Do sub-20 à Olímpiada: as armas de Rogério Micale para levar Brasil ao ouro
Com a demissão de Dunga e a chegada de Tite, a missão de comandar o Brasil na Olimpíada de 2016 no Rio de Janeiro caiu nas mãos de Rogério Micale. Na CBF desde 2015, quando assumiu a seleção sub-20, o técnico acumula um currículo paradoxal: de um lado, muitos anos de experiência e bons resultados em uma carreira de 19 anos e mais de 15 títulos como treinador; do outro, pouco tempo comandando equipes profissionais e formação em um ambiente com respaldo de diretoria e pouco risco de demissão.
Ao longo da carreira, aparecem duas experiências com elencos profissionais, ambas breves: como interino do Figueirense, e depois no comando do Grêmio Prudente, ambas curtas. Apesar disso, pessoas que já trabalharam com Micale o consideram o nome ideal para conduzir o Brasil ao inédito ouro olímpico.
Estilo "europeu" e ofensivo
Micale é descrito por quem o conhece como um treinador moderno, que estuda muito o futebol e puxa inspiração da Europa. Em seu principal trabalho na equipe sub-20 do Atlético-MG, ao longo de sete temporadas ajudou a formar um dos times mais ofensivos da base brasileira. Como fundamentos, bola no chão, zagueiros conscientes e volantes com bom passe.
“Ele influenciou e foi influenciado com diferentes teorias que levaram a um conceito de jogo colocado no Atlético-MG. É um conceito de propor o jogo a todo instante, atuar de forma ofensiva. Evitar jogar para trás, usar o goleiro e os zagueiros na construção das jogadas. Uma filosofia baseada na transição, com bola no chão e sem exageros nas bolas aéreas”, explica André Figueiredo, diretor de base do Atlético-MG.
No último dia 18, o blogueiro do UOL Rodrigo Mattos analisou as principais diferenças de estilo entre Micale e Dunga, e apontou que o estilo ofensivo do treinador da seleção olímpica aparece em seu trabalho no sub-20.
A defesa do Brasil sub-20 com Micale sempre jogou adiantada, com participação do goleiro. O time jogava com quatro atletas adiantados e tinha média de 2,54 gols por jogo, entre amistosos e jogos oficiais. Em contrapartida, sofria quase um por partida.
"Moderno", mas disciplinador
Fora das quatro linhas, Micale não mostra a mesma rigidez de Dunga ou de Gallo, seu antecessor no Brasil sub-20, mas também está longe de fazer o estilo paizão. Segundo o Blog do Rodrigo Mattos, o comandante, embora não chegue a produzir cartilhas ou proibir adereços, se preocupa com maturidade e responsabilidade dos jogadores com que trabalha.
Aos atletas, tenta explicar que todas as atitudes têm reflexo na mídia e podem gerar cobranças. À beira do gramado, tem postura enérgica, e em alguns momentos acaba fazendo o perfil linha dura.
Ao contrário da maioria dos treinadores brasileiros, Micale não costuma ter problemas para falar do momento vivido pelo futebol brasileiro. “Não estamos tentando aprender com o nosso passado. Estamos fincados no nosso passado porque ganhamos no nosso passado. E não olhamos para frente'', disse, em entrevista ao UOL Esporte em 2015.
Tempo para trabalhar x pressão inédita
Ao longo dos 19 anos de carreira, Micale encontrou muito sucesso nas categorias de base: foram 17 títulos por quatro clubes diferentes, tendo como um dos pontos altos a conquista da Copa São Paulo de Juniores pelo Figueirense em 2008 – na ocasião, foi levado ao Figueira por Erasmo Damiani, atual coordenador de base da seleção. No Atlético-MG revelou nomes como Marcos Rocha, Bernard, Carlos e Jemerson.
Na visão de quem acompanhou o trabalho do comandante, além de mostrar competência, ele sempre se beneficiou da estabilidade oferecida nas categorias de base do Galo. Foram sete anos de trabalho, com pequenas interrupções, que permitiram a Micale introduzir sua filosofia de trabalho e ver os frutos nas equipes montadas.
Quando se aventurou no profissional, chegou a experimentar a cultura brasileira de muita pressão, pouco tempo e demissões para treinadores: no Grêmio Prudente, em 2011, acabou demitido após apenas duas derrotas na abertura do Campeonato Paulista.
Na seleção olímpica, Micale terá que lidar com a pressão: depois do fiasco na Copa América, o Brasil deposita na Olimpíada suas fichas, e pretende levar alguns de seus principais jogadores acima de 23 anos, como Neymar e Thiago Silva. Para o treinador, o resultado pode ser fundamental na definição dos novos rumos na carreira.