Olimpíadas 2016

Rio-2016: Jogos "baratos" para Paes, mas não isentos de controvérsias

Buda Mendes/Getty Images
Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro imagem: Buda Mendes/Getty Images

Da AFP

Seguindo as novas orientações da virada olímpica do COI, os Jogos do Rio de Janeiro foram vendidos com a promessa de custar pouco aos cofres públicos, por meio de forte participação da iniciativa privada, mas não faltam controvérsias.

"Bom, bonito e barato". O custo do mega-evento foi avaliado pela prefeitura em pouco mais de R$ 14,4 bilhões, R$ 7,07 bi para as instalações olímpicas e R$ 7,4 bi para os custos organizacionais.

O prefeito Eduardo Paes gabou-se recentemente de ter reduzido os custos em 35% em relação às previsões iniciais da candidatura.

"Reduzi os custos ao economizar recursos", explicou, dando como exemplo o estádio aquático. "A federação internacional (FINA) queria que eu tirasse os quatro pilares de sustentação, mas eu teria que gastar R$ 50 milhões a mais", argumentou.

"Os Jogos do Rio não têm nenhum estádio construído por grandes arquitetos de renome internacional", disse o prefeito, em entrevista à AFP.

"São arenas funcionais, simples e bonitas. Aqui, com a paisagem da cidade, não precisamos de construções grandiosas. As arenas devem fundir-se com a paisagem e não competir com elas", justificou.

O comitê organizador também seguiu as diretrizes do COI, que adotou com a chegada em 2014 do novo presidente, Thomas Bach, a Agenda 2020, para acabar com a ideia de Jogos faraônicos.

"Tomamos medidas para reduzir custos e fornecemos soluções concretas para que os organizadores possam evitar certas despesas", explicou à AFP Christophe Dubi, diretor executivo do COI.

O projeto foi financiado a 80% pela iniciativa privada, principalmente através de parcerias público-privadas (PPP). Pela primeira vez na história dos Jogos, o comitê organizador foi financiado a 100% por patrocinadores.

As autoridades locais (prefeitura e governo de estado) também aproveitaram o evento para realizar obras ditas de 'legado', principalmente no setor de transportes.

Uma forma de garantir deslocamentos mais fluidos durante os Jogos, além de modernizar a cidade. O custo total foi avaliado em 24,6 bilhões de reais.

O outro lado da moeda

Paes baseou-se em um estudo publicado em 2012 pelo pesquisador dinamarquês Bent Flyvbjerg, da Universidade de Oxford, para comparar o orçamento olímpico 'barato' do Rio-2016 aos gastos faraônicos de outras edições.

Mas o próprio Flyvbjerg vê a situação com outros olhos. O dinamarquês fez uma nova avaliação do orçamento dos Jogos cariocas e, ao invés da redução de custos de 35%, viu um aumento de 51% em relação ao projeto inicial.

Esse aumento se situa na média das Olimpíadas desde 1999 e está muito abaixo dos Jogos de Londres-2012, que custaram R$ 40,8 bilhões, quatro vezes mais do que o previsto.

"Sabemos que o Rio fez esforços para reduzir os custos", disse Flyvbjerg à AFP.

"Em todas as Olimpíadas que avaliamos, constatamos que o orçamento previsto na candidatura estourou e o Rio não é exceção à regra".

"Está errado!", reclamou Paes à AFP. "Não é verdade e vamos contestar. Tem uma epidemia mundial de especialistas. Sempre tem alguém disposto a fazer um estudozinho que vai nesse sentido. Começam pelo fim e constroem um tese. Está errado e não resiste a uma análise mais crítica", argumentou.

Para o Comitê Organizador, nem tudo foram flores. Inteiramente financiado por verba privada, o orçamento passou de R$ 4,2 a 7,4 bilhões de 2009 a 2015, principalmente por causa da inflação e do incremento de quatro modalidades nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos.

Por isso o presidente da Rio-2016, Carlos Nuzman, obteve no início de junho um adiantamento do pagamento de 1,5 bilhão de dólares do COI.

De acordo com fontes próximas ao COI, "as relações entre Bach e Nuzman foram bastante tensas no início de junho, porque o presidente do COI não recebeu explicações suficientes sobre o uso da verba. A confiança entre os homens foi fortemente afetada".

A Rio-2016 precisou adiar e reduzir o pagamento ao Comitê Olímpico do Brasil (COB), também presidido por Nuzman, para evitar fechar o ano de 2015 no vermelho.

A mobilização de cerca de 85.000 policiais e militares para garantir a segurança dos Jogos também levou o governo federal a conceder uma verba de 3 bilhões de reais ao estado do Rio, que decretou no mês passado estado de calamidade pública por causa da crise financeira.

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