Gisele, sons do Brasil e festa aos refugiados marcam Cerimônia de Abertura
Os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro foram abertos oficialmente nesta sexta-feira (5). Em meio a diversas mensagens de preservação ao meio ambiente e músicas tipicamente brasileiras, a recepção aos refugiados chamou a atenção. O grupo foi quase tão aplaudido quanto o time Brasil ao desfilar pelo Maracanã. Na vez do país-sede, o público foi ao delírio, com a porta-bandeira Yane Marques chegando a arriscar um passo de samba.
Durante a festa criada pelos cineastas Fernando Meirelles, Andrucha Waddington e Daniela Thomas, a modelo Gisele Bündchen desfilou ao som de “Garota de Ipanema”. A música, inclusive, foi um dos destaques da noite: Anitta, Caetano Veloso, Elza Soares, Gilberto Gil, Ludmilla, Jorge Ben Jor, Zeca Pagodinho, entre outros, soltaram a voz no Maracanã.
Delegações: refugiados dividem protagonismo com Time Brasil
Na passagem das delegações pelo Maracanã ao som de músicas brasileiras, apenas um grupo levantou tanto o público quanto o Brasil: os refugiados. Desfilando sob a bandeira olímpica, o grupo foi o penúltimo ao entrar no estádio e distribuiu sorrisos. Eles foram recepcionados por uma enorme salva de palmas, com a tribuna de honra ficando em pé para saudá-los.
Na vez do Brasil, o público veio abaixo. Com um Maracanã eufórico, a porta-bandeira Yane Marques entrou na dança: a atleta do pentatlo moderno chegou a arriscar um passo de samba com o símbolo brasileiro na mão. A delegação desfilou ao som de "Aquarela do Brasil" e teve a modelo Lea T na bicicleta à frente dos atletas - ela foi a primeira transexual a ter um papel de destaque em uma abertura de Jogos Olímpicos.
Entre os demais países, a Itália foi bastante ovacionada, seguida por Alemanha, Israel e México. No caso da Argentina, tradicional rival brasileiro nos esportes, os aplausos se misturaram a leves vaias.
A tradicional organização militar dos desfiles não se seguiu no evento carioca. Uma certa confusão era notada no campo, com atletas se espalhando pelo local. Durante os desfiles das delegações, cada atleta recebeu uma semente e, ao entrar no Maracanã, plantou uma muda que será levada a um dos parques do Rio de Janeiro.
Mensagens universais, mas símbolos apenas brasileiros
Ao entrar no palco, Regina Casé fez um discurso sobre diversidade, antes de apresentar Jorge Ben Jor, que entrou cantando “País Tropical”. “A gente está aqui hoje para buscar a nossa semelhança. E, principalmente, para celebrar as nossas diferenças”, afirmou a atriz e apresentadora, levantando o público presente, que seguiu cantando a música à capela.
O discurso de Regina Casé foi acompanhado por diversas mensagens universais – aquecimento global, preservação da natureza, etc. Um verdadeiro recado verde. Na hora dos símbolos, especialmente através da música, no entanto, apenas valores brasileiros foram vistos.
Na parte final da mensagem “verde” do discurso, um menino entrou no palco e colheu uma planta em meio ao asfalto. Ali, teve início o poema “A Flor e a Náusea”, de Carlos Drummond de Andrade. As atrizes Fernanda Montenegro e Judi Dench se misturaram na leitura em português e inglês.
As chegadas
A miscigenação brasileira foi representada durante o evento. Primeiro, ocas indígenas tomaram conta do palco do Maracanã, junto com os “homens brancos”, em três navios. Na sequência, a escravidão foi retratada - ela teve fim no Brasil apenas em 1888.
A influência oriental, em especial chineses e japoneses, deu sequência à miscigenação, que culminou na construção de grandes metrópoles. Com diversos prédios feitos de caixas erguidos no estádio, um grupo de “parkour” o escalou e desmontou a parede recém-criada.
14 Bis abre espaço para o último desfile de Gisele Bündchen - e sua cena cortada
No lugar da parede, o 14 Bis, avião criado por Santos Dummont, apareceu no meio do Maracanã. A projeção levantou voo no estádio e percorreu a cidade do Rio de Janeiro. Nesse momento, a música “Garota de Ipanema” começou a ser tocada no piano por Daniel Jobim, neto de Tom Jobim.
A música abriu espaço para o último desfile de Gisele Bündchen. A modelo, que já havia anunciado sua aposentadoria das passarelas, percorreu o palco deixando rastros por onde passava. As linhas deixadas pela gaúcha se transformavam em imagens das obras de Oscar Niemeyer.
A passagem de Gisele pelo evento ainda contaria com uma cena de “assalto”, mas ela foi cortada depois de o ensaio ter tido uma repercussão negativa do público.
Funk abre caminhos às músicas pops do Brasil: Zeca e Elza se misturam a D2 e Ludmila
Nas atrações musicais, quatro cantores característicos do Rio de Janeiro subiram ao palco. Sentada em uma cadeira, Elza Soares sucedeu a funkeira Ludmilla, que havia cantado “Eu Só Quero É Ser Feliz”. A ex-mulher de Garrincha soltou a voz em "Canto de Ossanha".
Na sequência, Zeca Pagodinho e Marcelo D2 se misturaram durante a música “Deixa A Vida Me Levar”. Ao deixar o palco, a dupla deu espaço para a funkeira Karol Conka, que representara o “empoderamento da mulher”.
Antes deles, Luiz Melodia abriu a cerimônia cantando “Aquele Abraço”, de Gilberto Gil. Junto com a música, imagens da cidade do Rio de Janeiro preenchiam os telões do Maracanã. Na sequência, Paulinho da Viola tocou o hino nacional brasileiro.
Temer evita anúncio, mas é vaiado
Logo no início da cerimônia, aconteceu uma quebra de protocolo envolvendo o presidente interino Michel Temer. Estava programado para que ele fosse anunciado ao lado de Thomas Bach, presidente do COI (Comitê Olímpico Internacional), mas apenas o nome do segundo foi chamado ao microfone.
Temer apareceu apenas para declararam oficialmente a abertura dos Jogos Olímpicos. Nesse momento, o presidente interino foi bastante vaiado pelo público presente no Maracana.
Antes da declaração de Temer, Carlos Arthur Nuzman, presidente do COB (Comitê Olímpico Brasileiro) foi ao microfone ao lado de Thomas Bach. “Sou o homem mais orgulhoso do mundo. Tenho muito orgulho da minha cidade e do meu país”, discursou, antes de decretar: "O Rio está pronto para fazer história".
Em seu discurso em inglês, Nuzman agradeceu os governos Federal, Municipal e Estadual. Nesse momento, uma leve vaia foi ouvida vinda da arquibancada à esquerda da tribuna de honra do Maracanã.
Vanderlei Cordeiro de Lima acende a pira no Maracanã; Menino de 14 anos repete o gesto na "pira do povo"
Depois da recusa de Pelé por causa de problemas de saúde, Vanderlei Cordeiro de Lima foi o responsável por acender a primeira pira. A ação começou com uma série de atletas brasileiros carregando a bandeira olímpica: Marta (futebol), Emanuel (vôlei de praia), Sandra Pires (vôlei de praia), Joaquim Cruz (atletismo), Oscar Schmidt (basquete) e Torben Grael (vela).
Após a execução do hino olímpico e de Robert Scheidt fazer o juramento olímpico, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Anitta se dividiram em duas músicas: “Isso Aqui é o Que é” e “Sandália de Prata". O musical foi acompanhado por algumas escolas de samba do Rio de Janeiro.
Depois da participação musical, um revezamento da tocha dentro do estádio teve início. Gustavo Kuerten foi o primeiro e passou para as mãos de Hortência. Na sequência, a ex-jogadora de basquete entregou a chama para Vanderlei Cordeiro de Lima, medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de 2004. Ele, então, completou a festividade acendendo uma pequena pira olímpica, uma mensagem em apoio à redução de gases poluentes.
Apesar de ter sido acesa no evento de abertura, a pira do Maracanã não será a principal dos Jogos. Após a cerimônia, a chama foi levada para a Candelária, no centro do Rio de Janeiro, onde se encontra a pira oficial - ela foi acesa por Jorge Gomes, um menino de 14 anos, que pratica atletismo.
Rio rompe tradições
Na cerimônia carioca, duas apresentações não seguiram seus padrões tradicionais. De início, o desfile das delegações. Como o Maracanã não possui uma pista de atletismo, os membros de cada país caminharam pelo meio do gramado do estádio.
Na sequência, a apresentação dos arcos olímpicos mostrou um detalhe próprio do país: ao invés das cinco cores variadas, o verde foi utilizado, em referência ao reflorestamento. “O verde deve assumir todos os cinco continentes”.
Opinião dos blogueiros
Juca Kfouri: “A festa entreteve, não teve grandes pirotecnias, e se valeu da riqueza da música brasileira para não deixar a bola cair. Teve o esperado “Fora, Temer!”, sem xingamentos, apenas vaias. O público do Maracanã foi mais bem-educado que o de Itaquera na abertura da Copa do Mundo”.
Julio Gomes: “Vanderlei tem a medalha Pierre de Coubertin em casa, pelo exemplo de espírito esportivo. E agora ele tem a honra maior que um brasileiro poderia ter: acendeu a pira olímpica. O padre lunático nos fez um favor. Eternizou um gesto. Eternizou a melhor das maneiras de se levantar após o tombo. Com bom coração, sorriso no rosto. Cabe a nós, seguir Vanderlei e tanta luz que ele espalha”.