Após remoções, Rio decide urbanizar bairro vizinho ao Parque Olímpico
Dois anos depois de iniciar as demolições de casas na Vila Autódromo e após remover 96% das famílias do bairro (799 das 824 já saíram do local), a Prefeitura do Rio de Janeiro anunciou que vai reurbanizar a área, que fica exatamente ao lado do Parque Olímpico da Rio-2016. A decisão foi divulgada nesta terça-feira (8) pelo prefeito Eduardo Paes.
Coincidentemente, a reurbanização foi anunciada horas depois de agentes municipais demolirem a casa de uma das lideranças do movimento de resistência às remoções na Vila Autódromo, a moradora Maria da Penha. Por anos, Penha cobrou de Paes a reurbanização do bairro para a manutenção de moradores no local. Foi retirada do bairro nesta manhã.
Segundo Paes, Penha poderá voltar à Vila Autódromo se quiser após a reurbanização. Ele disse que o plano municipal prevê a construção de 32 casas na área do bairro, asfaltamento de uma via e a construção de duas escolas no espaço --ambas serão montadas com peças da arena olímpica de handebol, que é temporária.
A reurbanização da Vila Autódromo deve ocorrer até o início dos Jogos Olímpicos. O projeto deve custar R$ 3 milhões. "Vamos conversar com moradores sobre a melhor forma de implantar isso o mais rápido possível. As obras duram uns dois ou três meses", disse Paes.
A Vila Autódromo virou uma espécie de símbolo dos prejuízos que a Olimpíada de 2016 pode trazer a cidadãos do Rio. Por causa dos Jogos, uma avenida ao lado do Parque Olímpico teve que ser alargada. Por isso e também levando em conta questões ambientais, moradores foram removidos de suas casas.
Quem saiu e quem não quer sair da Vila Autódromo
Segundo a prefeitura, 824 famílias viviam no bairro até o início da preparação do Rio para a Olimpíada. Desses, 275 tinham que sair por causa das obras olímpicas ou das questões ambientais. Somente sete dessas famílias ainda vivem na Vila.
As 549 famílias restantes não precisariam sair, segundo o município. Entretanto, 531 famílias preferiram sair em troca de indenização ou de um apartamento. "Essas pessoas fizeram um abaixo-assinado pedindo para sair do bairro", disse Paes.
Entre os que não aceitaram sair ou que não precisam deixar o local, restam 25 famílias. Todas ainda vivem na Vila Autódromo. Todos poderão ficar no bairro, segundo o prefeito.
Resistência vê remoções desnecessárias
Quem é contra às remoções na Vila Autódromo sempre alegou que as demolições de casas não eram necessárias. Em 2014, os próprios moradores do bairro fizeram um planos de reurbanização da área e apontaram, juntos com estudos de arquitetos e urbanistas, que era possível realizar obras no local mantendo a maioria das moradias em seu lugar.
Penha mesmo, por diversas vezes, ratificou essa possibilidade. Após a demolição de sua casa, ela disse que a prefeitura apresentou a proposta de reurbanização a ela. Ela, porém, não sentiu-se segura em aceitar um acordo. Teve sua casa derrubada por ordem judicial.
Penha será homenageada nesta terça pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. Receberá o título de cidadã honorária fluminense, no Dia Internacional da Mulher.
"Ninguém aqui tem prazer em demolir casas", comentou Paes, ao saber da homenagem. "Infelizmente, como prefeito, há decisões que eu tenho que tomar."
