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União Islâmica pedirá reunião com ministro sobre suspeitos de terrorismo

Arquivo pessoal
Mohamad Mounir Zakaria, um dos presos por suspeita de preparar atos de terror imagem: Arquivo pessoal

Vinícius Segalla

Do UOL, em São Paulo

A União Nacional Islâmica (UNI), associação que agrega uma série de entidades árabes e muçulmanas do país, irá pedir uma audiência com o ministro da Justiça, Alexandre Moraes, para "oferecer colaboração e tentar entender as reais acusações" que pesam sobre as 12 pessoas presas por suspeita de preparar atos de terrorismo a serem perpetrados durante as Olimpíadas do Rio de Janeiro.

A informação é do xeque Jihad Hammadeh, presidente do Conselho de Ética da UNI. A entidade enviará o pedido formal ainda esta semana. Uma carta está sendo redigida pela UNI em conjunto com outras entidades, que estão em contato com as famílias de alguns dos presos.

"Nós queremos entender: estão presos por quê? Qual a acusação? Quais as provas existentes? O direito de defesa, previsto na Constituição, está sendo respeitado? Estão tendo acesso a advogados?", disse Hammadeh. No último dia 23, o UOL Esporte revelou que advogados dos suspeitos foram impedidos de ver seus clientes detidos em um presídio federal de segurança máxima no Mato Grosso do Sul.

A reportagem apurou que as autoridades no local não deixaram que os presos sequer assinassem as procurações que tornariam os advogados formalmente seus representantes legais. Sem posse deste documento, os advogados não puderam ter acesso aos autos da investigação, conhecer os motivos que levaram seus clientes a serem presos e nem entrar com um pedido de habeas corpus caso entendam que a prisão tenha sido ilegal. O Ministério da Justiça justificou o procedimento com base em uma portaria emitida pela pasta no mês passado.

Além de compreender melhor as circunstâncias que levaram à prisão dos suspeitos, a comunidade muçulmana quer também oferecer ajuda aos investigadores da Polícia Federal que comandam a chamada "Operação Hashtag", que investiga supostas atividades terroristas no Brasil. "Alguns dos presos são conhecidos nossos, frequentam mesquitas, são membros ativos de nossa comunidade. Claro que não sabemos o que escrevem em suas contas particulares em grupos restritos de redes sociais, ou o que falam ao telefone, mas estamos dispostos a ajudar com tudo que estiver ao nosso alcance", disse o xeque.

Uma dessas pessoas conhecidas é Mohamad Mounir Zakaria (foto acima), de 50 anos, dono de uma loja de tecidos no bairro do Brás, região central de São Paulo conhecida por abrigar comerciantes de origem árabe. De origem libanesa, Zakaria mora no Brasil há mais de 20 anos, tem três filhos com uma mulher brasileira, frequentava regularmente uma mesquita no bairro do Pari e é diretor de patrimônio da Liga da Juventude Islâmica Beneficente do Brasil. "O Zacaria jamais mostrou qualquer tendência a cometer atos violentos. É difícil entender o motivo de sua prisão", afirmou Hammadeh. A reportagem ouviu depoimentos semelhantes de outras lideranças religiosas da comunidade e também de comerciantes vizinhos à loja de Zakaria.

Outro preso é Levi Ribeiro Fernandes de Jesus, que seria, segundo a Polícia Federal, um dos aliciadores de militantes para grupos que estariam dispostos a realizar atos terroristas no Brasil. Conforme revelou o UOL Esporte, o jovem de 21 anos tem origem humilde - seus pais moram em um bairro da periferia de Guarulhos, na Grande São Paulo - e foi preso pela Polícia Militar de São Paulo por desobediência em uma manifestação na avenida Paulista contra o governador Geraldo Alckmin, na época que o atual ministro da Justiça, Alexandre Moraes, era secretário de Segurança de São Paulo.

A Justiça considerou sua prisão irregular, pois, segundo o juiz que julgou o caso, ele estava exercendo apenas seu direito de manifestação, e soltou o acusado sem que fosse gerado qualquer registro de antecedentes criminais. "Ele (Fernandes de Jesus) veio algumas vezes à mesquita. Era um menino tranquilo, sua prisão foi uma grande surpresa", afirmou o xeque Rodrigo Rodrigues, da mesquita do Pari.


Pedido de Habeas Corpus

Um advogado que defende Zacaria e mais três acusados entrou com um pedido de Habeas Corpus junto à Justiça Federal para obter a soltura dos suspeitos. O pedido já foi distribuído no Tribunal Regional Federal da 4ª Região, com sede e Porto Alegre, e segue à espera de apreciação dos desembargadores do órgão.

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