa da empresa (considerando lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, chamado de Ebitda). Em reunião com a Aneel, a empresa pediu ao menos 1% de reajuste para os consumidores.

A Light investiu R$ 444 milhões em estruturas relacionadas à Rio-2016. O sistema elétrico da cidade teria recebido um total de R$ 909,9 milhões (o restante é proveniente do governo federal). A presidente da empresa, Ana Marta Hora Veloso, disse à “Agência Brasil” que esses aportes “são prudentes e seriam feitos, mas foram antecipados em função da Olimpíada”.

Rio-2016 tem acumulado acertos de última hora sobre energia

Em junho, o governo federal liberou R$ 28,8 milhões para garantir a implantação de todo o plano da Light para a energia dos aparatos relacionados aos Jogos Olímpicos. Técnicos foram colocados no Parque Olímpico da Barra da Tijuca em regime de 24 horas de trabalho.

Essa tentativa de acertos de última hora tem a ver com um dos principais problemas enfrentados pela Rio-2016 em eventos-teste. Houve quedas de energia em competições de ginástica artística e de natação. No segundo caso, a falha atrasou em quase uma hora a prova decisiva dos 50 m livre – disputa que alijou dos Jogos Olímpicos deste ano o nadador Cesar Cielo, 29, medalhista de ouro em Pequim-2008.

No dia 15 de julho, funcionários do comitê Rio-2016 estiveram na Petrobras e pediram nove milhões de litros de diesel para reforço de geradores do Parque Olímpico. Segundo o jornalista Lúcio de Castro, em colaboração ao UOL Esporte, a ideia da entidade era cobrir problemas de energia identificados na abertura da Vila Olímpica. A estatal confirmou a negociação e informou que não pretendia ajudar os responsáveis pelos Jogos.

Topo