Olimpíadas 2016

Diego Hypolito na Rio-2016? Comissão técnica não tem tanta certeza disso

RicardoBufolin/CBG
Diego Hypolito se apresenta na Copa do Mundo de ginástica, em São Paulo imagem: RicardoBufolin/CBG

Gustavo Franceschini

Do UOL, em São Paulo

Diego Hypolito fala com segurança sobre aquela que pode ser a terceira Olimpíada em sua carreira e projeta a conquista da sonhada medalha olímpica, mas a comissão técnica ainda trata a presença dele na Rio-2016 com cautela. Após o fim da participação brasileira na Copa do Mundo de ginástica, em São Paulo, os responsáveis pela escolha do time ressaltaram que o especialista na prova de solo precisa subir sua nota para disputar os Jogos.

“Desde o início do ano traçamos os objetivos individuais para ele. Ele tem de buscar a nota 15.750. Realmente ele tem melhorado bastante, tem conseguido bons resultados, mas ainda um pouquinho aquém do que a gente espera para os nossos objetivos e para colocá-lo dentro da equipe”, disse Leonardo Finco, coordenador de ginástica masculina da CBG (Confederação Brasileira de Ginástica).

“Lógico que também não pode só fazer uma vez, tem de ter uma pequena regularidade. Não adianta a pessoa ter dez tentativas e fazer apenas uma vez. Isso está sendo analisado, ainda faltam algumas chances. Mas tem de estar próximo ali de 15.700. O 15.700 é o mínimo, entendeu? É um índice que a gente fez em cima de médias de vários dos últimos campeonatos, de Mundiais e Olimpíadas”, disse Renato Araújo, técnico principal da seleção masculina. 

A discussão é antiga e permeou todo o ciclo olímpico de Diego. Até agora, a melhor nota de dele é o 15.600 da última sexta, na eliminatória da Copa do Mundo – na final ele fez 15.400 e ficou com a prata. Até a definição da equipe, mais novo dos irmãos Hypolito deve participar de mais algumas etapas de Copa do Mundo e de duas avaliações da CBG no Rio de Janeiro, diante de árbitros internacionais.

Só que Diego está confiante. Mais que isso, ele fala como se estivesse em um cenário bem menos complicado do que este pintado por seus superiores. “É, acredito que atualmente é muito difícil eu ficar nessa disputa do ano passado se eu tenho feito boas competições”, disse ele, referindo-se ao debate de 2015, quando ele foi reserva no Mundial. Nesta temporada, ele já venceu no solo duas Copas do Mundo no exterior e levou a prata no Brasil, ainda que não tenha feito a nota exigida.

“Quem tem chance de medalha olímpica? Você pega essas chances e eles fizeram um padrão para medalhas olímpicas. Óbvio que dentro do que eu venho apresentando, são notas que seriam no mínimo finais olímpicas. E estando na final acho que todo mundo tem chance de ser medalhista”, completou Diego Hypolito.

E por que ser tão duro na avaliação de Diego?

Se você se fez essa pergunta lendo o começo deste texto, nós tentamos te explicar a seguir. O Brasil classificou a equipe completa para a Rio-2016 e tem, portanto, cinco vagas de titulares disponíveis. Como são seis aparelhos na disputa, o país pode montar uma equipe de “generalistas” ou “especialistas”.

Generalistas são os ginastas que têm capacidade de fazer todas provas e, por isso, conseguem dar mais pontos para o time na disputa por equipe, ainda que não sejam candidatos fortes. Especialistas, por sua vez, são os que focam seus treinos em um único aparelho.

A comissão técnica já decidiu que a seleção terá pelo menos três generalistas. Uma das vagas restantes é do campeão olímpico Arthur Zanetti, especialista nas argolas. Diego Hypolito, portanto, é a grande incógnita do time. Uma das premissas da CBG é que o Brasil só vai abrir mão de um bom resultado por equipes se tiver chance real de medalha em algum aparelho.

O 15.750 que se exige de Diego daria a ele pelo menos prata nos últimos três Mundiais, mas o deixaria fora do pódio na última Olimpíada. “Não fazendo esse índice aí fica mais difícil. Aí a gente vai ter de talvez pensar e repensar. Por isso que a gente fez esse critério difícil, porque o cara até ganha confiança. Se ele fizer esse índice ele sabe que vai ganhar medalha”, disse Renato Araújo. 

Discussão quase deixou Diego fora de dois Mundiais

O debate sobre a presença, ou não, de Diego na seleção masculina acontece anualmente desde 2012. Com a ascensão de uma nova geração de ginastas generalistas e Zanetti consolidado como o especialista do time, o irmão de Daniele tem sofrido.

Em 2014, por exemplo, ele estava fora dos planos da seleção e só foi ao Mundial porque dois outros ginastas se lesionaram. Embora não tenha brilhado na disputa por equipes, Diego foi bem no solo e saiu da competição com o bronze. No ano passado, com o torneio na Escócia valendo vaga na Rio-2016, ele ficou fora da eliminatória que classificou o Brasil – entrou só na final, com a equipe garantida e após novos problemas médicos dos companheiros.

“A questão é que a própria comissão não foi clara na maneira da minha importância para a seleção. Se eles tivessem sido mais claros, [falado:] ‘Olha, o Diego é um atleta especialista, tem chances reais de medalha no Mundial, mas a gente prioriza uma equipe mais homogênea que tenha chance de classificação olímpica. Se tivessem mostrado o valor eu não teria entrado em discussão”, disse ele no sábado, ao ser lembrado da questão.
 

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